XII - O padrasto

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— Olha só quem tá aqui – Evan anuncia com um braço sobre os ombros de Frank, adentrando a cozinha com um sorriso no rosto.

— Boa tarde, pessoal – nosso querido vocalista parece um pouco desconsertado e eu apenas observo de longe.

Bandit vai até ele rapidamente e o abraça com cuidado para não sujar suas roupas. Ele acena para mim e eu espelho seu gesto, sorrindo brevemente e tentando espantar essa timidez estúpida que me aflige.

— Que bom que você chegou! Foi difícil achar o endereço? – minha filha questiona empolgada.

Evan e eu trocamos olhares sugestivos, sorrindo um para o outro de forma dissimulada.

— Gerard, você pode mostrar a casa para o nosso convidado enquanto eu e a Bandit terminamos de arrumar as coisas para o almoço? – a forma com que meu amigo toma as rédeas da situação me deixa mais tranquilo.

— Claro. Vamos lá, Frank – digo com tranquilidade, estendendo um braço em direção à saída.

Ele se demora por alguns segundos, parando o olhar sobre a porta da geladeira. Há muitas fotos dos passeios que Bandit, Evan e eu fazemos. Em uma delas sorrimos usando nossas orelhas do Mickey, quando fomos à Disney e em outra posamos ao lado de um castelo de areia gigante na praia. Também existe um desenho que ela fez quando era menor, representando nós três e a mãe dela.

—Sua casa é muito bonita — Frank diz quando já estamos na sala. Ele observa ao redor, mas não parece tão interessado assim pelos cômodos. ­— Mas seu apartamento também era bastante simpático.

— Ah! Eu precisava de mais espaço, um pouco de natureza. Sabe como é? — respondo de forma cordial e ele concorda, meneando a cabeça. — Vem comigo, tem mais coisa.

Caminho para a parte de trás da casa e lhe apresento o quintal, junto com a churrasqueira, a piscina e o pequeno jardim. É claro que as plantas já tiveram dias melhores, mas ninguém nessa casa tem dedo verde.

— Uau, nós definitivamente devíamos fazer um churrasco – ele diz empolgado, olhando para os lados.

Nós paramos lado a lado por um instante, apenas observando as coisas. Felizmente aquela vergonha que havia tomado conta de mim já passou e a sensação de ter engolido uma pedra também foi embora. É engraçado notar que Frank ostenta as marcas arroxeadas em seu pescoço com orgulho, enquanto eu tenho gastado quilos de maquiagem para esconder a atrocidade que ele me deixou. Felizmente as dele são mais discretas.

— Gerard – a voz dele me tira dos meus devaneios e eu volto meu olhar para seu rosto. — Você e... Você e Evan são realmente só amigos? — A hesitação na voz dele, sua expressão curiosa, todo o contexto, me faz ter vontade de rir, mas não o faço, apenas permaneço com a mesma aura tranquila.

— É óbvio — dou de ombros, mas ele não parece convencido.

— Eu não sei. Vocês dois, definitivamente, tem uma vibe daqueles casais gays com relacionamento aberto. — Ele coloca as mãos nos bolsos de sua bermuda e desvia o olhar para um ponto aleatório do quintal, talvez para disfarçar seu constrangimento.

— Você deve estar assistindo pornô demais, Frankie. Nem pense que vai conseguir um ménage aqui — me aproximo um pouco e digo em um volume de voz reduzido, bem próximo ao ouvido dele.

— Que droga, você acabou de destruir minhas expectativas – ele diz com sarcasmo, mas não ri. Alguém está de mau-humor. — Você tem cigarro? O meu acabou.

— É claro, essa é a única coisa que não pode faltar nessa casa – digo pegando o maço no bolso e oferecendo a ele, que toma um deles e acende de maneira ágil.

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