Há momentos em que tenho a sensação de que o mundo inteiro está com uma lupa sobre mim. Hoje em dia entendo que é só uma sensação e nada tem a ver com a realidade, o que não torna tudo menos aflitivo. Esse é um desses dias.
Bandit está ao meu lado e, do lado dela, sua namorada, uma garota chamada Liliana Gruber, filha de uma americana e um austríaco. Sim, agora minha filha tem uma namorada. Não é como se eu não soubesse que ela iria crescer algum dia, mas definitivamente não estava preparado. Parece que eu perdi um pedaço da minha vida e não notei.
É claro que o fato de ela estar se relacionando com uma garota também contribui para o meu nervosismo. Mesmo não admitindo, esse foi sempre um dos meus maiores temores, visto que, por um tempo, minha sexualidade se tornou um tabu para as pessoas próximas e ainda é para várias delas. É óbvio que eu não quero as pessoas me acusando de influenciar minha filha para o caminho da homossexualidade, mesmo sabendo que esse tipo de coisa não existe.
Para Bandit nada disso é uma questão. Minha filha foi criada sabendo que as pessoas podem amar quem quiserem e que não existem muitas regras relacionadas a isso. Pelo menos, nesse sentido, a mãe dela sempre foi um bom suporte. Não é como se minha filha tivesse que sair do armário, ela sempre se sentiu livre, como eu gostaria de ter me sentido na idade dela.
Do outro lado da mesa, está Evan, também junto com seu novo namorado. Sim, ele também decidiu abandonar a vida solo e se render aos encantos de uma experiência a dois. Para nossa surpresa e espanto, Dan Brett Powell é ainda mais alto e atlético do que meu amigo. Obviamente os dois se conheceram na academia.
A mãe de Evan, Dora Taylor, que agora só utiliza seu sobrenome de solteira, já me ofereceu pelo menos três sobremesas diferentes, que eu, educadamente aceitei. Ela diz que é como se eu fosse seu segundo filho e que eu compenso toda a "frescura" de Evan não consumir açúcar quase nunca.
Ela finalmente se senta ao lado do filho, depois de ter servido a todos, com a ajuda de seu namorado. Sim, ela também encontrou sua alma gêmea. Isso aconteceu durante suas sessões de radioterapia, cuja completude estamos comemorando nesse exato instante.
Stephen Rudd é enfermeiro e, além de auxiliar durante o tratamento de Dora, também conseguiu roubar seu coração, que, havia muitos anos, permanecia vazio, por causa da traição do pai de Evan.
Todos parecem ótimos com suas próprias vidas, conversando sobre coisas banais e sobre a felicidade enorme que é vencer um câncer. Dora começa a falar sobre suas aulas de teatro na igreja e está nos convidando para assistir uma encenação na próxima semana.
— Eu vou interpretar Sara, esposa de Abraão... — ela explica com empolgação, seu rosto parece iluminado sob o lenço cor-de-rosa que está usando.
— Essa história não é aquela que a esposa não consegue engravidar, porque é velha, então o cara come a concubina? — Evan interrompe.
— Evan! — Dora o repreende, enquanto todos contêm uma risada, até Stephen.
— Tipo naquela série? Lembra, Lili? — Bandit cutuca a garota ao seu lado, que parece pensar por alguns segundos.
— O Conto da Aia, eu já vi! — ela exclama e os outros acenam em confirmação, exceto Dora, que está indignada e Stephen, que parece nunca ter ouvido falar sobre isso.
— Pois seria um prazer assistir a apresentação da senhora, eu adoraria mesmo — Dan sorri para sua nova sogra, que parece encantada.
— Esse menino é uma graça — ela comenta, dando uns tapinhas na mão dele sobre a mesa. Preciso me conter fortemente para não rolar os olhos, porque seria falta de educação, mas toda essa adulação de começo de relacionamentos me soa um pouco forçada. — Pelo menos alguém me apoiando aqui. — Dora complementa, empurrando levemente o ombro de Evan com o próprio.
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Radioactive
FanfictionTento me afastar, antes que me veja envolto em sua armadilha de novo, mas a minha alma é receptiva, por mais que meu cérebro me alerte para o perigo iminente, até que ele se concretiza e me faz rastejar mais uma vez. [Sequência de Poison]