- Capítulo 19

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Soraya flashback _

Eu tive um dia longo de trabalho, estava exausta. Cheguei em casa, deixei minha bolsa sobre a bancada da cozinha e fui procurar César.

- Amor! Cheguei!

Não fui respondida, então pensei que ele poderia estar em nosso quarto. Alisei minha barriga.

- Onde está seu pai, meu bebê? Ai, mamãe está exausta!

Eu já estava grávida de seis semanas, achei que com a gravidez que César tanto desejava, ele poderia mudar seu comportamento. Pensava que ele poderia voltar a ser o que era, mas estava enganada. Entrei no quarto e vi o homem sentado na cama; logo me aproximei.

- Oi, meu amor...

- Que amor, Soraya!? Isso lá é hora de chegar em casa!?

Vi ele se exaltar e ficar de pé. Assustada, dei um passo para trás.

- Eu tive problemas lá no escritório, César. Por isso demorei...

Ele bruscamente se aproximou e apertou meu braço fortemente.

- Para com essa ladainha, Soraya! Eu sei que você deve estar se envolvendo com algum canalha por aí! Sua vadia!

- Ai, para César! Você está me machucando! O nosso filho, César, para!

Comecei a chorar.

- Não se faça de sonsa, sua imunda!

César me empurrou contra a parede, eu só sabia chorar e pedir para ele parar. Quando caí no chão, senti uma dor forte no baixo ventre. Foi aí que gritei.

- Para, César! Pelo amor de Deus! Eu não fiz nada... de onde você tirou essa ideia... Por favor, para... meu filho, César!

A única coisa que vi foi seu olhar de desprezo. César me acertou vários golpes, inclusive na barriga. Senti uma dor imensa. Na manhã do outro dia, decidi ir ao hospital, pois tive muito sangramento durante a noite. Meu bebê... eu não podia perder meu bebê!

Infelizmente, assim que cheguei, fizemos um exame e descobrimos que minha placenta havia descolado, e o bebê poderia estar morto, sendo necessário um aborto urgente. Perdi meu bebê. César matou meu filho.

Quando cheguei em casa, após o aborto, César me bateu, e sem dó nenhum me obrigou a ter relações... o pior de tudo, ele me culpava pela perda do meu filho... dizia que eu era fraca....

Simone pov_

Eu seguia o doutor, a poucos passos de distância, com as pernas bambas e as mãos suando. Meu coração quase saltava pela boca quando o rapaz parou em frente a uma porta, assentiu com a cabeça e a abriu. Ao entrar, deparei-me com uma cena que partiu meu coração em mil pedaços.

Minha pequena Soraya estava deitada sobre uma maca, auxiliada por um aparelho de respiração. Ao me aproximar, vi seu rosto machucado, com um curativo na testa e um pequeno corte nos lábios. Seus braços apresentavam arranhões e hematomas, e sua perna direita estava enfaixada, sugerindo o local onde ela levou o tiro.

Sentei-me ao seu lado, beijei sua testa e segurei sua mão, incapaz de conter as lágrimas que insistiam em cair.

-Estou aqui, meu Sol. Por favor, acorda... Eu te amo tanto!

O tempo passou despercebido enquanto permanecia ao lado de Soraya. Já era tarde da noite, uma enfermeira insistiu para que eu fosse para casa, assegurando que ela ficaria bem. Recusei-me a sair, determinada a não deixar minha loirinha.

Por volta de 1 hora da madrugada, senti um aperto em minha mão e, ao fitar o rosto de Soraya, chamei por seu nome.

- Soraya, meu amor, estou aqui!

Ela balançou a cabeça e murmurou meu nome, como se estivesse sonhando. Foi quando ouvi sua voz pela primeira vez.

- Simone, me ajude! Por favor, Simone...

Acariciei seu rosto e a respondi :

- Estou aqui com você, meu amor.

Ao encostar minha testa na dela, percebi algo em contato com minha pele. Ao abrir os olhos, vi que ela acabara de acordar.

- Soraya, meu amor, você acordou! Comecei a chorar incontrolavelmente.

- Simone, é você? Está mesmo aqui?

Seus olhos de mel fitaram meu rosto, e as lágrimas continuaram a fluir.

- Sim, meu amor, estou aqui com você.

Um sorrisinho se formou em seu rosto.

- Tive medo, Simone!

- Eu sei, meu amor, passou...

- Por que está chorando tanto, Simone? Está tudo bem?

- Está sim, Sô. Eu senti medo de te perder... eu te amo tanto! Não saberia viver sem você.

Soraya tocou suavemente meu rosto, pedindo para eu olhá-la.

- Sisa, estou bem... estou aqui.

Abracei-a com delicadeza, consciente de sua fragilidade.

- Eu te amo tanto, pequena.

- Eu também, querida.

Uma enfermeira já havia me visitado. Ao acordar e ver Simone ao meu lado, senti como se finalmente despertasse de um pesadelo, protegida e acolhida novamente.

Simone não se afastava por um minuto sequer. Estava tão preocupada, expressando seu amor a cada instante. Impressionou-me sua dedicação, nem mesmo para fazer xixi ela saiu.

Lembro-me pouco do acidente, mas antes de ver a carreta, fui baleada, algo relacionado a... Roberto! Precisava contar a Simone.

Ela estava ao meu lado, mexendo no telefone, com os olhos inchados e vermelhos. Parecia ter chorado muito.

- Simone, preciso te contar uma coisa...

Ela olhou para mim e balançou a cabeça, pronta para ouvir.

- Não lembro de muita coisa, mas lembro de estar indo para o apartamento quando um carro preto se aproximou... era Roberto. Um rapaz alto desceu, me senti ameaçada e comecei a correr. Ouvi disparos, comecei a chorar e corri ainda mais, até ser atingida. Ao atravessar a rua, vi uma carreta enorme, depois disso, apaguei...

- Meu amor, sabia que tinha algo a ver com esse Roberto! Ele te ameaçou, Sô? Pode me contar, não vou brigar com você...

- Sim, Simone, todos os dias recebia e-mails de ameaças dele. Sempre me sentia vigiada... não te contei porque ele é perigoso. Você poderia tentar fazer algo e...

- Meu Sol! Você não pode esconder coisas de mim, ainda mais algo que pode colocar sua vida em risco...

- Me desculpe, Sisa!
Comecei a chorar.

- Não chore, meu amor! Está tudo bem... Calma...

Simone enxugou minhas lágrimas, sentando-se mais próxima.

- Obrigada por estar aqui comigo, Sisa...

- Estarei sempre ao seu lado...

- Mas como soube que sofri um acidente?

- Ué, Sô? Você ligou para mim. Eu atendi, gritei, mas você parecia não me ouvir. Depois de um tempo tentando retornar, uma mulher atendeu dizendo que uma loira sofrera um acidente. Ela me passou o endereço, e vim correndo...

Vi Soraya mudar a expressão do rosto.

- A Simone! Eu... eu lembro de na hora da correria, telefonar para alguém... só não vi para quem era.

- Que bom que foi para você.

Ficamos ali, até adormecermos. Nunca me senti tão amada por alguém. Mesmo toda fudida, Simone estava ali comigo. Isso era tudo o que importava.

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Finalmente nossa oncinha acordou 🥺❤️

Fazenda Monte Azul (Simone & Soraya)Onde histórias criam vida. Descubra agora