XXIV - A festa

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Observar meu nome na tela, dessa vez em uma posição de destaque, provoca uma sensação de orgulho que eu não saberia explicar. Quando vejo as letras surgirem é como se pudesse relembrar cada segundo de esforço necessário para que esse projeto existisse.

Bandit, ao meu lado, aperta minha mão com força, como se para chamar minha atenção para o que está acontecendo. O teatro está em completo silêncio enquanto o título surge, mas a minha mente segue barulhenta, cheia de pensamentos. Evan também me cutuca, como se para mostrar seu apoio e orgulho. Sorrio para ele, ainda descrente por tanta felicidade.

From Garage to Glory — o título aparece em uma fonte espessa e impactante. Uma sensação de antecipação surge em mim, causando cócegas no meu estômago. Talvez eu só tenha estado eufórico assim quando Bandit nasceu, mas são sentimentos muito diferentes, por mais que haja semelhanças.

O silêncio inicial logo é abalado pelo som dos riffs de guitarra e da bateria. A primeira cena é um dos momentos mais marcantes da turnê, quando o show já havia começado, mas o amplificador de Frank parou de funcionar. Há um burburinho quando a música para e todos ficam tensos.

É possível ler os lábios dele, enquanto ele xinga e chuta o amplificador, irritado.

Como diretor, achei que o problema, na verdade, seria uma grande oportunidade e realmente foi, se tornando nossa cena de abertura.

A cena do problema é intercalada com uma entrevista do final do show.

— O meu amplificador pifou e eu achei que nós seríamos vaiados, mas até que deu tudo certo — ele diz com um sorriso displicente, com uma toalha no pescoço e os cabelos encharcados.

É impossível não notar como Frank fica tão bonito diante das câmeras, mesmo depois de um show cansativo e cheio de dificuldades. Fico imaginando o quanto ele deve estar feliz nesse momento e no quanto eu gostaria de estar perto dele, não do outro lado do salão.

— São essas coisas que mostram o poder da música, entendeu? Mesmo que os problemas técnicos sejam chatos de lidar, também são uma oportunidade de ampliar a nossa conexão com o público — ele termina de dizer e há um corte para o momento em que as pessoas cantam à capela, enquanto esperam a resolução do impasse.

Após essa introdução há uma contextualização sobre o surgimento do gênero e entrevistas antigas com bandas clássicas, logo criando um paralelo com as bandas alternativas que nós acompanhamos. Toda a produção é uma viagem dentro do mundo do Rock e nós exageramos, propositalmente, em cenas dos músicos se preparando para o show, ajustando equipamentos e fazendo soundcheck.

A vocalista da banda Lilia conta sobre sua trajetória com a música e as dificuldades de ser mulher em um meio que, infelizmente, continua sendo majoritariamente masculino. Também fala sobre a necessidade de trazer autenticidade para um gênero tão marcado por estrelas icônicas e inesquecíveis.

Os integrantes das bandas comentam como a tecnologia tem impactado em suas produções e nós mostramos como é a gravação de um álbum. Os músicos entrevistados comentam sobre como a criação de álbuns conceituais foi afetada pelo surgimento de aplicativos que priorizam o imediatismo.

A forma como tudo se encaixou perfeitamente e como nós conseguimos criar tanto com tão pouco e em tão pouco tempo me emociona profundamente, é quase impossível conter as lágrimas, mas eu sigo fazendo isso, mesmo que o esforço quase me sufoque.

O final é mais uma demonstração do quando o Rock segue vivo, com imagens dos fãs contando sobre como o estilo salva suas vidas diariamente, como eles se sentem motivados a continuar por causa de suas bandas favoritas. Esse é o momento em que eu mais me identifico, me sentindo como o adolescente que vivia pela música e que respirava a arte.

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