XVII - A liberdade

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As coisas aconteceram tão rapidamente e eu estava tão aéreo, que o jeito com que acabei em uma mesa, cercado por Evan, Bandit e Lindsey, se tornou meio confuso. A realidade é que eu não esperava que a mãe da minha filha decidisse aparecer em tal evento, mas lá estava ela com a atitude de sempre – a aura que daria inveja a um trator.

A explicação da minha filha, que me olhou de forma culpada o tempo inteiro, era que sua mãe não queria que ela viajasse sozinha, não sem um dos pais. Rolei os olhos fortemente e fiquei me questionando se ela continuaria se comportando assim, se um dia me casasse de novo.

A parte mais esquisita de todas foi quando observei todos se cumprimentarem. Lindsey falou com todas as pessoas da equipe e da banda, inclusive com Iero, de maneira totalmente educada. O que me leva a pensar que todos evoluíram e deixaram o passado para trás – menos eu.

Claro, outra coisa peculiar foi assistir minha ex-esposa cumprimentar a suposta (não) esposa de Frank. Elas conversaram por alguns minutos, trocando algumas palavras gentis. Bandit também conheceu a mulher, que, para o meu despeito, parece uma pessoa bastante simpática.

Quando eu a cumprimentei também recebi um sorriso rápido e ela pareceu completamente indiferente a mim, como se nem soubesse sobre a minha existência, por mais que nós já tivéssemos nos encontrado antes e por mais que eu tenha certeza de que Frank já falou sobre mim para ela – seria ingenuidade achar que não.

Durante os anos acabei criando um mito de que aquela garota, que eu encontrei no apartamento de Frank, era uma pessoa falsa e dissimulada, mas a verdade é que isso era só uma forma de encontrar culpados naquela bagunça toda.

Por algum motivo, aquele simples ato dele de abandonar a aliança, como se não fosse nada, me deixou mais tranquilo. Pode ser que eu só tenha o abordado da forma errada. Eu não deveria ter pressionado para obter respostas, isso nunca funcionou entre nós.

O show correu de forma normal, embora Frank tenha ficado um pouco apagado. É claro que as pessoas ao redor não perceberiam, mas era fácil notar os segundos em que o olhar dele parecia perdido; entretanto, ele não me encarou em nenhum momento, fingindo que eu não estava ali, bem ao lado, e eu tentei não me importar.

Agora, daqui onde estou, posso observar a mesa dele, junto com seus colegas de banda, assistentes de produção e dois fãs que foram sorteados para estar aqui. Eu particularmente detesto esse tipo de ação promocional, porque nunca sabemos se os supostos fãs vão se comportar como pessoas civilizadas ou como completos loucos – com todo respeito aos loucos.

—O que aconteceu com você, hein? — sinto um cotovelo nada amigável me acertar perto das costelas.

Olho para o lado e encontro os olhos negros de Bandit. Ela está cheia de curiosidade desde que chegou. Pode ser que ela tenha esperado que nós estivéssemos todos juntos aqui em uma ciranda de primavera. Obviamente, sendo minha filha, ela também parece se sentir culpada, como se o fato da mãe dela estar aqui tivesse estragado tudo.

Penso em diversas respostas e combinações de palavras. Minha cabeça está cheia de explicações sobre como eu me sinto, ou sobre o que aconteceu e tem acontecido nos últimos tempos, mas prefiro ir na direção oposta e dizer o que eu gostaria de estar sentindo.

— Eu só estou aproveitando a sensação de dever cumprido — digo em um suspiro e sorrio para ela, afinal é a única razão que tenho para sorrir desde sempre. Passo o braço por seus ombros por um momento, beijo seus cabelos e me afasto mais uma vez.

É claro que ela não está satisfeita com minha resposta, nem eu estou satisfeito, mas deixamos isso de lado para aproveitar o coquetel - comida e bebida de graça é nosso ponto fraco mais comum.

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