¹³ 『Ajudando-a』

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Bill

- É aqui que você ficará temporariamente - digo, abrindo a porta de uma casinha na qual aluguei para Jess.

É pequena, mas aconchegante. Do lado direito, tem uma pequena cozinha com uma mesa no centro. Do lado oposto, há dois sofás grandes virados para a TV que está na parede. O banheiro é o único cômodo que é separado por paredes, o restante é tudo visível. O quarto fica no fundo. Uma cama de solteiro e um guarda roupa grande. Há uma escrivaninha perto da janela com alguns livros em cima.

- Você terá dois seguranças te vigiando vinte e quatro horas por dia - continuo - Então não se preocupe em ver dois carros estacionados todos os dias perto da sua casa.

Jess assente. Ela não disse nada. Na verdade, não falou nenhuma palavra desde que Hassan foi levado pelos policiais. Não sei bem como devo interpretar isso, mas ela não parece brava. Muito pelo contrário, parece apavorada.

- Você não precisa mais ter medo dele - tento reconfortá-la, colocando minhas mãos em seus ombros, ficando de frente para ela - Ele terá o que merece e você, vai ter a liberdade que merece.

Ela não levanta o olhar. Está com os olhos fixos no chão, pensativa. Solto os ombros da garota quando, de repente, os seus braços se envolvem ao redor de mim. Deixo escapar um barulho de supresa ao vê-la e senti-la me abraçando. A cabeça de Jess se recosta em meu peito, esfregando-a de leve. Sinto meu rosto queimar.

- Obrigada - ela diz, em um susurro - Muito obrigada.

Levo minhas mãos até as suas costas, dando pequenas batidinhas. Eu não esperava por isso, não sei como reagir.

- Peço que reforce sua segurança - Jess prossegue, se afastando de mim. Torço para que não perceba meu rosto corado.

- Tem certeza que é necessário? - pergunto, pensando em quantos capangas Hassan vai mandar atrás de nós.

- Mudar de lugar deve ajudar um pouco, mas só até eles descobrirem nossos paradeiros - a garota responde, levantando um cortina para espiar o lado de fora.

- Bom, fiquei sabendo que você contou para a polícia os nomes dos comparsas de Hassan. Se eles pegarem todos, não precisaremos nos preocupar - respondo.

- Mas até eles prenderem todos, acho melhor nos preocuparmos - Jess diz, séria, até seu semblante se transformar em uma expressão se arrependimento - Juro que devolverei cada centavo que você está gastando por mim.

- Não se preocupe. Considere isso um presente de um amigo.

Um leve sorriso paira em seu rosto e me sinto feliz por ter a ajudado. Não me importo em gastar dinheiro se for para ajudar alguém. Escuto meu nome ser chamado e me despeço de Jess. Passarei algumas vezes em sua casa para ver como ela está e checar se está tendo algum progresso em relação a aparência. Notei que seus olhos emitiam um brilho que antes não havia. Isso é um sinal bom.

Alguns dias se passam sem eu ver Jess pessoalmente. Recebo um relatório do que anda fazendo. Ela conseguiu um emprego. Isso é maravilhoso. Parece que ela está se encaixando perfeitamente com a vida sem aquele babaca do Hassan. Decido visitá-la. Abro meu guarda roupa mas nada parece bom para usar.

- Hmm - Gustav murmura da porta, me observando jogar várias roupas na cama - Vai a algum encontro e não nos contou?

- Não - respondo, suspirando - Só estou tentando achar uma roupa para visitar a...

- Jess - ele responde por mim, sorrindo maliciosamente - Sabe, você parece ter uma quedinha por ela.

- O que?! - minhas bochechas ardem - Não, claro que não. Ela é só uma amiga. Alguém que decidi ajudar.

- Sei... - o loiro semicerra os olhos, desconfiado - Mas acho que ninguém desmonta o próprio guarda roupa só para visitar uma amiga.

- Ah, sai fora Gustav - reclamo, jogando uma blusa em sua direção.

Não estou tendo nenhuma quedinha por Jess. Não. Claro que não. Com certeza não. Apenas estou sonhando com ela com uma frequência absurda. Claro que não contei para os garotos, pois com certeza não parariam de me atormentar. Desisto de tentar achar alguma roupa que me agrade e pego qualquer uma, nada muito chamativo.

Pego um carro simples da garagem e vou em direção a casa da garota. Chego e aceno para os seguranças que me encaram do outro lado da rua. Bato na porta. Demora alguns segundos para ela abrir, mas quando abre, meu corpo todo estremece.

Jess está ali, mas, não está do jeito que eu imaginava. Sua pele está mais pálida que o normal e seu olhar de peixe morto é preocupante demais. Sinto o cheiro forte de entorpecentes pelo cômodo. Apesar de ela perecer ter ganhado peso, não melhorou quase nada.

Eu esqueci desse lado. Esqueci que não podia ter esquecido. Alguém que é viciado e dependente de drogas, vai sempre voltar a elas. Jess parece perceber minha supresa. O sorriso que fez ao abrir a porta se desmancha. Olho além dela e vejo bebidas e cigarros espalhados pela sala. Não sei o que dizer.

- Acho que você está decepcionado comigo - ela sussurra, seguindo meu olhar - Mas não consigo parar.

Não respondo de imediato. Ela não tem culpa. Eu que esqueci desse detalhe. Preciso pensar em alguma coisa que faça esse hábito terrível acabar. Seguro as mãos da garota em um gesto rápido, percebendo seu sobressalto.

- Você tem que parar - imploro - Isso não é bom.

Seus olhos se desviam dos meus e ela arranca as mãos das minhas. Se vira e anda até o sofá, jogando-se nele. Sua cabeça se recosta nas mãos e ela nada diz.

- É difícil, eu sei - tento deixar o clima mais agradável - Mas você consegue.

- Quando você usa algo por mais de um ano, é difícil se desapegar - Jess diz, quase que em um lamento.

Suspiro. Ela tem razão, mas não é impossível. Pego um guardanapo da mesa e uma caneta, começo a escrever algumas receitas e um tipo de rotina para que ela siga.

- Tentarei vir todos os dias de agora em diante, para ter certeza que você está cumprindo com o que propus aqui - entrego o papel à jovem - Aliás, quero seu número também.

Ela parece surpresa ao ler o que escrevi no guardanapo. Porém, tudo aquilo é necessário. Minha consciência não descansará até Jess estar completamente bem.


𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora