VI - O show

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Quando Bandit soube que nós havíamos ganhado cortesia para o show de Frank não me deixou em paz, me fazendo lembrar disso todos os dias da semana e me enchendo de mensagens sobre o assunto.

Aquele convite havia sido resultado de um encontro desastroso, onde eu senti um nível de constrangimento muito maior do que já estava acostumado. Nós passamos a maior parte do tempo olhando um para o outro e tentando manter a conversa da forma mais "normal" do mundo.

É claro que me considero culpado pela situação, afinal ele tentou, como pôde, agir de um jeito que parecesse cotidiano, mas eu não pude disfarçar o embaraço que me mantinha aprisionado e me impedia de agir como uma pessoa funcional.

Ele também parecia feliz de ter sido convidado para aquele trabalho e no fundo, bem no fundo, eu estava feliz por ele. Mas, no final das contas, não falamos muito e eu disse que minha equipe entraria em contato.

O momento da despedida também foi estranho e eu não sabia como agir. Ele tirou as cortesias do bolso e me entregou, antes que eu partisse.

- Esses são por minha conta, não tem nada a ver com o projeto - não havia sorriso no rosto dele, apenas uma expressão neutra, quase pesarosa.

Aquele olhar ficou preso na minha cabeça e eu repassava aquele gesto vez após vez, tentando imaginar o que se passava na cabeça dele, mas eu não tinha ideia.

Bandit só viria no final de semana dessa vez e é claro que gostaria de se divertir um pouco com as amigas, também se exibir, é óbvio. Quando eu notei minha casa já estava cheia de crianças. Na verdade eram apenas as duas melhores amigas dela, o que pra mim já é demais.

Uma delas é mais pálida do que papel, o que quer dizer que ela é mais pálida do que eu. Veste um visual típico de aborrecente obscuro e se chama Cassie. Já a outra é colorida demais e tem uns olhos meio loucos, como se estivesse observando tudo ao redor, um tanto assustadora, e se chama Saphira.

Minha filha anda com umas pessoas estranhas e eu fico me questionando qual era meu nível de esquisitice na idade dela, porque isso é quase intolerável.

Fiz de tudo para que ela desistisse da ideia de ir ao show de Frank Iero, mas ela não desistiu de maneira alguma.

- Pai! Eu quero mostrar pra elas que eu também conheço gente famosa. - pediu com um sorrisinho, enquanto tentava me convencer na cozinha.

Eu estava recostado na pia com uma xícara de café nas mãos, que já estava esfriando.

- Ele não é famoso - falei com certo desdém, mantendo meu olhar distante.

- Se você olhar no Spotify e na Apple Music...

- Eu conheço perfeitamente os números da banda dele, Bandit, é meu trabalho - reclamei um pouco ríspido demais, mas ela estava tirando minha paciência.

- Okay - ela disse em um tom desistente, cruzando os braços e me lançando um olhar triste, como aqueles cachorrinhos abandonados.

- Então vai lá brincar com suas amigas ou fazer, sei lá, o que os adolescentes fazem nos dias de hoje - respondi gesticulando com uma das mãos.

- Okay - ela repetiu de um jeito melancólico e eu bufei. Ela caminhou lentamente até a porta, como se estivesse muito triste e, certamente, eu seria feito de trouxa mais uma vez.

- Tá, porra! Nós vamos! - eu disse irritado e ela voltou, pulando no meu pescoço e comemorando. - Mas assim que acabar nós vamos embora.

- Obrigada, obrigada, obrigada! Você é o melhor pai do mundo. - ela repetia continuamente e eu me controlei para não derreter. Aquela garota sempre conseguia tudo que queria de mim.

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