⁰¹⁷ 『Pelo amor』

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Bill

Quando chego no armazém, encontro o caminho livre. No começo, acho estranho. Tenho medo de ser uma armadilha, porém não me importo. Quanto mais tempo Jess permanecer ali, mais tempo Hassan usará para atormentá-la. Saio do meu carro e visto meu capuz. Movo meus olhos para todos os lados, atento a qualquer sinal de minhas suspeitas.

Não ouso entrar, seria arriscado demais. Um caminho direto para o perigo. Penso no que fazer. Dou a volta pelo prédio abandonado, notando algumas escadas no fundo. Não sei em qual andar Jess está, mas descobrirei a qualquer custo.

Começo a subir. A escada enferrujada range e tenho medo que alguém escute. Tento ser mais silencioso. Equilibrando meu peso com as mãos no corrimão. Observo o interior pelas janelas.

O armazém apresenta quatro andares. No último, noto uma luz ao fundo. A janela está quebrada então me apreço em passar por ela. O lugar é bem tenebroso. Até chegar perto da única luz que se vê, passo por móveis abandonados e chãos quebrados. Tento fazer o mínimo possível de barulho, até ouvir um.

Na área iluminada, ouço várias vozes. Me aproximo o suficiente para espiar por uma fresta na parede que encontro. Lá, vejo sete homens e quatro mulheres. Todos bebendo e fumando. E, bem ao fundo, com um sorriso forçado no rosto, está Jess. A risada que sai de sua boca não é a mesma que sou acostumado a ouvir. É sem vida, quase que sem nenhuma vontade. Seus olhos estão opacos e a aparência saudável já se esvaiu de sua face. A vermelhidão nos olhos confirma minhas suspeitas. Entorpecentes.

Ao seu lado, está Hassan. Ele envolve o braço ao redor da morena e a vejo se encolher. Mesmo não estando em seu melhor estado, ela ainda não se sente confortável com ele.

Penso em como tirá-la dali. Como chamarei sua atenção? Vejo Hassan se levantar e deixar o celular no sofá. Já sei. Pego meu aparelho e ligo para o número que antes havia feito o mesmo. A tela do celular se acende e o olhar de Jess cai nele.

Sua expressão muda. Seus olhos percorrem o local até cair em mim, observando-a pela fresta na parede. Vejo como tenta permanecer séria quando Hassan volta.

- Chefe, a pizza chegou - diz um dos capangas no qual não consigo ver o rosto - Quer que eu vá lá buscar?

- Não! - McLean se opõe. Fico surpreso com seu tom de voz e percebo que os outros também - Quer dizer... Eu posso ir buscar, se Hassan quiser.

Ela olha para o homem que a encara por alguns segundos até assentir. Assim que Jess se levanta, desço as escadas que antes subi, até o segundo andar. Abro a janela com cuidado e corro em meio a escuridão até onde McLean está descendo. Quando a vejo, corro em sua direção.

Envolvo meus braços ao redor da garota de forma protetora, como se pudessem a tirar de mim novamente. Sinto o cheiro de álcool mas não me importo. Finalmente consigo respirar normalmente, sabendo que estou com ela.

- Bill, você está me apertando demais - a ouço dizer e a solto em seguida. Sinto algo macio no bolso de seu casaco e de relance, vejo dois saquinhos plásticos com um conteúdo branco dentro.

- Você já pode jogar isso fora - digo, rindo - Não precisa se forçar a isso.

Mas então percebo que Jess não se move e não me olha nos olhos. Franzo o cenho e entendo. Ela não quer jogar fora.

- Bill... - sua voz sai fraca, quase que em um susurro - Meu corpo precisa disso.

- Não, não precisa - minhas mãos vão em direção ao seu casaco mas ela se afasta - Jess...

Seus olhos encontram os meus e vejo um horror estampado neles. Não sei se são dirigidos a mim ou não.

- Tem algo acontecendo comigo desde que parei de usar drogas - ela me olha, como se implorasse para que eu entendesse - Isso nunca tinha acontecido. Eu preciso delas.

Me recuso a levar em conta o que ela disse e estendo a mão. Não posso deixar que ela continue nesse estado. Ela não a vê como eu vejo.

- Me entregue, Jess - permaneço com meu pedido, com minha voz falhando.

Ela solta um suspiro. Esperava mesmo que eu a entendesse. Lágrimas se formam em seus olhos e ela começa a se afastar ainda mais.

- Não - ela diz, por fim.

Sinto a mesma sensação que me motivou a tirá-la das mãos de Hassan e que agora, me motivam a tirar o seu vício. Acompanho seu paço, com os olhos fixos nos seus. Se ela não quer parar por conta própria, terei que obrigá-la. Jess percebe minha intenção e começa a negar com a cabeça.

- Bill, por favor... - suas mãos vão até os bolsos, protegendo o conteúdo que lá está.

Vejo o desespero em seus olhos e quando estico meus braços em sua direção, ela me empurra. Sei que se arrepende de imediato, mas continua protegendo o que tem no casaco. Avanço mais uma vez, só que mais rápido. Seguro seus braços. Jess tenta se desvencilhar, mas não permito.

- Me solta! - ela grita. Faço uma careta. Ainda bem que a música alta do último andar fará com que eles não ouçam.

- Não vou - respondo, tentando permanecer calmo - Não até você fazer o que estou mandando.

Mais lágrimas jorram de seus olhos. Solto seus braços ao perceber para quem aquele olhar era dirigido. Hassan. Percebo que ao obrigá-la a fazer o que não queria, a deixei com medo. Não era minha intenção.

- Jess - tento uma última vez - Você não é você mesma com... isso - aponto para o pó do plástico em seu casaco - Não percebeu como estava mais feliz na última semana? Seus olhos estavam mais vivos e um brilho novo surgiu neles, não adianta negar. E, sobre você ficar mal, talvez seja porque seu corpo estava acostumando com a falta das drogas e voltando ao normal. Esse é meu último pedido e pararei de insistir. Por favor, Jess. Deixe seu brilho voltar. Faça isso por você e se não for possível, faça por mim. Pelo amor que sinto por você.

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora