⁰¹⁰ 『Canção』

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Jess

Meus joelhos tremem. Mal consigo me manter em pé por conta da dor e da embriaguez, imagina neste estado. Bêbada e com medo. Seguro o braço do garoto que me ajudou com força. Não consigo falar nada. Minha voz sumiu.

Hassan me analisa, com um sorriso forçado no rosto. Ele está bêbado, assim como eu. Contudo, me esqueci de que ele se torna mais... agressivo quando ingere bebidas alcoólicas. Tivemos uma briga comum. Até ele me bater. Saí do nosso quarto e me perdi pelos andares do hotel.

O efeito do álcool vai embora lentamente, me deixando ainda mais apavorada. Não quero voltar com ele... Não quero voltar com esse monstro.

- Jess? - ele diz meu nome com um calma ameaçadora.

Não ouso me mexer. Enquanto isso, vejo Hassan se aproximando com a mão estendida. Não vou pegá-la. Não vou. Não quero...

- Acho que... ela não quer ir com você - o garoto que me protege diz. Sinto um leve tremor em seu braço.

Hassan para, supreso por escutar o garoto dizer aquilo. Olho para este, mas vejo apenas o lado direito de seu rosto. Ele está com os olhos fixos em meu namorado.

- Jess - dessa vez sua voz não sai calma. Soa áspera e assustadora. Percebo que seus olhos percorrem local e o acompanho. Estremesso. Os amigos deles estão ali, nos encarando também - Venha - ordena ele.

Tenho vontade de gritar. A gangue de Hassan está aqui. São conhecidos por serem cruéis e frios, exatamente como meu namorado. Ele é o chefe. O líder. Pode mandar qualquer um deles atirar no garoto de cabelos negros que me protege e eu, seria entregue a ele novamente.

Os funcionários parecem não notar e acho bom que não notem. Seria mais gente em perigo.

- Escuta só - ouço mais uma vez o garoto a minha frente falar - Quem você acha que é para bater na sua namorada? Não tem o mínimo de vergonha na cara?

- Não - sorri Hassan, com aquele dente de ouro que detesto - Agora cala a boca e devolva o que é meu.

Tranco a respiração. Pela visão periférica, noto os capangas de meu namorado se levantando, como se não quisessem nada, mas sei o que querem. Alguns funcionários percebem o tumulto mas são distraídos por alguns amigos de Hassan. Fechos os olhos.

Não há outra saída. Já ouvi sobre matanças que Hassan orquestrou... tenho medo de que uma ocorra aqui. Solto o braço do garoto que seguro. Ele me olha estranho, supreso.

- Obrigada - susurro, sem olhar em seus olhos.

Passo por ele, de cabeça erguida. Então, sinto sua mão se fechar ao redor de meu braço, me puxando. Olho para o seu rosto e tenho a impressão de já o conhecer, mas ninguém me vem a mente no momento. Seus olhos estão me analisando. Talvez ele me ache louca e talvez eu seja.

- Tem certeza? - sua voz preenche meus ouvidos, deixando-me confortável o bastante para responder com calma.

- Sim - assinto - Quando a polícia vier, diga que foi um mal entendido, para o seu próprio bem. E para o meu também.

Ao dizer isso, puxo meu braço de sua mão. Ele fica ali, me encarando perplexo. Se acha mesmo que sou louca, ele não tem culpa. Não sabe do que Hassan é capaz e é melhor não saber.

Talvez eu tenha sido burra ao me apaixonar por um cara desses. No começo, eu não sabia que ele era o líder de uma gangue, apenas me deixei levar pelo seu charme. Fui persuadida a usar entorpecentes. Eu poderia ter dito não, poderia ter evitado me tornar uma viciada. Mas aqui estou eu, com Hassan, cheirando mais um de seus "brinquedinhos". Não consigo parar. Já é tarde demais. Hassan acaricia minhas pernas como se não tivesse acabado de me dar um tapa na cara.

Peço licença e vou até o banheiro. Abro a tampa do vaso e vomito. Choro e vomito. Como fui parar nesse estado? Essas drogas estão me matando... Hassan está me matando. Porém, eu gosto de ambos e não sei como me afastar de nenhum dos dois.

Fico pensando nos olhos castanhos do garoto que me ajudou. Pego o celular que está em meu bolso. Pesquiso. Sim, é ele. Sabia que esse hotel abrigava pessoas famosas.

Bill Kaulitz.

Esse é o nome dele. Vejo algumas fotos então me deixo apreciá-lo. Ele não estava com maquiagem quando o vi. Seu cabelo é um tanto... peculiar. Me lembra meu pai. Sento no vaso e apoio a cabeça em minhas mãos.

Se eu estivesse morando com meus pais não estaria assim. Meu estômago está rejeitando tudo o que estou comendo nos últimos dias. Não sei o que faço. Cheiro a álcool e o pó. Arranco todas as roupas de meu corpo e entro no chuveiro. Deixo a água ferver, cobrindo meu corpo como uma coberta quente. Ignoro a sensação de queimação.

Minhas lágrimas se misturam com a água do chuveiro. Esfrego meu corpo até todos os meus membros arderem. Me sinto ainda mais suja do que antes de entrar no chuveiro, quando vou até Hassan. Ele me toca e me beija. Recebo todos como se fosse uma cachorrinha obediente. Sinto mais uma vez, vontade de vomitar.

Quando ele sai com os amigos escolho ficar aqui, sozinha. Vou até a varanda e ascendo um cigarro. Sinto a brisa lamber meus cabelos. Olho para baixo e observo as pessoas que lá andam. Todas com sua própria vida e com seus próprios objetivos. Mas eu não tenho.

Sou obrigada a viver com um traficante pois eu fui burra demais por me apaixonar por ele. Já tentei fugir disso, fugir dele. Porém, é impossível. Hassan tem o poder de fazer o que quiser com seus capangas. Se disser para eles me darem um tiro na cabeça, dariam. Se disser para procurarem minha família e os torturarem, torturariam. É por isso que penso ser impossível me afastar dele.

Com as drogas é a mesma coisa. Me sinto dependente delas, graças ao vício que Hassan plantou em mim e graças a minha burrisse por ter aceitado. Fico com raiva e nojo de Jessica McLean por não pensar direito. Continuo olhando para baixo até um pensamento terrível percorrer pela minha mente.

Pego mais um cigarro. Me xingo por pensar nisso. Não posso simplesmente me matar por ter medo dessa vida. Meus pais sentiriam a perda de uma forma significativa. Significaria que sou fraca, medrosa.

Começo a chorar com as lembranças da vida feliz que eu tinha antes. Começo a chorar com as lembranças de meus pais sorrindo e acenando para mim quando fui embora.

Meu coração já partido se estilhaça em mais pedaços. Me ajoelho e seguro minha cabeça com as mãos. Não sei o que faço, não sei. Estou perdida, sozinha. Preciso de ajuda para suportar tudo isso...

Então, ouço uma canção.

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora