⁰²¹ 『Justiça』

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Jess

- O que você está fazendo aqui? - pergunto, vendo Bill a minha frente, tão supreso quanto eu.

Há uma espécie de bigode falso abaixo do seu nariz. O cabelo preto está bagunçado e os olhos não estão com o esfumado preto habitual. Se eu não tivesse prestado atenção em seu rosto, não saberia que era ele. As roupas largas, provavelmente pegas emprestadas de Tom, lhe dão um ar totalmente diferente.

Não posso deixar de sentir meu coração acelerar, não só por reencontrá-lo mas por vários motivos. Um, estou atrás de Hassan, com a polícia no telefone. Dois, estou com medo de que meu plano não de certo. Três, com Bill aqui, temo que as coisas piorem. Quatro, mandei minha família para outro lugar, com medo de que a usem para me afetar. Enfim, muitas coisas ruins podem acontecer com o que estou prestes a fazer hoje.

Depois que Bill saiu do meu carro, após eu mostrar que foi eu quem publicou a polêmica, me senti terrível. Meu peito ardeu de uma forma que nunca antes aconteceu. Era raiva. Raiva de Hassan por sempre estragar a minha vida. Tentei várias vezes sair de suas amarras, mas ele sempre arranja um jeito de me laçar. Eu o odeio, tanto, que seria capaz de matá-lo.

Durante os nove meses em que eu estava livre de suas garras, me tornei uma pessoa nova. Mãe, trabalhadora e estudante. Trouxe Fanny comigo, minha melhor amiga, o que tornou a adaptação em Los Angeles melhor. E, então, Hassan achou um jeito de me encontrar. Veio para atormentar minha vida, estilhaçar meu coração já rachado. Agora, aqui, na minha frente, está a pessoa que juntou algumas peças do meu coração, não se preocupando em cortar as mãos.

- A mesma coisa que você, creio eu - ele diz, a voz suave consumida pelos meus ouvidos - Você está atrás de Hassan, não está?

Cerro os dentes. Bill sempre aparece nos lugares em que não se é recomendado.

- Vá embora - minha voz treme. O Kaulitz não devia estar aqui - É perigo demais.

- Então ele está aqui? - Bill olha ao redor, os olhos percorrendo pelo local - Deixe-me te ajudar.

- Não, Bill - digo, da forma mais autoritária que consigo - É perigoso demais. Você tem que ir.

- Você sabe que não vou - seus olhos encontram os meus e meu corpo todo se acalma, pelo menos um pouco- Eu sei quem é o real vilão da história. Você é apenas a vítima.

Suspiro. Eu preciso fazer isso sozinha, e, mesmo que eu seja a vítima, não quero levar mais pessoas para entrar no mesmo barco que eu. Então, preciso fazer isso com apenas eu de testemunha.

- Escuta Bill. O que eu estou prestes a fazer é extremamente arriscado. Hassan não vai me matar, não de imediato. Mas se ele ver você, se reconhecesse você, seria seu fim.

Noto um músculo se contrair em seu rosto, porém foi apenas isso que consegui com minhas palavras. Ele não se move.

- Jess, eu sei disso - ele segura minhas mãos, por mais que eu tente me desvencilhar - Mas também quero fazer justiça. Hassan machucou quem eu amo. A fez sofrer de várias formas possíveis. Não vou deixar barato, farei o que for preciso para vê-lo atrás das grades novamente.

Engulo em seco. Ouvir essas palavras de Bill é como nadar em flores. Aperto suas mãos, me recuando a olhar em seus olhos. Foi por minha causa que a carreira dele desmoronou... isso pesa em mim todos os dias.

- Como você é capaz de me amar depois de tudo o que fiz? - digo, as lágrimas se formando. A música abafando minhas palavras.

- Porque meu coração ameaça rasgar meu peito se eu não estiver com você - ele diz. É a gota d'água.

Me lanço em seus braços. O abraço como se fosse a última vez, porque, dessa vez, talvez realmente seja. Sinto suas mãos em minhas costas, me puxando para mais perto. Lágrimas que não consigo controlar jorram de meus olhos. Meu corpo estremece quando me afasto, querendo permanecer ali, para sempre.

- Eu te amo - digo, com meu rosto enterrado em seu peito. Ouço as batidas descontroladas e sorrio - Eu te amo e imploro, por favor, vá embora daqui.

- Jess...

- Se você me ama, me deixe ir - me afasto o suficiente para olhar em seus olhos - Eu preciso fazer isso sozinha. Você sabe.

Ele suspira. Sua mão direita sobe até o meu rosto, acariciando minha bochecha. Sinto seu polegar em meus lábios, antes de ele vir de encontro com os seus. Fecho os olhos e aprecio sua boca macia na minha. Por nove meses, ansiei por esse momento. Um beijo cheio de significado. Me afasto, com ele segurando minha mão.

- Volte Jess, por favor - Bill diz, quase que em um sussuro.

Assinto, não sabendo se realmente voltarei. Sinto seu olhar em mim, até me misturar em meio a multidão, indo até os fundos. Lá, há uma pequena porta envolta por uma toalha vermelha. Um homem me olha, parando em minha frente.

- O que deseja? - ele pergunta, me olhando de cima abaixo.

- Falar com seu chefe - digo, a voz firme.

Ele me encara por alguns segundos, até me deixar passar. Passo por salas onde há casais nas camas. Tento focar no caminho a minha frente, ignorando os sons que escuto. Passo por mais homens que abrem caminho para mim, sem ao menos perguntar quem sou. Hassan já sabe que estou aqui.

Desço algumas escadas até chegar em um outro bar. O bar dos comerciantes. Vejo grupos de pessoas trocando notas de dinheiro por sacos de entorpecentes. Faço uma careta. Ouço meu nome ser chamado do outro lado da sala. Lá, vejo Hassan em um sofá, com várias mulheres ao redor.

- Jess, meu amor - ele sorri, com aquele dente de ouro terrível. Pelo sotaque, sei que está bêbado - O que devo ao prazer de sua visita?

- Quero falar com você, a sós - digo, cerrando os punhos.

- Oh, tudo bem, tudo bem - Hassan se levanta, empurrando as mulheres do caminho - Me siga.

O observo me levar até uma sala isolada. Não há ninguém lá, o que para mim é um alívio. Ele se joga em outro sofá e me olha com intensidade. Tenho vontade de vomitar.

- Venha, junte-se a mim - Hassan faz sinal para que eu sente ao seu lado. Cuspo em seus pés - Ow, ainda está bravinha com o que fiz com seu salvador?

- Cala a boca - ordeno, tirando uma arma de meu bolso. Aponto para ele, a mão tremendo mas com a mira firme - Quero que você suma desse país.

- Amor, calma...

- Calma é o caralho! - grito, e noto sua expressão mudando. A expressão que me fazia estremecer - Vou excluir aquela publicação e irei explicar o que de fato aconteceu. Quero que prometa me deixar em paz, assim não irei denunciar esse local para a polícia.

- Chantagem, é? - ele se levanta, vindo em minah direção - Seu ódio por mim deve ser enorme, não é?

Ele chega mais perto e planto meus pés no chão, para não recuar. Hassan posiciona o peito na frente da arma.

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora