⁰⁰⁶ 『Hassan』

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Jess

Já faz dois dias desde a última vez que o vi e já faz meia hora e ele ainda não está aqui. Estou do lado de fora do bar, o esperando. Eu já devia ter ido. Meu expediente acaba às cinco e preciso estar em outro trabalho antes das seis.

Suspiro. Já esperei o suficiente. Deve ter ocorrido um imprevisto ou algo assim... Contudo, mesmo pensando desta forma, não consigo conter a minha frustração. Olho mais a vez para os lados com atenção. Nenhum carro conhecido passa por ali.

Me levanto, decidida a ir embora. Vou até o meu carro e o ligo. Tento entender o lado de Bill, porém o xingo mentalmente por ter me deixado tão ansiosa e ter destruído todas as expectativas que eu sentia. Estou prestes a dar partida no carro quando uma batida na janela me faz dar um pulo.

Pisco várias vezes para saber se não é algum tipo alucinação. Abro o vidro, tendo a nítida visão de Bill ali, me encarando.

- Um... minuto - diz ele, levantando a mão em pausa para recuperar o fôlego perdido.

Olho ao redor mais uma vez. Não há nenhum carro que não seja dos clientes ou funcionários. Nenhum igual ao que Bill usou dias atrás.

- Você... veio andando? - arregalo os olhos, conforme digo.

- Correndo... mais especificamente - responde ele, com as mãos nos joelhos. Seu boné tapando a maior parte do seu rosto.

- D-do seu hotel!? - pergunto, me sentindo supresa a cada palavra que eu mesma digo.

- Sim... - ele concorda, escorando uma das mãos no carro e a outra no peito. Seus olhos nos meus enquanto ofega me deixam nervosa - Meu carro estragou e eu não podia andar de Audi por aí. O hotel não é tão... longe.

Fico boquiaberta. E pensar que ele percorreu todo esse caminho só para me ver... Bloqueio esses pensamentos. Não posso arriscar me apaixonar por ele. De novo.

- Então - continua, entrando no carro e notanto meu silêncio - Vamos para sua casa?

- Não vou para casa.

- O que? - o Kaulitz pergunta, confuso.

- Você não me deixou explicar ontem - lanço-lhe um olhar de peixe morto - Volto para casa só às seis da tarde para tomar banho e vou para a faculdade. Chego às onze da noite e fico de pé às três para trabalhar aqui no bar.

- É... sério? - ele parece supreso - Então você tem dois empregos?

- Três - corrijo, vendo seus olhos se arregalarem ainda mais - Duas horas no bar, sete horas em um restaurante e cinco horas em uma loja.

Seu queixo cai. Sabia que não estava esperando que eu dissesse isso. Todo mundo tem a mesma reação. Mas quando se tem pais doentes, um bebê, uma faculdade de medicina e contas da casa para pagar, três empregos são entremente necessários.

- Você dorme quantas horas? - suas sobrancelhas se arqueiam.

- Quatro - respondo, apertando minhas mãos no volante - Mas como não tenho aula hoje, posso dormir pelo menos... cinco horas. Quase nem converso com minha família, por isso disse que os fins de semana também não seriam bons para sair com você, pois estaria disponível para eles.

Bill assente. Raciocinando cada palavra dita por mim. Sei que são muitas coisas para absorver, mas essa é a minha realidade e por incrível que pareça, é mil vezes melhor do que a do passado. Estou seguindo meu sonho, mas também estou pagando caro por isso. Quase não vejo meus pais e Michael.

- Bom... eu não sabia disso - o Kaulitz suspira, jogando a cabeça para trás - Você pode me deixar no hotel? Não quero atrapalhá-la.

- Não - respondo. Se ele tivesse dito isso quando perguntou se poderíamos conversar, talvez eu teria concordado. Contudo os dias que se passaram me deixaram ansiosa por hoje. Raramente fico ansiosa com algo, então não deixarei essa oportunidade escapar - Você não disse que queria conhecer os meus pais? Então.

- Mas você não vai trabalhar antes de ir para casa? O que eu farei nesse meio tempo? - ele parece confuso e supreso com minha resposta.

- Me acompanhe - digo, dando de ombros - Finja estar tomando café enquanto lê um jornal ou estuda. Finja que está procurando roupas para sua mulher ou para seu irmão que está de aniversário.

- Por cinco horas? - Bill ri, achando graça.

- Se cansar, me espere no carro - dou de ombros, dando partida no carro.

Ele não nega e contenho um sorriso. Me sinto assim perto de Bill. Por mais que seja recomendado eu afastá-lo de mim, como já fiz, o que mais quero é aproximá-lo. Sua presença é reconfortante... acolhedora. É o meu refúgio.

Digo para mim mesma que só será uma conversa e que não nos falaremos mais. Não posso permitir que ele fique perto de mim e seja alvo de Hassan novamente. Tremo só de pensar nesse nome.

Me obrigo a prestar atenção na estrada e não no homem que destruiu minha vida. Mas quando olho para Bill com seu boné e os óculos escuros, meus pensamentos se voltam a ele novamente. Foi tudo culpa dele... A situação em que eu, ou melhor, nós nos encontramos, é culpa dele. Hassan Smith é um monstro.

- Jess - Bill me chama, despertando-me de minhas lembranças sombrias - Tudo bem?

- Ah, sim. Estou - minto, forçando um sorriso.

Pela resto do dia, evito pensar em Hassan. Não foi uma tarefa tão difícil, já que Bill me ajudou a pensar em coisas mais agradáveis. O observei sentado em uma mesa com um livro e uma caneta em mãos enquanto eu servia os outros clientes no restaurante. O observei procurando roupas durante cinco horas e não levando nenhuma. Foi hilário. Por isso senti falta dele.

Quando estamos no carro, Bill me conta o que aconteceu durante os nove meses em que ficamos longe um do outro. Assuntos relacionados a sua banda e um pouco sobre sua vida. Me surpreendo que mais coisas mudaram na minha vida do que na dele.

- E aí, como decidiu fazer medicina? - ele pergunta, quando estamos chegando perto da minha casa - Não, responde essa depois. Quero que me diga primeiro: Como você teve a audácia de pintar seu cabelo de loiro?

- Nossa - franzo o cenho, fingindo estar ofendida - Ficou tão ruim assim?

- Claro que não - ele diz. Pela visão periférica sei que está me imaginando com a cor antiga de meu cabelo - Mas adorava seu castanho natural.

Rio, mas não respondo sua pergunta. Nós dois sabemos porque eu mudei a cor de meu cabelo. Nós sabemos que foi por causa de Hassan.

Meu ex-namorado.

-

Desculpem o atraso :).

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora