Senti uma brisa com o cheiro fresco a terra e erva húmida como se tivesse perto do campo, só me tinha sentido assim quando era uma pequena humana de, apenas e só, 5 anos, na casa da minha avó, já falecida, que possuía uma horta, inspirei com força e abri os olhos para puder visualizar o que tanto me trazia nostalgia e vi-me deitada numa cama de casal, onde me absorvia por ser tão fofa, mas não por baixo dos lençóis, parecia que estava a desmanchar o trabalho que alguém teve a fazê-la, olhei em redor, estava dentro do que se podia assemelhar-se a quarto, mas com paredes, teto e chão de pedra cinzenta escura, móveis de madeira antiga, os tecidos onde me estendia, era muito sedoso, escorregadio, com um candeeiro no teto, mas em vez de notar lâmpadas, só vi velas, algumas já um pouco derretidas, assim como na mesa-de-cabeceira, onde possui uma só, reparei então na janela aberta que trazia aquele aroma de natureza e de um ambiente, um pouco frio, levantei-me, fui espreitar e pude ver tudo verdejante, com árvores rebentando da terra lamacenta, com o pano de fundo azul claro e nuvens salpicadas no céu, voltei para dentro do quarto, onde tinha também uma cadeira, um espelho de corpo inteiro, um armário e ainda um tapete felpudo que estava a pisar e se estendia por quase toda a sala.
Ouvi vozes e aí pensei, onde raios, eu estava? Mas pareciam se estarem aproximar e então fui para debaixo da cama, já que tinha um espaço grande para me enfiar e as colchas se prolongavam até ao chão, assim sem me revelarem, ouvi os seus passos e risos, parecia ser um homem e uma mulher, tentei ver alguma coisa, mas só vi o que tinham calçado, eram sapatos antigos, não sabia do que eram feitos, enquanto eu estava de botins pretos, aí é que constatei, onde quer que fosse que estava, era tudo rústico e rural, e quem quer que fosse que tivesse ali, não falaram quando entraram, depois percebi que estavam a beijarem-se, achava que tinham-se sentado na cadeira, como iria sair e quando dali? Só me vinham perguntas a cabeça, sem saber o que fazer, então peguei no meu telemóvel do meu bolso das calças, liguei o ecrã e vi que não mostrava as horas, nem a data e nem tinha rede, parecia que tinha alguma interferência, fez um som, tinha-se desligado, e reparei que não ouvia barulho, escondi o telemóvel, senti uns passos até que levantam a colcha, um rosto espreita para mim e puxa-me pelo pulso, assim tendo que me levantar, larga-me, quando tento olhar para eles, o homem se vira para mim, que me faz reconhecer o seu rosto:
- Adam! – Deixei escapar pelos lábios como um alívio.
- O quê?! – Ele olhou-me confuso, eu aproximei-me.
- Adam, o que se passa aqui?
- O que é esse Adam e quem és tu? – Eu lhe toquei no braço.
- Eu sei que estás chateado, mas que brincadeira é esta? Ou estamos pedrados?
- Eu é que digo. Que é isto? Largue-me! – Tirei a mão de cima dele. – Adam, pedrados? Levou com uma pedra, mendiga?
- O quê?! Não! Eu não sou uma mendiga! – Apesar de não ter casa e quase dinheiro nenhum, não tinha chegado a esse ponto. A rapariga que estava com ele, não abria a boca, afastou-se, mantendo um olhar frio e estranho para mim.
- Com esse traje, então de quem se trata, a moça? E não sabe quem, eu sou, toda a gente aqui o sabe, até ela! – Apontando para ela, que estava despenteada e a roupa toda fora do sítio, ele parecia estar a ficar furioso, porque chateado, já o estava. – O que faz no meu quarto? É uma espiã do meu irmão?
- Já vi que não és o Adam. Não faço ideia de quem tu és, quanto mais o teu irmão?
- Tu sai daqui! – Apontando com os olhos para a rapariga que saiu disparava, fechando a porta, ele aproximou-se de mim, fazendo-me andar para perto da cama, ficando encurralada. – Tu agora vais-me dizer tudo. Quem és? Porque estás aqui? E o que pretendes?
- Ah... - Olhando de perto, ele tinha os olhos como duas, safarias de cor clara que me penetravam, severamente, na minha visão.
- Já! Ou preferes ser torturada.
- Queres mesmo saber?
- O que acha que estou à espera? – Era irritante, porque odeio que as pessoas respondem-me com outra pergunta.
- Eu sou Iza Thompson, quer dizer Isabella. Não faço ideia do que estou aqui a fazer, se estou drogada, bêbeda ou a sonhar. Pergunto-me porque estás assim vestido e quem és. Porque quero saber como sair daqui, porque tenho um concerto hoje à noite e tenho que estar no palco, senão os meus amigos matam-me se eu não tocar. Queres saber mais alguma coisa? – Ele desviou-se com ar pensativo, normalmente não digo que me chamo assim, a tanto tempo, digo sempre que sou Iza e todos me tratam como tal, mas já que este, que parece que roubou a cara ao meu melhor amigo e diz que ia-me torturar.
- Thompson? Não me é estranho. Então, és uma música, deve ser para minha festa de boas vindas. Tocas o quê? Quer dizer, deves é ir nos presentear com a sua voz, porque que eu saiba as mulheres não tocam instrumentos.
- Ah, na verdade, eu toco guitarra.
- Hum, o que é isso?
- Espera aí, afinal onde eu estou?
- Não sabes onde estás? Por caso, andaste perdida na adega real?
- Responde-me!
- Senhorita, não me dê ordens! Se não...
- Se não, o quê?! – Enfrentando-o, olhos nos olhos.
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605 Years Before or After
RomanceIsabella (Iza) Thompson, 18 anos, mora em Liverpool e no ano de 2015, vive a vida nos extremos, devido ao seus vícios e o seu lema é, basicamente, “Sex, Drugs and Rock’n’Roll”, faz parte de uma banda “NiceHard”, é guitarrista e compositora, diz ser...