⁰²⁶『Destino』

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Bill.

Observo Jess se remexer no banco. James acabou de pronunciar o último discurso e estamos todos ansiosos para o veredito. Os Jurados se levantam e vão em direção ao que acho ser a sala onde irão discutir sobre o caso. O Juiz nos deixa livres por um momento. Algumas pessoas se levantam para ir ao banheiro, mas permaneço no meu lugar. Vejo a McLean se levantar e ir em direção ao pequeno Michel. Ela força um sorriso para ele, como se não estivesse carregando um peso enorme nas costas.

Como se não tivesse a possibilidade de ficar anos sem voltar para a casa.

Olho para trás, bem ao fundo estão os garotos. Eles sorriem para mim e Tom faz um positivo. Tento sorrir e respiro fundo. Não é apenas Jess que carrega um peso insuportável nas costas... eu também. Amanhã, a segunda temporada da nossa turnê começa. E, com isso, terei que me despedir da minha garota. A garota que amei e que ainda amo. Por isso, torço com todas as minhas forças para que Jess seja absolvida.

O Juiz bate o martelo na mesa e todos retornam para os devidos lugares. O Júri retorna, com os rostos inexpressiveis, sem deixar transparecer nenhuma interpretação de possível resposta. Engulo em seco e começo a bater o pé de nervosismo. Uma folha é entregue ao Juiz e ele pigarreia, olha para todos nós e então, começa a ler.

- Diante do caso do assassinato de Hassan Braga pela ex-companheira, Jessica McLean, - o Juiz começa e ninguém ousa fazer o menor dos barulhos. Eu, nem respiro - o Júri decidiu que, de acordo com a lei Maria de Penha, declaramos o réu absolvido. Deverá prestar serviços comunitários por dois meses para receber um auxílio maternidade e moradia.

Pisco várias vezes. Réu absolvido.

Réu absolvido!

Jess está livre! Jess poderá votar para casa! Noto suas costas estremecerem e sei que começa a chorar. Seus pais se levantam e vão em sua direção. Michel agarra seu pescoço e fica ali, no colo da mãe. Observo James susurrar alguma coisa para a McLean e se levantar. Ele me vê e sorri, fazendo uma breve reverencia. As testemunhas parabenizam Jess pela absolvição e se retiram. Quando percebo, só resta eu, ela, e o seus pais.

Penso em parabenizá-la também, mas me contenho. Amanhã, de qualquer forma, terei que ir embora. Será doloroso demais, então procurarei ficar grato pela felicidade dela. Me levanto e encontro os garotos me esperando. Sorrio para eles, dessa vez, um sorriso real. Estou tão feliz que meu coração chega a doer. Quando voltamos ao hotel e deito em minha cama, me desato a chorar.

『』

Acordo com um barulho estranho. Olho para o despertador e nem são duas da madrugada ainda. Me levanto, vestindo uma camiseta qualquer. Vou até a sala, de onde o barulho está vindo. Percebo então, que são pequenas batidas na porta. Prendo a respiração. Começo a recuar, porém minha curiosidade é maior e espio pelo olho da porta. Um grito escapa de minha boca e a tapo com as mãos assim que o som se propaga. É alguém com capuz. Um ladrão, penso. Começo a recuar novamente, indo em direção ao telefone quando ouço uma doce voz.

- Bill? - meu corpo todo relaxa. É ela. É Jess - Bill, é você?

Abro a porta de imediato, fazendo-a levar um susto. Nos encaramos por um momento, antes de ela se jogar em minha direção, abraçando-me. Sinto seu perfume e o calor de seu corpo. Fecho os olhos e por um momento, quase esqueço que amanhã partirei. Sinto seu coração batendo contra o meu peito e me xingo por ter aberto a porta. A despedida será ainda pior.

- Obrigada - ela susurra, a voz chorosa - Muito obrigada, Bill. Eu te devo o mundo.

Sorrio, com lágrimas se formando em meus olhos. A aperto ainda mais contra o meu peito, querendo ficar assim para sempre.

- Você é o meu mundo - me permito dizer, pois é a verdade - E faria de tudo para te salvar quantas vezes fossem necessárias.

Ela se afasta, olhando em meus olhos. É então que percebo a cor de seu cabelo. Antes, era loiro e agora vejo que voltou a cor original. Castanho escuro. Não consigo conter minha perplexidade. Abaixo o capuz e toco em seus mechas, sentindo a maciez delas. Lembranças de nove meses atrás perpassam pela minha mente. Apesar de Jess ficar linda com cabelo claro, é ainda mais linda morena.

- Gostou? - ela pergunta, vendo que estou fitando seu cabelo - Pintei hoje assim que sai do tribunal. Aliás, te procurei, mas me disseram que você tinha ido embora...

Vejo seu olhar baixar para as próprias mãos. Uma certa tristeza toma conta do local.

- Você vai ir embora amanhã, não é? - assim que a McLean levanta o olhar, percebo que algumas lágrimas descem de seus olhos castanhos.

- Como sabe disso?

- Seu irmão me contou por mensagem - Tom, por que? - Disse ainda que você estava muito deprimido. Então decidi vir até aqui e te agradecer por ter me ajudado. Sem você eu não teria conseguido chegar até aqui. Talvez nem viva eu estaria.

- Não diga isso - seguro suas mãos e as aperto com força. Pensar nisso me deixa muito deprimido.

- Mas é verdade. Naquela noite, em que você me encontrou, era isso que eu teria feito se você não tivesse me encontrado - noto como tenta afastar todas as lembranças, balançando a cabeça para lá e para cá.

Não consigo acreditar nisso. Foi pura coincidência ou... destino?

- Algo me disse para te ajudar, naquele dia. Alguma coisa em meu interior sabia que você seria alguém muito importante para mim e que eu deveria garantir a sua segurança. Não hesitei e faria tudo de novo para te ajudar. Mas não foi apenas eu que tive um papel importante nessa história, você também. Foi você quem aguentou até o último momento sem fraquejar. Foi você. Eu apenas dei um empurrãozinho. O resto foi você quem fez. Foi você que garantiu sua própria liberdade.

Jess solta uma risada, como se não acreditasse em minhas palavras. Mas, mais uma vez, o que eu disse foi apenas a verdade. A McLean aperta minhas mãos com a mesma intensidade que as minhas. Se aproxima de mim e encosta a cabeça em meu peito. Sinto todo meu corpo estremecer.

- Eu menti quando disse que nunca havia te amado - sua voz sai fraca, quase um susurro - A verdade é que eu te amei a cada segundo, mesmo durante os nove meses que não nos vimos, meu coração pertencia a uma só pessoa: - sua cabeça se afasta e ela me olha, exalando sinceridade - Você. Eu te amei e ainda te amo, Bill Kaulitz.

Sinto meu coração errar as batidas.



𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora