⁰⁰⁵ 『Uma família』

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Bill

Fico confuso. Quem é Michael? Procuro em minha mente alguma relação com esse nome, mas nada encontro.

- Ah é - Jess dá uma risada nervosa, passando a mão pela nuca - Você não sabe. Ele é meu irmão.

- Irmão?! - meus olhos se arregalam. Fico surpreso por tanta coisa ter acontecido em tão pouco tempo. Várias perguntas brotam em minha mente e fico me questionando se... não. Será? Ela não disse nada sobre isso, então pode ser que... Eu devo perguntar? - Jess, você tem muita coisa para me contar e eu também. Me passa seu número que iremos marcar um dia para sair.

- Eu... eu não tenho mais celular - a garota comprime os lábios - E acho que não seria uma boa nós sairmos em público.

Noto que McLean fica tensa. Sei no que está pensando. Chego a um conclusão sem ela responder a pergunta que mais quero fazer. Não é só porque podem me reconhecer novamente que ela está preocupada... outra coisa a incomoda.

- Então... - continuo, pensativo - O que acha de eu aparecer aqui sábado e ir com você para a sua casa? Quero conhecer o seu irmão. E seus pais também, já que nunca os vi.

- Hã... acho que...

- Tá legal - respondo antes que ela negue - Sábado vou aparecer aqui. Até que horas você fica?

- Cinco horas. Mas Bill...

- Ok. Sábado às cinco horas da manhã estarei aqui - digo, andando até o meu carro. Sei que posso estar sendo cruel com ela por interrompê-la, porém sei o que vai dizer. Não quero um não como resposta - Até!

Entro no carro rapidamente. Tiro todos os assessórios que em mim foram colocados como disfarce. Não sei como Jess não riu ao me ver com essa roupa. Giro a chave do carro mas antes, dou uma breve olhada na garota que ainda me encara perplexa dos fundos do bar. A observo soltando o ar e voltando ao trabalho. Suspiro. Meu coração dói.

Não a perguntei do porquê de ela ir embora sem avisar, nove meses atrás, do México. Não podia fazer aquela pergunta naquele momento. A deixaria desconfortável. Tento relembrar os últimos momentos que tivemos juntos  mas meu peito dói mais ainda. Todos eles foram expostos e transformados em um contexto totalmente diferente. Não imagino o porquê e quem expôs essas fotos, logo agora, noves meses após o incidente.

Quando chego no hotel são quase quatro e meia. Cuido para não fazer nenhum barulho sequer quando entro. Contudo, todo o esforço foi desnecessário assim que vejo Tom escorrado na porta do meu quarto. Seu olhar de repreendimento me faz suspirar.

- Ficou acordado até agora só para me dar sermão? - pergunto, tirando meu boné e jogando-o em um lugar qualquer.

- Pedi para a recepcionista me ligar quando você chegasse - ele levanta as sobrancelhas. E lá vem o sermão - Você ficou maluco? Nós dissemos para você ficar no hotel e você saiu sem avisar? Se expôs dessa forma tão fácil?

- Fui disfarçado - dou de ombros, apontando para o boné que a pouco joguei.

- Porra, que disfarce maravilhoso - meu irmão ri, negando com a cabeça logo após - Se fosse um disfarce mesmo, não teriam te reconhecido naquela bar e seu rosto não teria aparecido em várias lives.

Passo as mãos pelo rosto, tentando aliviar o cansaço que sinto. Faz dias que não durmo ao menos cinco horas. Ouvir Tom me deu uma vontade enorme de me enfiar debaixo das cobertas e nunca mais sair.

- Olha só - coloco minhas mãos em seus ombros, chacoalhando-o um pouco - Quer saber porque sai sem avisar? Simples. Eu estava cansado de vocês me tratarem como coitado. Sei que se preocupam comigo e sei que você se preocupa mais que todos. Mas eu estou bem.

Ao dizer isso, passo pela porta do meu quarto, esbarrando de leve em Tom. Ele semicerra os olhos quando fecho a porta, em sua cara. Solto um suspiro e me jogo na minha cama. Fecho os olhos com força, como se isso me ajudasse a esquecer o que a poucos minutos aconteceu.

Jess não mudou tanto assim. O que sinto por ela não mudou tanto assim. Mordo a língua. Não. Não posso me deixar levar por esses sentimentos. Temo que tenha sido por eles que ela foi embora. Não pensei nas consequências quando... Pego o celular. Abro a página onde está a notícia que destruiu minha vida.

As fotos. Fotos que não deveriam ter sido tiradas. Porém, consigo imaginar exatamente eu fazendo aquilo, de novo. Mas há uma parte onde desejaria não refazer.

A primeira foto é composta por mim, escorando uma garota contra a parede. A outra é a jovem me empurrando. Em seguida, há uma em que seguro seus braços. Me lembro que não segurei com tanta força assim como parece estar na foto. Tem o vídeo também. Dá a impressão que estamos brigando, mas nós não estávamos.

Essa garota, era a McLean.

E o vídeo mais polêmico. Não faz parte da primeira cena, são só só gritos. Gritos de quando encontrei Jess, mais uma vez, em estado deplorável. Eu estava a ajudando, não a assediando.

"Me larga!" Ela grita no primeiro clipe "Não vou" minha voz soa pela local em um eco, "Não até você fazer o que estou mandando"

Todas as cenas foram gravadas quando eu estava com Jessica. Invadiram nossa privacidade em um momento frágil. Só não entendo o porquê de adicionarem gravidez à notícia.

Há uma foto onde McLean segura um bebê no colo. Só isso. Apenas isso. Acho que é Michael, pelo jeito que é parecido com ela. Não faço ideia de quem foi o monstro que expôs essas fotos, mas espero que queime no inferno.

Fico trancado no meu quarto a manhã inteira. Meus amigos e meu irmão tentaram me tirar daqui, porém estou ocupado demais fingindo estar dormindo.

Me arrisco a sair quando minha barriga não aguenta mais de fome. É meio dia e aposto que todos já comeram. Quando chego na cozinha, encontro um prato com comida no centro de uma mesa. Sei que é para mim. Cerro meus punhos.

Não preciso virar a cabeça em direção aos passos para saber quem é. Georg, Gustav e Tom. O trio me encara com um olhar vazio, como se estivessem sofrendo também.

Me sinto um egoísta. Priorizei apenas o meu sofrimento, não os dos outro que, claramente, sofrem o mesmo que eu.

- Bill... - começa Gustav, mas o interrompo.

Meus braços envolvem os três. É um abraço meio desajeitado, mas com muito significado.

- Sinto muito por eu ter me distanciado quando o que mais preciso, é da presença de vocês - digo, sentindo meu peito arder - Eu não aguento mais toda essa situação... Não queria parecer fraco.

- Seja forte. Precisamos de você, Bill - susurra Gustav, dando tapinhas em minhas costas.

- Além de uma banda, somos uma família - completa Georg.

- Se você sofre, nós sofremos - Tom murmura - É inevitável, não adianta tentar evitar.

Assinto. Meu irmão tem razão. Não faz sentido eu me distanciar quando eles sofrem ainda mais por me verem distante.

Estamos no mesmo barco.

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora