XI - Os conselhos

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Como se transar com meu ex, tendo uma recaída humilhante, não fosse o bastante, eu tive que tornar isso uma coisa íntima, dormindo abraçado com ele depois e, para completar o combo, ser acordado com beijos no rosto, como se nós fôssemos alguma coisa.

- Eu vou precisar sair. Você pode me esperar aqui? - uma voz suave me tirou do meu sono profundo.

- O quê? - pergunto confuso, coçando os olhos para enxergar o rosto dele, que sorri. - Que horas são? Eu preciso trabalhar.

- Eu posso te encontrar então? Depois do seu trabalho?

As coisas estão rápidas demais agora e eu continuo confuso. Nós deveríamos estar agindo dessa forma? O que isso implica na minha vida atual?

Respiro impaciente, porque eu sinto que no momento em que começarmos a falar sobre os assuntos difíceis, tudo vai ficar uma merda e isso pode colocar meu trabalho em risco. Talvez todo esse teatrinho seja mais benéfico do que um embate.

- Frank, melhor não, eu nem devia estar aqui até agora.

- Qual o problema, G? Não tem nada de errado. - A intimidade na voz e na forma de se referir a mim chega, dando um chute na porta, e eu acho que estou perdendo o controle dos acontecimentos. Quando foi que eu tive controle de algo, afinal?

- A única coisa errada é que eu sempre dou um jeito de estragar tudo na minha vida e esse documentário não vai entrar pras estatísticas de coisas fodidas por Gerard Way - respondo com dureza, talvez mais hostil do que necessário, mas ele ainda está pisando em ovos comigo, então ele não responde da mesma forma.

- Não se preocupa, ok? Eu vou fazer o que eu puder pra dar certo.

- Ótimo - concluo e me sento no colchão macio, tentando desfazer o nó dos meus músculos.

- Então, como eu faço pra ver você? E nem me fala de trabalho - ele insiste. - Hm? Eu preciso mesmo sair correndo, tem uma sessão de fotos marcada pra daqui a - ele olha o relógio - três minutos e eu vou atrasar porque dormi demais e o nosso produtor vai comer meu rabo.

Ele pressiona mais e eu rolo os olhos. Mal acabei de acordar, nem sei o que estou fazendo ainda.

- Olha... A Bandit me convidou pra almoçar com vocês no final de semana, ela queria fazer uma surpresa e eu disse que não, que você ia ficar puto comigo. - Ele confessa, como se admitisse um crime e eu me pego impressionado.

- Essa garota é o diabo - digo bufando irritado, mas não posso evitar rir por um instante. - Tudo bem, você pode aceitar o convite dela. Eu finjo surpresa, porque definitivamente eu não vou cozinhar pra você.

- Fechado - ele diz mais empolgado do que eu esperava e tenta me beijar, mas eu faço questão de virar o rosto.

O que esse filho da puta pensa que tá fazendo?

Pego meu celular e mando uma mensagem para o número de Evan, pedindo para tomarmos café-da-manhã juntos na casa dele, que fica bem mais perto daqui do que a minha. Enquanto aguardo ansiosamente por uma resposta positiva, me visto de forma rápida, sentindo a frustração me corroer de novo, ao mesmo que desembolo cada peça jogada pelo quarto.

É claro que a Swanson e Oliver vão perceber se eu aparecer com as mesmas roupas de ontem - eu deveria bisbilhotar as malas de Frank e pegar algo emprestado? É o que se passa na minha mente, enquanto corro os olhos pelo quarto, mas desisto da ideia, acho mais fácil pedir ajuda para Evan.

Decido descer pelas escadas, com medo de acabar encontrando algum membro da equipe ou da banda no elevador, o que se mostra uma escolha acertada, porque, quando alcanço o saguão, posso avistar alguns deles. Aperto o passo para sair logo do campo de visão de qualquer conhecido e vou para o estacionamento pegar meu carro, apenas para ir embora rapidamente.

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