XIII - A droga

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Não resisti a fazer uma ligação para Evan, enquanto dirigia de volta para casa. Infelizmente eu era incapaz de esconder o sorriso em meu rosto e agir como uma pessoa normal, mas de que adianta ficar me punindo por isso agora?

Apesar dos pequenos momentos de tensão, nossa tarde juntos foi bastante agradável. O humor de Frank melhorou depois que seu Sub-Zero conseguiu destruir a Kitana de Evan com um fatality muito bem aplicado.

Em certo momento Evan precisou ir embora, porque iria visitar sua mãe. Ele havia sido criado por ela, juntamente com a avó. Os três costumavam ser muito próximos, até o falecimento de Freya, a avó. Agora ele se dedica bastante à sua mãe, sempre fazendo tudo por ela, o que eu acho fascinante e admirável.

Meu amigo não demorou muito a atender, já devia estar em casa naquele horário e parecia sonolento.

— Quem morreu? — foi a primeira coisa que ele perguntou, me fazendo rir.

— Ninguém morreu, bobinho — respondi de bom-humor.

— Então por que você tá me ligando em vez de estar com seu ex-namorado e atual ficante Premium?

— Na verdade eu tô dirigindo pra casa, acabei de deixar o anjinho no hotel...

— Mentira! Por que ele não dormiu na sua casa? – ele questionou como se fosse algo corriqueiro.

— Como assim, cara? Eu não ia fazer um convite desses, seria bizarro

— Não tem nada de bizarro. Eu tenho certeza de que você foi pra lá só porque queria transar em paz, não é verdade? – perguntou com um tom dissimulado, que fez meu rosto se contorcer em constrangimento.

— Nada a ver, ok? – foi tudo que respondi.

— Espero que ele não tenha renovado aquela marca vampiresca no seu pescocinho alvo.

— É óbvio que não, porra! ­ — tentei ser casual, mas meu rosto estava queimando. Por que é sempre tão difícil falar sobre essas coisas com Evan?

— Você é muito devagar, Gerard. Talvez ele esteja esperando mais atitude de você. Vocês não deram nem uns amassos?

— Então ele vai esperar deitado, porque se depender de mim não vai rolar nada antes que ele se explique — falei com certa rispidez. — Eu queria conversar com ele, mas sabia que não tinha tempo, porque a Bandit tá me esperando.

— Então...?

— Ah, é óbvio que ele me beijou assim que nós ficamos sozinhos. Talvez eu tenha chupado ele e ele tenha feito o mesmo por mim. Só isso. – mais uma vez tentei soar casual, mas é óbvio que não passei despercebido.

— Eu sabia! – ele praticamente gritou do outro lado, começando a rir de um jeito descontrolado. — Esse seu bichinho de estimação tem um fogo e tanto, agora eu sei porque você não consegue esquecer.

— Isso é bobagem, ok? – tentei mudar de assunto. — Faz séculos que eu não fico com ninguém, não quer dizer que ele seja especial. Só é mais... Digamos que "fácil", quando é alguém com quem você já tem experiência.

Meu coração disparou apenas em falar sobre o assunto, lembrando do cheiro de Frank e da forma com que ele me olhava. É impossível que ele não sinta algo por mim, o problema é descobrir se esse sentimento é algo além de desejo.

— Ok, ok, vai se enganando... – ouvi um suspiro do outro lado. — Então você me ligou por quê...?

— Queria saber como a sua mãe está, se você chegou bem, essas coisas. É algum pecado me preocupar com meus amigos?

— Não, senhor — ele respondeu com sarcasmo. — Mas é bem mais comum eu me preocupar com você do que o contrário. Essa sua cabecinha do vento tá sempre perdida por aí. – Evan explicou, fazendo com que eu me sentisse culpado.

— Falando assim parece que eu sou um babaca sem consideração.

— Nada disso, você é um amorzinho, que sofre demais por antecipação e se cobra demais. Só precisa relaxar mesmo. E quanto a minha mãe, o tratamento vai bem, ela disse que não é a porra de uma quimioterapia que vai ser capaz de derrubá-la. Eu fico insistindo pra ela vir morar comigo, mas a velha é teimosa. Espero que até o meio do ano eu consiga. É claro que ela falou sobre você e a Bandit, disse que vai fazer bolo pra nós quando vocês forem comigo.

— É claro que eu vou! – respondi imediatamente. — Se for possível durante essa semana. Depois disso vou entrar em um espiral com a gravação desse documentário. – O cansaço começou a voltar para minha mente, sabendo que vou acabar surtando até o final de todo esse processo.

— Ótimo, pode ser no próximo sábado?

— Perfeito! – concordei com toda minha animação e nós nos despedimos.

Não demorei a chegar em casa e encontrar Bandit imersa em sua atividade favorita: passar o tempo inteiro praticamente dentro do celular assistindo vídeos estúpidos. Obviamente eu sou contra o uso excessivo de telas, mas é sábado, então decidi ignorar e deixar que ela faça o que quiser.

— Gostou do seu dia? — foi o que me limitei a perguntar.

— Foi o melhor dia da minha vida! – ela mostrou todos os seus pequenos dentes em um sorriso bobinho e isso me deixou bem leve. — Seria mais perfeito ainda com a mamãe, mas eu já sei que é impossível. – Completou e eu dei de ombros, suspirando um pouco.

— Quem sabe a gente não alcance esse nível de evolução em breve? — disse com simplicidade e subi as escadas.

O mais estranho sobre estar feliz, é acabar esquecendo a dificuldade em resolver qualquer problema, como se a vida fosse a coisa mais simples do mundo, como se tudo fosse fácil.

Tomei um banho, para então sentar na pequena varanda do meu quarto e olhar para fora. Não consigo parar de pensar sobre tudo que aconteceu durante o dia e o cigarro balança entre meus dedos. É surreal imaginar que nós dois estejamos tão próximos. Não consigo parar de sentir os lábios dele nos meus e o jeito que isso faz com que meu peito formigue é assustador.

Agora nós trocamos mensagens e ele compartilha coisas que acha engraçadas comigo. Ele me envia fotos de guitarras que quer comprar e links de músicas que descobriu. Nesse momento ele me envia a foto de seu jantar, com um emoji de vômito ao lado, me fazendo rir.

Eu não deveria estar apostando minhas fichas nisso, mas é a sensação que você tem depois de usar uma alta dosagem de sua droga favorita é o que não me deixa desistir. Seu corpo relaxa e se excita ao mesmo tempo, sua cabeça fica nas nuvens — é impossível controlar. Por um momento decidi acreditar que deveria dar uma chance ao destino e que, se der errado depois, pelo menos eu vou ter aproveitado o que está acontecendo agora.

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amanhã tem mais! bjs ;*

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