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Os meus ouvidos estremeciam, mas excitados, ao som dos inconfundíveis, The Rolling Stones, era só o instrumental, deslizando os dedos pela minha guitarra elétrica, não me considero feliz, mas era um momento que me trazia alegria, pois era eu que criava aquele incrível som, só meu e de mais ninguém, até que desligam-me do meu pensamento, ao chamarem-me:

- Hey, Iza! Não queres?

- O quê?! – Irritada por me interromperem.

- Ok, pelos vistos não queres pizza nem cerveja.

- Pessoal, esperem aí! – Fui para os sofás.

- Estavas a ter um dos teus momentos?

- Até parece que tu também não tens com os teus pauzinhos. – Sento-me com força, em cima do Adam, o nosso baterista, tem 23 anos, ele é o meu melhor amigo, que já durou mais tempo.

- Hey! Cuidado com o meu outro pau e este é bom que dure.

- Até parece que é grande coisa. – Ri-se, o Gil, acho que é Gilfred, mas ele nunca quer que ninguém saiba, para não gozarem, o nosso pianista, tem 19 anos, ele é o mais estúpido de todos.

- Concordo com ele. – Diz sempre muito sério, o Hugh, quase não fala, tirando para cantar, pois ele é o nosso vocalista, tem 24 anos.

- Hoje é dos dias em que falas? – A rir-me, tínhamos um ambiente bem tranquilo e divertido. – Esperem aí, sou só eu, é que ainda não vi? – A tentar abrir as calças ao Adam.

- Então?! Não há aqui nada para veres.

- Afinal, ele admite que não há nada. – Fala mais uma vez, Hugh, o que era estranho.

- Oh, estás com medo de ser reprovado? – Diz o Gil, ainda me ri mais e o Adam dá-lhe uma chapada na cabeça.

Estávamos num armazém abandonado, que o Hugh, arranjou maneira de o comprar a baixo preço, por isso podíamos fazer o que quiser. É verdade, só para que saibam, eu já tinha dormido com todos eles menos o Adam, se calhar por isso ainda sou amiga dele, desde há 2 anos e tal, quando nos juntamos. Já tínhamos, acabado de comer, estava com a cabeça deitada no colo do Adam:

- Passa aí. – Deram-me um cigarro de marijuana, suguei um pouco e deitei fora o fumo.

- Bora tocar? – Disse o Gil.

- Acorda! – Disse-me para o Adam num grito, conforme a cabeça dele levantou, ficamos a milímetros um do outro. Eu saltei e peguei na guitarra.

E outra coisa que devem saber, há uns três meses disse ao meu pai que não queria ir para faculdade, então pôs-me fora de casa, ele já tinha-me avisado para parar de ser rebelde e inconsciente, ele já não gostava das companhias com quem andava e me via, por isso tenho ficado mesmo por aqui, pelo armazém, às vezes vou para o apartamento do Adam, mas tem colegas de quarto que disseram que não podia lá ficar muitas vezes seguidas.

Ou seja, sou uma música, quase sem abrigo e dinheiro, um pouco drogada e alcoólica, sem saber de mais, nada no momento, sem ser do meu som, esta sou eu.

Avançando um mês e tal, lá estava eu com as minhas calças de ganga pretas com buracos, pareciam muito velhas mas muito pelo contrário, até estava na moda, supostamente, com o meu top dos Ramones, só que antes era uma camisola, só que rasguei a parte da barriga, para ficar a mostra, com o meu casaco preto de cabedal, com vários anéis nas mãos e brincos e piercings nas orelhas, os olhos envolvidos na cor preta, a minha sombra e o meu rímel, era o pouco de maquilhagem que eu gostava de usar, com minha mochila, cheia de pins espetados e pintada da minha cor predileta, preto, dentro tinha o meu Mp4 com os meus fones, telemóvel, carteira, mais umas roupas, o meu caderno de músicas e o estojo, escova de cabelo e elásticos, entre muitas outras coisas, como cigarros, isqueiro e latas spray de tinta, podia-se dizer que tinha um estilo bem rebelde. Eu como não andava com muitas coisas, às vezes entrava à socapa em casa, para ir buscar o que era meu.

Faltava uma semana e tal para um concerto, que era importante para nós, andava tudo chateado e amuado, uns com os outros, parecíamos que não tocávamos nada de jeito, até num dos ensaios, uma das cordas da guitarra partiu-se:

- Adam, vocês têm mais?

- Vai ver no depósito no andar de baixo! – Até ele parecia irritado comigo, bem ficou assim desde que ele me viu no quarto dele com um colega de quarto enrolado comigo na sua cama, se fosse ele talvez estaria assim, se alguém fizesse sexo na minha cama, o que seria pouco provável, porque duvido que o meu pai vai deixar alguém fazer isso.

Fui ao depósito, estava tudo amontoado, por isso tive que remexer tudo, até que caiem coisas e vejo um castelo desenhado na parede, era um graffiti com estilo antigo, ao arrumar tudo no sítio, até que a eletricidade falhou, pensei que fosse outra vez, os problemas de luz que às vezes temos, mas há um apagão e me apoio a parede, para não desequilibrar-me ou até mesmo cair, por estar tudo no meio do chão, comecei a ficar atordoada como naqueles documentários em que um animal é abatido com um sedativo forte e acabei por fechar as pálpebras.

605 Years Before or AfterOnde histórias criam vida. Descubra agora