⁰³¹『Billy』

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Jess

Já passou alguns minutos desde que Bill foi embora e já estou morrendo de saudades. Ele nos convidou para almoçarmos com a banda e voltará para nos buscar perto do meio dia, então tento controlar a minha ansiedade. Estendo a roupa no varal enquanto Michael engatinha pela sala. Sorrio.

Não sinto esse alívio no coração desde que meus pais partiram. Desde a noite em que minha mãe fechou os olhos e nunca mais os abriu; desde a tarde em que tentei reanimar meu pai ao vê-lo imóvel em seu leito... Foi como um tiro no peito.

Estava indo tudo bem. Mamãe estava reagindo bem à quimioterapia, mas a última foi forte demais. Papai e eu estávamos esperando na recepção quando o médico nos deu a trágica notícia. Meu pai desabou antes de mim, e tive que tentar acalmá-lo, pois parecia que seu coração explodiria de angústia. E foi praticamente o que aconteceu alguns dias depois.

Os médicos dizem que a culpa não foi minha, mas sei que se eu estivesse em casa e não procurando um emprego, talvez conseguisse adiar o inevitável. Era como se seu coração tivesse realmente partido de tristeza. Fiquei semanas em tratamento psicológico, contudo não senti nenhuma melhora. Apenas parei de chorar toda vez que pensava em meus pais e consegui exibir sorrisos falos para Michael, porque sei que mesmo ele sendo uma criança, consegue ver em meu rosto o que sinto.

Meu filho foi a única fonte de onde pude tirar forças. Ele foi o motivo para levantar da cama e tirar a coberta do sofrimento. Graças às minhas tarefas como mãe e a falta de tempo, não fiquei apenas lamentando. Fui demitida em todos os meus empregos, mas arranjei um em um mercado perto de casa. Eles não viam problema em levar meu filho comigo, já que todos os amavam.

Fecho os olhos por um momento, sentindo uma brisa suave beijar o meu rosto no quintal. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo que acho quase impossível me surpreender com mais alguma. Abro os olhos e me viro para a casa. A casa onde meus pais e eu morávamos. Não sei se eles ficariam decepcionados comigo, mas a coloquei a venda. Todo lugar que toco, olho e ando, me lembram deles. Não que seja ruim, mas há um sentimento de tristeza em cada lembrança.

Vou até Michael e sento com ele. Ele me olha com seus olhos castanhos e sorri, com os dentinhos que estão nascendo. Sorte a minha ele não ter quase nenhum traço de Hassan em seu rosto, mas eu não o amaria menos se tivesse.
Ele tem dez meses e já consegue dizer algumas palavras.

- Mama - ele diz, esticando os braços e abrindo e fechando as mãos - Colo.

Pego-o em meus braços e o ataco com cócegas e beijos. Ele solta uma gargalhada maravilhosa e é impossível não fazer o mesmo.

『』

Não sei bem como eu deveria me vestir para ir almoçar no hotel dos garotos, mas coloco um vestido florido e uma jaqueta preta para combinar com as minhas botas. Dou banho em Michael e o visto com um macacão jeans e uma blusa de manga comprida. Quando a campainha toca, ajeito meus cabelos e a abro.

Bill sorri ao me ver. Ele vem em minha direção e beija minha bochecha. Não consigo esconder um sorriso ao sentir meu coração acelerado com tal gesto. Ele está vestindo uma de suas habituais blusas pretas apertadas assim como uma calça jeans do mesmo modo. Está lindo.

Seus olhos me analisam de cima a baixo e fico feliz por ter ficando quase uma hora procurando algo no guarda-roupa, porque o sorriso que ilumina seu resto demonstra que ele gostou.

- Você está linda - ele pega minhas mãos e me puxa tão rápido para si que fico supresa - E cheirosa.

Sinto seu hálito quente contra o meu pescoço e me controlo para não derreter. Sei que minhas bochechas estão vermelhas, porque Bill sorri ao ver minha reação assim que se afasta. Meu corpo todo queima.

- Então - limpo a garganta - vamos?

O Kaulitz assente e me espera pegar Michael e a bolsa maternidade. Ele ajuda a levar a cadeirinha e a ajeitar Michael no banco de trás do seu Audi. Já havia esquecido o quão atencioso Bill pode ser.

Coloco o cinto e noto que há alguns saquinhos pequenos jogados na lateral da porta do carro. Não consigo evitar minha frustração ao perceber o que são. Camisinhas. Usadas. Bill percebe meu desconforto e segue meu olhar. Ele ri.

- Não são minhas, não se preocupe - diz, a voz calma me deixando alivida - Tom pegou meu carro emprestado hoje de manhã.

Não posso deixar de rir. É claro que Bill não faria isso com outra pessoa se veio me visitar, e, se fizesse, não deixaria as coisas jogadas aleatoriamente pelo carro igual o irmão.

- Acho que Tom deveria ser mais higiênico - digo, fazendo uma careta.

Bill solta uma gargalhada e olha para mim como se camisinhas usadas pelo gêmeo e jogadas por aí não fossem nada demais. Tenho até medo de perguntar o que seria pior.

Chegamos no hotel após alguns minutos de conversas aleatórias. Bill me disse que contou os dias desde que partiu de Los Angeles seis meses atrás. Ou melhor, cento e oitenta e dois dias atrás. Achei fofo.

O Kaulitz abre a porta para mim e me espera tirar Michael da cadeirinha. Me surpreendo quando meu filho se inclina para Bill, e me surpreendo ainda mais quando ele aceita o colo do mesmo. Os olhos de Bill brilham e ele fica boquiaberto, intercalando o olhar entre mim e Michael, como se segurar um bebê fosse a coisa mais legal que já aconteceu com ele. Noto como seus braços estão desajeitados. Talvez realmente seja.

- Billy - a criança diz e agora eu que fico boquiaberta. Michael nunca disse o nome de ninguém... nem o meu.

Os olhos de Bill lacrimejam.

- Oi, sou em sim - o sorriso que ele trás em seu rosto faz meu coração se aquecer.

Eu realmente adoraria que Michael o chamasse de pai.

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora