Radioactive

XXIII - O encontro

— Gerard, o seu telefone não para de vibrar em cima do balcão, daqui a pouco ele vai cair — Evan diz, voltando da cozinha com o aparelho em uma mão e uma jarra d'água na outra, então parando no meio da sala.

— Sério? Deve ter acontecido alguma coisa no trabalho.

— Eu não sei se tem a ver com trabalho, mas o Frankie — ele pronuncia com uma entonação carregada de nojo, fazendo Bandit rir discretamente — cercado por corações pretos e emojis de morcegos deve estar precisando muito falar com você.

Meu coração dispara de forma automática, porque eu não imaginava que a mensagem fosse se tornar uma ligação e, também, porque eu não sei do que se trata.

— Ah sim — tento agir de forma natural, levantando e pegando o objeto da mão dele, ao mesmo tempo tentando fugir do seu olhar crítico.

Mais uma vez fujo para a varanda, finalmente atendendo a ligação — talvez um pouco mais ansioso do que gostaria. Respiro fundo antes de dizer um simples "alô", só para não parecer tão desesperado.

— Porra, que demora! Achei que você não queria falar comigo. — é a primeira coisa que ele atira para mim, em um ótimo humor, que posso sentir pelo seu tom de voz.

— Eu te disse que ia sair no sábado. Na realidade você deveria estar aqui — pontuo de forma neutra.

— É claro que eu deveria, meu amor, mas essas três mil milhas estão me fodendo, quando quem deveria estar fazendo isso é você.

Não posso evitar corar um pouco e me sentir irritado comigo mesmo. Eu sempre fico tão preocupado, então nós nos falamos e ele me trata com tanta naturalidade, que eu me sinto um idiota por ter achado que nós estamos nos afastando.

— As pessoas estão começando a notar minha depressão — digo baixo, olhando de canto para dentro da casa e me certificando de que Evan está bem longe. Quando faço isso, ainda consigo captar, por um segundo, que ele estava me observando com aquele mesmo rosto de julgamento, por mais que desvie rápido.

— Bom, pelo menos agora eu tenho uma ótima desculpa pra adiar qualquer compromisso — ele fala empolgado — e foi por isso que eu te liguei. Recebi nosso cronograma e vi que a première foi marcada, você não viu?

— Não, eu nem olhei o celular hoje — minto descaradamente. — Então quer dizer que eu vou ter a oportunidade de ver você todo gostoso de terno e gravata?

— Eu nunca disse que usaria terno e gravata... A menos que você peça, é óbvio.

— Bom, então pode considerar isso um pedido.

— Ótimo, então depois você pode amarrar minhas mãos com ela e... — ele continua com tanta espontaneidade, que me faz rir e corar como um menino mais uma vez.

— Frank, eu estou na casa da mãe do Evan, com minha filha e a namorada dela, esse definitivamente não é o momento pra criar esse tipo de imagem mental — interrompo rindo e me sentindo mais leve.

— Ah, é verdade. Como é a garota? Se ela não prestar pode deixar que eu dou um sumiço nela — sua declaração me pega desprevenido e eu rio mais uma vez, disfarçando e me mantendo longe da visão dos outros, por alguma razão.

— Por enquanto nenhum sinal de alerta, ela é tão calma, eu estou mesmo com medo de que a Bandit parta o coração dela, mas vamos esperar pra ver.

— Ah, mas se acontecer eu ainda vou defender a minha garota — sorrio com suas palavras.

— Certo, mas eu ainda espero que ninguém saia de coração partido — digo sem saber muito bem ao que me refiro.

— Eu também espero que não — ele apenas concorda, provavelmente alheio às minhas preocupações.