⁰¹⁹ 『Sentirei sua falta part2』

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Jess

9 meses depois, uma semana antes da polêmica de Bill ser postada.

Saio da faculdade com Fanny acompanhando meus passos. Carrego uma pilha de livros até o meu carro e os coloco no banco de trás. Fanny está ao meu lado, falando como foi a aula sobre didática. Olho para a ruiva que continua tagarelando. Seus olhos verdes estão brilhantes e fico feliz ao vê-los assim.

Fanny é minha única amiga da faculdade e a única fora da faculdade. Não sei se é por gratidão ou se ela realmente gosta de mim. Nos conhecemos quando a encontrei chorando no banheiro da faculdade. Quando vi um hematoma no braço e uma vermelhidão no rosto, soube naquele momento pelo que ela estava passando.

A ajudei a abrir a jaula na qual foi presa e acompanhei o processo de cura de suas asas. Agora, aqui está ela. Feliz e longe das garras abusivas do ex-namorado. Um passarinho livre, assim como eu. Contudo, ao contrário dela, não tenho meu salvador por perto. Ainda sinto falta dele, mais do que posso suportar. Bill Kaulitz está bem longe, o que deveria ser algo reconfortante. Ele está seguro. Está bem...

- Terra chamando Jess - a voz de Fanny me desperta de meus devaneios - Você escutou o que eu disse?

- Ah... não, desculpe - digo, a olhando. Nem percebi que estamos dentro do carro.

- Eu perguntei se você gostaria de sair amanhã, já que você estará de folga.

Olho para ela e suspiro. É claro que eu gostaria, porém não será possível aceitar.

- Fanny... eu... - começo a dizer, tentando formular uma resposta negativa.

- Eu sei o que você vai dizer. Vai falar que é seu dia com Michael - ela fecha o cinto ao redor do corpo - Leva ele junto, então. Adoro o seu irmão.

Franzo o cenho para ela. Não seria uma má ideia. Raramente saio com Michael, seria bom para ele respirar o ar que não seja o mesmo no qual está acostumado. Aceito o pedido da ruiva e recebo um abraço em troca. A levo para casa e me dirijo até a minha. Quando chego, sou recebida por mamãe que segura Michael em seus braços. O garotinho sorri quando me vê e o pego no colo.

Michael dorme minutos depois. É raro encontrá-los acordados quando chego da faculdade. Papai me para quando saio do banheiro.

- Filha, um rapaz veio aqui hoje - ele diz, me entregando um papel. Sei que pode ser idiota, mas uma parte de mim torce para ser de Bill - Era um rapaz... hm... peculiar.

Franzo o cenho. Agradeço papai e me dirijo até o meu quarto. Desdobro o papel e o leio. Não reconheço a caligrafia e nem o nome que é assinado no final, mas o bilhete diz o seguinte:

Me encontre amanhã à tarde na praça de Silver Lake. Tenho algo do seu interesse em mãos. Algo que pertence a sua pessoa amada. O seu salvador.

CAMS.

Leio de novo e de novo. De repente, meu peito se enche de esperança. Algo que pertence a sua pessoa amada. O seu salvador.

Bill.

Só pode ser ele. Tem que ser ele. Fecho os olhos e me obrigo a dormir, e, quando durmo, sonho com o Kaulitz. Sonho com nosso beijo e com Hassan gritando por eu ter quebrado o nosso acordo. Vejo os terríveis olhos castanhos dele me encarando, com um fogo ardente crescendo neles. Acordo com um pulo. Suor escorre de meu resto e vou ao banheiro me lavar.

Passo a manhã inteira impaciente. Olho para o relógio, vendo as horas que faltam para eu sair com Fanny. Não percebo quando coloco a fralda de Michael virada e não percebo nem quando colo sal no suco. Meus pais me olham estranho e me perguntam se estou bem.

É claro que estou.

Não é?
Não é?

Depois do almoço, pego Michael e me despeço de meus pais. Busco Fanny e nos três vamos para o centro. Andamos e observamos as vintrenes das lojas. Tomamos sorvete e vamos ao shopping. Fanny pega Michael no colo e ele não chora.

Tudo passa mais devagar do que eu imaginava. Não que sair com Fanny seja chato, mas eu estava ansiosa por conta do bilhete. Quando deixo minha amiga em sua casa, vou com Michael até a praça. Los Angeles é barulhenta, mas mesmo assim, o pequeno McLean dorme em meu colo enquanto espero em um banco. Ouço sua respiração calma e fecho os olhos. Beijo sua testa a tempo de escutar meu nome ser chamado.

Me viro, com meu coração acelerado. Contudo, quando vejo quem é, desejo correr. Hassan. Todo o ar de meu peito é sugado e começo a tremer. Seguro Michael com mais força, como se ele pudesse o tirar se mim. Ele não mudou nadinha. Se aproxima com um sorriso no rosto, enquanto eu estou paralisada nesse banco. Senta ao meu lado e, durante alguns segundos, não diz nada.

Ele sabe que sua simples presença já me assusta o suficiente, não precisa dizer nada. Engulo em seco, sentindo todo meu corpo gritar. Quero sair daqui, quero sair daqui.

- Descobri nos últimos meses que você me enganou - ele diz, com uma calma que me faz estremecer - E que não me contou coisas que eu deveria saber.

Seu olhar se demora em Michael e o aperto mais.

- O que... o que você quer? - pergunto, minha voz falhando.

- Você não cumpriu com sua parte do acordo então, terei que voltar às consequências graves para o seu salvador - ele diz a última palavra com nojo. Sinto nojo é dele.

- Você não pode fazer isso - digo, rangendo os dentes.

- É claro que posso.

Suas mãos alcançam o rosto de Michael sem que eu perceba. Ele passa os dedos pelo nariz e bochecha, voltando o olhar para mim.

- Igualzinho ao pai - ele sorri. Um sorriso que revira o meu estômago - É o seguinte. Você irá me passar o seu número e mandarei algumas fotos a você. Algo que pertencia ao seu amado. Você irá publicá-las se quiser sua família viva. E o seu filho com você.

Lágrimas escorrem de meus olhos. Não sinto nada. Não sinto nada além do medo que percorre em minhas veias. Michael acorda e deixo que Hassan o pegue no colo. O garotinho o olha com curiosidade e, quando reparo, ambos tem a mesma feição.

Igualzinho ao pai.




𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora