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Quando penso em tudo e que não há nada a fazer, que tinha morrido numa época diferente da minha, tantas perguntas ainda por responder e tantas coisas por fazer, que me faz lembrar do meu pai e os meus amigos que devem continuar sem saberem de mim, a esta altura já devem ter reportado a polícia, eu era mais uma pessoa nas páginas das pessoas desaparecidas, mas devia estar nas páginas de óbito... Era esta a vida depois da morte, eu perdida com os meus pensamentos no vazio infinito? Mas nesse momento, eu ouço outra vez, a última voz que ouvi, era o Douglas, espera aí, existe máquinas de dar choque para me reanimar na época dele, como é possível estar a ouvi-lo?

- Volta para mim, por favor! Volta para mim, por favor! – Parece implorar e nesse momento, há algo que desperta em mim, abro os olhos, sinto uma forte claridade, então quando consigo vê-lo, lanço-me os meus braços a volta do seu pescoço e toco os meus lábios nos seus, num beijo doce, mas intenso, era o meu Douglas, até que pára, empurrando-me um pouco para trás.

- Douglas, o que se passa?!

- Como sabes o meu nome?! – Ele parece confuso como eu.

- O que se passa, meu amor?

- Espera aí, meu amor?! – Levanta-se da sua cadeira, aí vejo que ele tem roupas normais do meu tempo e que eu estou sentada numa cama que parece ser de um hospital, conforme olho em volta, confusa, sem saber onde estou, ele retorna com uma mulher, era a Edith, mas vestida de enfermeira.

- Edith?! Como estás aqui?

- Isabella, acalma-se, do que se lembra?

- Como assim? Onde estou?

- Deve estar em choque. Mas a Isabella, tem estado em coma há quase três meses, depois que ingeriu uma droga desconhecida, chegou ao hospital com os seus amigos...

- O Adam?

- Sim, acho que seja esse o nome de um deles. Eles a encontraram inconsciente na parte da dispensa no armazém da sua banda, nós ainda fizemos uma lavagem ao estômago, mas como era uma droga desconhecida e forte, fez com que entrasse num estado de convulsões e em paragem cardíaca, pensamos que teria uma overdose, mas conseguimos impedir, depois de cinco vezes que levou com o máximo da carga elétrica, foi um milagre, só que ficou em coma, sem nenhuma resposta, até agora que acordou e os sinais vitais parecem estar todos bons. Teve muita sorte, Senhorita Isabella Thompson.

- O quê?! – Realmente, eu estava em estado de choque, então nunca tinha ido a outra época, como podia ser, tudo parecia ter sido muito real. – Mas eu te conheço e a ti também. – Digo apontando para os dois.

- Não sei como, há quem diga que as pessoas em coma conseguem ouvir tudo o que lhes dizem, deve ser por isso que sabe os nossos nomes. Eu sou a enfermeira que sempre a acompanhou, chamo-me...

- Edith Kermens, sim eu sei e tu és o Douglas Salgoud.

- Sim sou eu, deve mesmo conseguir ouvir-me, é incrível. Então deve ter ouvido as histórias que lhe li durante o seu coma, como este que lhe estava a ler antes de acordar. – Diz mostrando o livro com uma capa antiga, pego nele, dou uma vista de olhos e vejo que a história tinha coisas da minha viagem no tempo, então queria dizer que nada tinha, realmente, acontecido, tinha sido só um sonho do meu coma.

- Isabella...

- Chamem-me de Iza, por favor.

- Ok, Iza, foi o Sr. Salgoud que encontrou-a inconsciente e acompanhou-a sempre, vem quase todos os dias, tem aqui um grande amigo.

- Mas eu não o conheço.

- Pois... Eu sou um jornalista de uma revista de música e naquele dia, eu ia fazer uma entrevista com a sua banda, como tu és a guitarrista e compositora das letras, queria conversar contigo, mas encontrei-te deitada no chão, inconsciente.

- Mas se não me conhecias, porque vens cá todos dias?

- Ah... - Senta-se na cadeira.

- Bem, vou vos deixar a sós, depois volto mais tarde com o médico. – Diz a Edith abandonando o quarto.

- Então, eu senti que devia ficar, além disso se acordasses, seria uma história muito boa para a revista, uma rockeira que sobrevive a uma overdose, normalmente, morrem devido ao abuso de drogas.

- Afinal, só estás aqui por causa de um artigo, então quero que te vás embora.

- Mas...

- Mas nada, saí do meu quarto.

- Não vou, antes de dizer uma coisa. Eu antes de pensar sobre escrever isso, já queria ficar aqui, senti uma ligação muito forte e instantânea a ti, não sei como, nunca fui destas coisas, mas não conseguia ficar afastado, só esperava que tu acordasses e eu pudesse falar contigo, ouvir a tua voz, principalmente a cantar as tuas músicas.

- Eu não sou a vocalista da banda...

- Mas devias ser. Depois de ter decidido vir cá quando pudesse, que é quase todos os dias, comecei a ler livros e falar contigo, mesmo se não ouvisses, não sei, tu tens um magnetismo especial. E se quiseres, eu não escrevo nada sobre ti. Então eu vou embora como queres. Já agora, gostei do beijo, só não estava a espera. – Levanta-se e saí do quarto, sem me deixar falar.

Afinal tinha sido tudo imaginação minha com pessoas que conheço ou vim a conhecer na vida real. Mais tarde, veio o médico com a enfermeira, ele disse que eu parecia estar estável, mas tinha de fazer uns exames para garantir e ficar uns dois, três dias em observação. A enfermeira Edith mostrou ser simpática assim como no sonho, perguntava muito pelo Adam, acho que ela gosta dele, por falar nele, veio mais tarde com o resto de grupo, todos encheram-me de abraços, parecia que ia ficar asfixiada, até Hugh, que é sempre tão sério, ficou todo feliz em me ver bem. Depois falamos um pouco, no qual disseram-me que os concertos não era mesma coisa sem mim, passado um bocado, foram todos embora menos o Adam que ficou na conversa com a Edith, acho que fazem um belo par. Passado mais algum tempo, foi a vez de o meu pai ter-me vindo visitar, no entanto veio feliz como nunca o vi, quer dizer quando eu era pequena e a minha mãe ainda vivia connosco, ele também era assim, mas nunca pensei em voltar a ver o seu sorriso outra vez, até pediu-me para voltar a morar em casa e que não ia-me impedir de seguir a carreira na música, o que me deixou mais contente ainda, parecia que o meu coma tinha deixado todos mais simpáticos, só faltava o Douglas ao meu lado, mas a nossa relação tinha sido apenas imaginária.

Passados dois anos...

- Querida, acorda! – Diz abanando-me um pouco.

- O que foi? O que se passa? – Abro as pálpebras e vejo os doces olhos cor de lama a observarem-me.

- Os "NiceHard" saíram na revista Rolling Stones como uma das dez bandas mais promissoras deste ano.

- A sério?! Não estás a gozar, pois não?

- Claro que não, vê. O Adam e a Edith dizem que vem mais logo, para festejarmos. – Dando-me a revista, vejo o artigo e sorrio de imediato, abraçando-o.

- Obrigado. Foi tu graças a ti e ao teu artigo que nos impulsionou. És o melhor marido do mundo.

- Não foi nada. A nossa ligação quando estavas em coma é que me fez apaixonar-me por ti e pela tua música.

- Pois mas quando saíste do quarto do hospital, pensei que nunca mais voltaria a ver-te, mas voltaste a encontrar-me num dos meus concertos.

- Claro, não podia deixar-te escapar. És o meu amor e agora tens o meu segundo amor na tua barriga. Então porque não haveria de correr atrás de ti? – Deitando-se ao meu lado na cama, passando a sua mão na minha barriga de seis meses.

- Sabes que quando ela nascer, não a podes mimar tanto como a mim, se não vai ser uma rapariga mimada.

- Ah é, então vou-me embora, porque se não posso mima-la, também não te vou mimar a ti. – Ia a levantar-se quando o puxo de volta para mim.

- Nem pensar, fica aqui. Talvez possas nos mimar um pouco.

- Hum... - Deita-se e beija-me gentilmente e com cuidado com a barriga.

- Eu amo-te, Douglas.

- Eu também te amo, Iza.

FIM

605 Years Before or AfterOnde histórias criam vida. Descubra agora