⁰¹⁸ 『Sentirei falta』

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Jess

Por alguns segundos, tenho a sensação de voar. Ao ouvir as palavras de Bill, me senti leve, como se nenhuma preocupação me assolasse. Olho em seus olhos, procurando qualquer sinal de mentira. Não há. Definitivamente não há. Suas pupilas dilatadas e suas bochechas coradas dizem a verdade.

Mas então sinto chumbo nos pés. Um peso enorme me tira a sensação de levesa, me puxando para baixo. Para as profundezas. Para o sofrimento. Para a infelicidade. Penso que o causador daquilo não está muito longe.

Aperto as mãos e sinto os pacotes de cocaína nelas. Por mais que sejam leves, sinto o contrário. Esses são os chumbos que me puxam para baixo. Pego a sacola plástica com o conteúdo branco e jogo com força contra a parede. O saco se rasga e faz cair o pó como neve.

- Que se foda isso - digo, a voz falhando por conta das lágrimas que de meus olhos escorrem - Que se foda Hassan. Que se foda o mundo. Que se foda tudo. Só quero você.

Bill arqueia as sobrancelhas, surpreso. Não acredito que ele não sabia. Qualquer pessoa em sã consciência se apaixonaria por Bill Kaulitz. Mas, ouvir que ele sente o mesmo, isso sim é de se surpreender. Ando em sua direção, esquecendo qualquer coisa ruim que possa acontecer com aquela ação. Levo minhas mãos até sua nuca e o puxo para um beijo.

O Kaulitz parece mais uma vez surpreso, mas não se afasta. Suas mãos vão até minha cintura, me puxando para mais perto. Sinto sua língua na minha e o calor que ambos os corpos exalam. Uma sensação estranha se apossa de mim. Uma que há tempo não sentia. Uma que não sintia com Hassan.

Bill sobe uma de suas mãos gentilmente até os meus cabelos. Tudo isso é tão maravilhoso que mal consigo respirar. Me sinto quente e meus pensamentos se dispersam. O formigamento em meus membros aumenta e me encontro em êxtase. Isso é maravilhoso, isso é... terrível.

Me afasto, ofegante. O Kaulitz sorri, porém ao ver minha expressão, seu semblante se desmancha. Olho ao redor, procurando alguém. Sei que há, escondido nas sobras. Sinto uma presença ruim... Ele está aqui.

Eu esqueci.

Esqueci completamente.

Hassan disse à mim para quebrar o coração de Bill. Agora chegou a hora. Chegou o momento. Ele está assistindo. Em algum lugar está assistindo, esperando o clímax da história. Mas... o que eu digo? O Kaulitz me conhece e saberia que seria mentira.

- Jess, você está bem? - ele pergunta, a voz angelical penetrando meus ouvidos.

Durante vários anos, vivi como um marionete. Hassan fazia o que queria comigo e me mandava fazer coisas nas quais eu não queria. Eu fazia. Por burrice, eu fazia. Pensava que, se eu fizesse tudo, receberia sua aprovação. Eu o amava e só recebia migalhas. Em uma noite um jantar romântico e na outra socos e chutes por eu ter esquecido de fazer algo que ele me mandou.

Mas não vai ser mais assim.

Não vou ser mais sua marionete. Pego a mão de Bill e o arrasto comigo. Ignoro suas perguntas e continuo correndo. Ouço gritos e sei exatamente a quem pertencem.

- Seu carro, - digo para Bill, olhando ao redor - onde está?

- Ali - ele aponta e me apresso a ir até o automóvel.

Sinto meu coração batendo rápido, me deixando tonta.

- Mande uma mensagem para os garotos e diga para arrumarem as malas e se prepararem para sair desse país - me surpreendo com a firmeza de minha voz.

- Jess... o que está acontecendo? - Bill me pergunta, me com preocupação - Você está pálida e...

- Dirija. Apenas dirija - respondo, e me arrependo do tom que uso - Desculpe, mas te conto outra hora.

Ele assente e dá partida no carro. Quando chegamos no hotel, pego meu celular e o jogo no chão. Piso em cima até se estilhaçar todo. Acompanho Bill até o seu andar e me despeço. Seus olhos encontram os meus e sei no que está pensando.

Aonde vou?

- Fique aqui - ele susurra, segurando minhas mãos - Fique aqui e vamos juntos, para Itália.

É uma proposta tentadora. Viver ao lado de Bill Kaulitz. Seria um sonho, o primeiro que eu realizaria. Penso em como sou feliz e o quanto seria ao lado dele.

- Você... tem certeza? - ainda não consigo acreditar que ele me ama.

- Sim - ele tira uma das mechas rebeldes do meu cabelo do rosto - Mil vezes sim.

Quando entro e sou recebida pelos amigos e o irmão de Bill, imagino que tomei a decisão certa. Explico o motivo em que terão que viajar de imediato. Hassan, meu namorado maluco. Eles não me perguntam mais nada e fico aliviada. Ajudo Bill com as próprias malas. Sinto um dos meus habituais enjoos e vou até o banheiro. O Kaulitz segura meus cabelos e beija meu pescoço.

O único voo para a Itália é de madrugada, então aceito em dormir ali. Não me importo em deitar ao lado de Bill e de beijá-lo de uma forma mais intensa. Não me importaria em fazer amor com ele, mas percebo que seria cedo demais e óbvio demais.

Eu estava fazendo tudo aquilo porque seria a última vez.

Quando escuto a respiração do Kaulitz se acalmar, tiro seus braços ao redor de mim lentamente, querendo mesmo permanecer ali para sempre. Olho uma última vez para ele. O rosto sereno e um sorriso leve no rosto. Quando acordar, esse sorriso se desmanchará.
Vou até a sala, disposta a sair o mais rápido dali.

Minha escolha foi de recusar a proposta de Bill. Claro, seria ótimo viver com ele. Contudo devo considerar as consequências que gerariam. Hassan fez tudo o que fez por minha causa. Se eu me afastasse de Bill, ele iria achar que não precisava mais interferir.

Vou até o telefone de rua mais próximo e ligo para quem mais odeio.

- Fiz o que mandou - digo, assim que ele atende - Agora o deixe em paz.

- Achei que você não seguiria o nosso acordo, mas que bom - um arrepio percorre o meu corpo quando ouço a voz de Hassan - Agora, venha até mim...

Desligo. Coloco mais uma moeda e ligo para os meus pais. Peço para que paguem minha passagem para voltar a morrar com eles. Conto como Hassan é terrível, do jeito que eles achavam.

Minutos depois, me encontro no avião. Minutos depois, me encontro chorando. Pensando em Bill e no quanto sentirei sua falta...

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora