XV - As verdades

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Em um almoço aleatório, quando os caras da produção começaram a fazer piadas sobre a mulher misteriosa no quarto de Frank, comecei a me preocupar e senti uma coisa estranha no meu peito.

É claro que tentei não pensar sobre isso, afinal, nós não tínhamos nenhum tipo de compromisso, então eu não poderia estar cobrando exclusividade, ou exigindo que ele não fodesse outras pessoas.

Infelizmente meus pensamentos não me obedeceram e aquela massa de irritação e desconfiança passou o dia inteiro fazendo seu estrago dentro da minha mente. Foi um esforço enorme fingir que nada estava acontecendo, enquanto eu tentava procurar vestígios por toda a parte.

Conversei com Ossy Lovell, um dos roadies, mas não tive coragem de perguntar coisas específicas, até porque eu não queria que todo mundo percebesse minha dor-de-cotovelo.

Naquela tarde, Frank postou uma foto dos próprios pés no gramado do estacionamento. Analisei a foto, até perceber que havia uma sombra ao seu lado e passei um bom tempo tentando descobrir se era feminina ou masculina. Parece uma estupidez agora, mas naquele momento pareceu fazer sentido.

O que me deixou ainda mais cismado foi a lembrança de que, em breve, nós nos separaríamos. O documentário seria finalizado e ele voltaria para sua vida no eixo New Jersey-New York e, provavelmente, esqueceria de mim.

Mas eu sabia que seria desse jeito. Todos os nossos encontros foram apenas uma maneira de reavivar alguma coisa que achamos ter perdido, era puro saudosismo. Ele tinha tanta coisa para viver e eu ainda tinha todas as minhas responsabilidades.

Pensei muitas vezes sobre me encontrar ou não com ele naquele dia, mas acabei decidindo ir de qualquer jeito. Eu era só um amante provisório para aquela etapa da vida dele, não representava nada sólido ou fixo.

Nós fugimos juntos para um bairro ao lado, apenas para comermos pizza e conversarmos sobre amenidades. Não costumávamos fazer isso, sempre fazíamos refeições em grupos, mas ele disse que a turnê estava acabando e que nós tínhamos que comemorar juntos.

Tomamos algumas cervejas, como nos velhos tempos.

— Você colocaria minha banda na sua lista de 100 Piores Bandas do Mundo? — ele questionou bem-humorado, talvez tentando me puxar de volta, porque eu não estava sabendo disfarçar meus sentimentos muito bem.

— Claro, docinho, você é meu top 1 pra sempre — sorri sem muita animação e ele me mostrou a língua.

— Não precisa ficar assim – ele segurou minha mão sobre a mesa da lanchonete e eu parei por um momento para admirar a cena. — Não é como se não existissem voos entre Newark e Los Angeles. – Tudo que eu pude pensar foi no quanto ele era cínico por estar dizendo esse tipo de coisa.

Alguns dias antes talvez esse tipo de demonstração de afeto fizesse meu coração bater mais leve, mas naquele momento só me fez ficar mais chateado. É claro que ele queria aproveitar ao máximo aqueles momentos, porque era a reta final.

— Eu conheço você, me fala o que tá rolando – ele insistiu e eu suspirei. Nossas mãos ainda estavam juntas, mas eu não estava segurando a dele, apenas deixando ali.

Eu não queria falar, porque sabia que me sentiria humilhado depois, mas o que era pior? Falar logo ou carregar aquela pedra dentro do meu peito por mais tempo?

Durante aqueles anos sempre me questionei se um pouco mais de conversa e uma comunicação mais clara teria evitado o nosso distanciamento, então não seria coerente ficar em silêncio outra vez.

— Você levou mais alguém pro seu quarto essa semana? — perguntei finalmente.

As sobrancelhas dele se uniram em uma expressão engraçada e eu soube que ele estava contendo o riso, mas eu não entendia o porquê. Era esse o momento em que ele zombava de mim por ser um palerma apegado?

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