IX - O esclarecimento

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Quase implorei perdão a Evan, quando na noite do dia seguinte fui visita-lo, mas ele não estava muito interessado nas minhas desculpas, porque pra ele estava tudo bem, ele nem ligava, mas eu estava passando mal com tanta vergonha.

- É sério, cara, de boa – ele respondeu quando insisti mais uma vez.

- Eu juro que nunca mais vou beber.

- Vá mentir pra outra pessoa – seus olhos ainda estavam colados no próprio celular; ele tinha essa mania irritante de estar sempre olhando algo, em vez de dar toda a atenção para a conversa.

- Você jura que não ficou ofendido?

- Por que eu ficaria ofendido por ser beijado por um cara bonito?

A resposta dele fez com que meu corpo se arrepiasse de constrangimento. Era horrível colocar as coisas em voz alta.

- Talvez eu tenha ficado um pouquinho chateado, por um momento eu comecei a pensar sobre algumas coisas – dessa vez ele apagou a tela do telefone, o que queria dizer que estava cem por cento dentro do diálogo, o que era bom e assustador também. – Gerard, você não acha que eu mantenho essa amizade por algum tipo de interesse, né?

- O quê? É claro que não! – respondi imediatamente e todas as minhas conversas com Bandit vinham até minha mente, me deixando culpado.

- Eu não tô te rondando, porque espero que um dia você descubra que é apaixonado por mim e você sabe disso, certo? – seus olhos me encaravam friamente e até minha alma parecia petrificada.

- Claro que não – repeti com firmeza.

- Muito bem. Eu espero que você lembre da situação quando nós nos conhecemos. Nós dois estávamos fodidos, a gente só teve um ao outro por um tempo, você esqueceu? E agora, por algum motivo, você omite as coisas de mim.

- Do que você tá falando, Evan? – questionei apertando a testa, tentando dissipar o estresse, mesmo já sabendo do que se tratava.

- Você tem se comportado de uma forma bizarra nos últimos tempos e eu precisei descobrir através de um estranho...

- O quê? – interrompi confuso.

- É isso mesmo. Na festa depois do show, o outro Evan, que eu vou chamar de Nestor, me disse algumas coisas interessantes. Sabe como gente bêbada é, né? Ele me falou que já conhecia você e que já tinha até te visto pessoalmente, quando o Frank tinha acabado de fazer vinte anos.

Meu rosto começou a queimar imediatamente quando a memória começou a se reconstruir no meu cérebro bagunçado. É claro, ele era o cunhado e o mesmo "amigo" que estava com Frank na última vez em que nos vimos antes de ficarmos afastados de vez. Eu não o havia reconhecido e ninguém iria dizer esse tipo de coisa do nada.

- Eu levei um tempo pra juntar as peças, mas entendi que esse é o cara que destruiu sua vida, segundo suas próprias palavras – ele sorriu irônico e meio puto. – Se eu soubesse disso não teria insistido pra ficarmos, ok? Eu não sou babaca. Entendo que você seja obrigado a trabalhar com ele, mas eu não teria te submetido aquela situação, nem teria saído do seu lado. – Ele dizia com seriedade e eu me senti completamente exposto. – Me desculpa? Eu tô meio puto, mas eu entendo que você não tenha contado também, eu sei que é um assunto difícil e...

- Não, não é! Eu tô ótimo! Essa história é passado, Evan, não significa nada, ok?

- Se não significa nada por que esse nervosismo todo?

- Sei lá, é muita pressão ser responsável por uma equipe inteira e por um orçamento mais alto do que o usual, só isso. – Respondi sem graça.

- Você não queria ter ido naquela festa... – ele continuou e seu olhar parecia carregado de pena, o que me irritou bastante, mas me contive, porque não podia culpar alguém que nada tinha a ver com meus assuntos.

- É a Bandit, ok? Ela comprou a ideia do cara legal que tem uma banda e resolveu bancar algum tipo de cupido, porque ela sabe que nós estivemos juntos em algum momento. Acho que ela sabe que a coisa foi séria pelo jeito que a mãe dela falava sobre o assunto.

- Como assim?

- A Lindsey odiava o Frank com todas as forças e isso quer dizer que eu o amava muito, pelo menos na cabeça da B. Ela sabe que isso deixaria a mãe dela possessa de ódio, mas ao mesmo tempo pensa que vai me fazer voltar a ser feliz. Eu não sei como explicar pra ela que eu nunca fui feliz. – Completei com uma risada sem humor, percebendo que falei mais do que precisava.

- Relaxa – Evan apertou meu ombro carinhosamente e sorriu para mim de forma confortante. O excesso de compreensão dele às vezes me deixa irritado, mas, ao mesmo tempo, não consigo me imaginar sem sua presença na minha vida. – Só me responde... Qual é o plano?

- Plano? – questionei com a testa franzida e ele assentiu.

- Superar ou recuperar seu amor antigo?

- Ah! – rolei os olhos com a compreensão. – Ele me deixou sozinho e desapareceu com outra pessoa naquela festa, Evan. Você acha mesmo que eu quero viver isso tudo de novo? O tempo passou pra nós dois, mas não quer dizer que tudo esteja resolvido. Frank Iero é um merdinha egoísta, você acha mesmo que ele saberia lidar com tudo isso? Com essa vida? – Disse abrindo os braços em um gesto amplo. – Eu estou mais perto dos quarenta do que dos trinta, tenho uma filha, uma ex irritante, pais que eu vejo uma vez no ano, um irmão arrogante, sobrinhas que eu nunca vi, um melhor amigo gostoso e solteirão – essa parte fez com que ele risse -, um chefe com várias denúncias de assédio abafadas pela empresa... Você acha mesmo que alguém quer a pressão de viver com alguém como eu?

- Bom, eu não sei da parte dele, mas eu quero – as palavras se dispersaram pela sala em um som calmante.

- Obrigado – foi tudo que pude responder, sentindo o calor se espalhar pelas minhas bochechas.

Voltei para casa e dormi no sofá, como no tempo em que era casado. Estranhamente esse era o tipo de mania que me acalmava quando eu tinha muitas coisas na mente, no outro dia acordei todo torto, o que me levou a uma quarta-feira de torcicolo e sono.

O dia foi longo, mas em algum momento, felizmente, me vi voltando para casa. Dentro do carro penso em ir a algum barzinho, penso em chamar Evan para beber, mas ele não consome álcool durante a semana, seria inútil. Caio no sofá mais uma vez, depois de fumar um cigarro e olhar pra piscina suja. Eu devo estar enlouquecendo. Viver em uma casa grande sozinho é entediante desde que eu desinstalei os aplicativos de encontros. Não era um bom exemplo pra minha filha e parar fez bem pra minha saúde mental.

Apenas durmo, esperando que a vida se resolva sozinha.

"Me diz que você vai vir amanhã" é a mensagem que vejo ao acordar. Frank mandou por volta das três horas, mais uma vez. Talvez seja o momento em que ele está chapado em algum clube e lembra que eu existo.

Não quero dizer que sim, mas acabo tendo uma boa ideia, então lhe respondo de maneira positiva. Talvez dessa vez eu possa tirar algum proveito da situação.

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Apenas um capítulo curtinho e sem grandes acontecimentos, mas vocês devem gostar mais do próximo. Eu acho.

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