⁰²⁵ 『No tribunal』

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Jess

Estou nervosa. Passei a noite no presídio, naquela cama dura e desconfortável, sem conseguir dormir. Agora, estou sendo levada por James até o tribunal. Sei qual será o meu veredito, não sairei impune por tirar uma vida. Tento não pensar em como a tensão irá me sufocar e, principalmente, no que presença da minha família poderá me causar. Me endireito no banco, tirando sujeira inexistente de minhas vestes.

Estou vestindo algumas roupas que mandaram buscar hoje de manhã. Uma blusa cinza e uma calça jeans azul. Uma bota preta e roupas íntimas. Nunca queira tomar banho em um presídio... É um pesadelo.

Tenho que me beliscar várias vezes para não dormir no banco do carro. É confortável, diferente de onde eu passei a noite. Mordo minha bochecha, como se a dor pudesse me manter acordada. Funciona por alguns minutos, mas quando estou quase apagando, James me sacode.

- Chegamos, Jess - ele diz, abrindo a porta para que eu saia.

Sinto um calafrio assim que paro de frente ao lugar que serei julgada. Obrigo meus pés a seguirem James. As portas se abrem e sinto um alívio por não ter chegado ninguém que conheço. Alguns júris já estão presentes e me olham inexpressiveis. Não sei se devo sorrir ou permanecer séria.

Sento no local onde irei ficar até o final. James me diz para não falar nada, apenas se me pedirem. Assinto. Fito o balcão do juiz o tempo todo. Um a um, as pessoas começam a chegar. Ouço vozes e murmúrios cada vez mais altos. Me recuso a olhar para trás, porque sei quem está lá. Não falei com meus pais desde ontem. Eu podia ter falar com eles, mas ainda temo o que irão pensar de mim. Me encolho no banco, sentindo muitos olhares em mim. Fecho os olhos e, quando abro. O juiz já está presente.
Alguns minutos de tensão se formam por todo o ambiente até ele falar:

- Bom dia, senhoras e senhores. Daremos início ao julgamento de Jessica McLeanz, acusada de assassinato, com alegação de violência doméstica envolvida - o homem grisalho começa. Sinto seus olhos em mim e mais uma vez, estremesso - Srta McLean, você afirma ter matado seu companheiro, Hassan Braga?

Olho para James que está ao meu lado. Ele assente. Fale apenas se te pedirem.

- Confirmo - digo, a voz falhando. Não por arrependimento, mas por nervosismo.

- O motivo de tal ato foi a agressão física e psicológica que a vítima lhe havia feito? - questiona-me novamente o Juiz.

- Sim - respondo.

O homem comprime os lábios e chama meu advogado. James se levanta. Fecho os olhos, pois sei que, mais uma vez, dependo dele. Após o comando do Juiz, Miranda começa a falar:

- Bom dia a todos - ele se vira para a multidão. O rosto sério. - O caso diante de vocês é bem simples. Homicídio por defesa. Minha cliente teve um relacionamento com a vítima por quatro anos. Hassan Braga, conhecido por ser chefe de uma gangue de traficantes. De acordo com minhas testemunhas, o Sr. Braga era uma pessoa bipolar. Sempre que bebia e ingeria entorpecentes, se tornava mais agressivo. Violentava minha cliente fisicamente e psicologicamente. Várias vezes, foi levada para fazer pontos ou comprar remédios para dor. Nunca fez boletim de ocorrência, pois sofria de chantagem emocional feita pela vítima.

Continuo com os olhos fechados, apertando-os com força. Ouço barulho de papel, e sei que James está mostrando as fotos das denúncias para os júris. Me sinto enjoada por relembrar de todos essas momentos.

- Chamo agora, uma testemunha - meu advogado continua - Gilbert Trumper. Ex comparsa da vítima.

Abro os olhos. Vejo um dos antigos capangas de Hassan se dirigirem até a banca ao lado do juiz. Não imaginei que ele viria, muito menos que o chamariam. Ah, Bill, você né surpreende demais.

- Diga, Gilbert, como era relação entre Hassan e Jess? - James pergunta, ainda se pé.

Gilbert está diferente. Faz muito tempo que não o vejo. Seu rosto está mais saudável e parece mais jovem. Penso no que os entorpecentes são capazes de fazer conosco... Ele começa a falar, relatando os momentos em que nos via juntos. Eu e Hassan. Diz sobre as vezes em que presenciou os ataques de Hassan contra mim. Fico tonta a cada segundo.

James também chama uma mulher que reconheço ser a dona da farmácia na qual eu ia no México. Ela fala sobre as vezes em que fui até lá e dizia que havia sofrido um acidente. Nunca os deixei tirar foto dos meus hematomas, mas as câmeras os flagraram mesmo assim.

A próxima testemunha é Bill. Ele sorri para mim assim que se senta na banca. Conta sobre o primeiro dia que me viu e como conseguiu prender Hassan, mesmo ele fugindo depois. Fala sobre a polêmica e a chantagem que Hassan fez para eu mesma ter publicado aquilo. Ele se levanta e meu pai toma o seu lugar. Seus olhos encontram os meus e vejo a dor. Espero que não esteja decepcionado.

- Quando Jessica resolveu ir morar com Hassan, eu e minha esposa desaprovamos a ideia de imediato. Ela era nova demais e tínhamos um mau pressentimento de Hassan. Mas, fomos incompetentes e a deixamos ir. Queríamos vê-la feliz, mesmo que isso significasse nos deixar. Porém, se eu soubesse o que ele faria com ela, não teria deixando-a ir - as palavras de meu pai são carregadas de compaixão. Então, percebo que não está decepcionado, apenas sofrendo com o meu sofrimento.

Me deixo olhar para trás, encontro mamãe com Michael no colo. Sorrio e aceno para ela. Os relatos chegam ao fim e James volta a falar para os júris.

- Pouco tempo depois que a Srta. McLean se mudou para Los Angeles, descobriu estar grávida de Hassan. Quatro meses depois de seu nascimento e o aparecimento repentino de Bill Kaulitz, Hassan voltou. Obrigou, mais uma vez, Jess a fazer o que ele queria. Ameaçou matar sua família e tirar seu filho dela. Recentemente, deve ter chegado a vocês, a notícia de que um dos chefes de polícia foi preso. Coincidentemente, ele é irmão da falecida vítima. Foi ele quem escondeu as denúncias feitas pelas farmacias e hospitais. De fato, a vítima morreu sem ter chance de se defender mas, se não fosse por ela mesmo e por um oficial da polícia, não estaríamos aqui para discutir sobre a morte de um deles.

Suspiro. James se senta. Agora, é hora do veredito.

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora