Simone Tebet é uma bela fazendeira que reside com sua mãe em uma extensa propriedade. Ao longo da narrativa, desvendaremos a história dessa jovem senhora, marcada por um passado misterioso. Pouco se conhece sobre essa fase anterior de sua vida, mas...
Sinto uma leve onda de ansiedade tomando conta de mim enquanto espero Simone trazer Aurora. Meu corpo ainda está tenso, o que me faz questionar se estou pronta para isso, mas algo dentro de mim implora por uma chance — uma chance de fazer diferente. Quando vejo Simone se aproximando com nossa filha nos braços, meu coração parece vacilar. Mas ao mesmo tempo, há uma fagulha de esperança que não estava ali antes. Talvez seja porque Simone acreditou em mim, mesmo quando eu mesma não conseguia. Esse amor que ela sente e demonstra por mim, me faz pensar se sou boa o suficiente pra ela...
Simone se aproxima devagar, seus olhos cheios de uma mistura de preocupação e carinho. Eu a conheço bem o suficiente para saber que, por mais que confie em mim, o medo ainda está presente. E ela tem razão de sentir isso... Depois de tudo o que aconteceu, eu mesma estou com medo.
- Aqui está ela, Sol... — Simone murmura com a voz suave, se inclinando para colocar Aurora em meus braços.
No momento em que Aurora é colocada contra meu peito, sinto seu calor pequeno e frágil. Eu prendo a respiração, meus músculos ainda rígidos, a imensidão profunda daqueles olhinhos negros dela encontra o caos dos meus, e o que vejo me desmonta. Aurora abre um sorriso singelo, quase tímido, como se soubesse que esse momento é especial.
Meu coração parece parar por um segundo. Ela sorriu para mim.
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(A expressão que a pequena Aurora fez ao estar sobre o colo de Soraya)
O peso no meu peito se desfaz por um breve instante, como se aquele pequeno sorriso fosse a chave para destrancar algo que estava trancado dentro de mim há tanto tempo. De repente, me lembro de quando descobri que estava grávida. Lembro-me da alegria que senti, das lágrimas que caíram de felicidade quando soube que carregava a vida dentro de mim. Lembro de Simone me segurando, dizendo que seríamos mães incríveis. Naquele momento, tudo parecia tão certo, tão... promissor.
As lágrimas voltam a cair, mas dessa vez não são de dor ou desespero. São de algo mais profundo, algo que quase esqueci que ainda existia em mim — amor.
- Oi, meu amor... — sussurro, minha voz embargada enquanto olho para Aurora.
Ela continua me encarando, os olhos grandes e curiosos, como se me estudasse, como se estivesse esperando por esse momento tanto quanto eu. Por um segundo, o medo dá lugar a uma paz inesperada. Sinto seus pequenos dedos se fecharem em torno de um dos meus, tão frágeis, tão confiantes de que eu sou a pessoa certa para estar aqui, agora. Eu deveria ser a pessoa certa. Fecho os olhos por um instante, sentindo o peso de Aurora em meus braços, e, por um segundo, permito-me acreditar que talvez, apenas talvez, eu consiga.
Eu abro os olhos e olho para Simone, que me observa com um sorriso pequeno, mas cheio de orgulho. Eu a decepcionei tantas vezes, mas hoje... hoje, talvez eu tenha dado o primeiro passo para mudar isso.
Aurora se remexe, suas mãozinhas pequenas tocando minha pele, como se estivesse à procura de algo. A cada movimento, minha conexão com ela parece crescer. Sem pensar muito, eu a ajeito melhor nos meus braços, trazendo-a um pouco mais perto do peito. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas novamente, mas desta vez, não me contenho.
Simone, ao meu lado, me observa em silêncio, seus olhos transmitindo todo o apoio e amor que sempre me ofereceu. Sei que ela está segurando a respiração, esperando para ver o que vai acontecer. Minha mão treme um pouco, mas quando Aurora começa a procurar o seio, algo natural e antigo toma conta de mim.
- Você consegue, faça como a primeira vez em que teve ela nos braços... - Simone sussurra suavemente, encorajando-me sem pressa.
Com um movimento hesitante, mas firme, ajudo Aurora a encontrar o caminho. Quando ela finalmente começa a mamar, uma onda de emoções me atinge. O calor de seu corpinho contra o meu, o som suave de sua respiração e o sentimento de alimentar a vida que criei me envolvem. As lágrimas que caem agora são de uma mistura de alívio e de amor tão profundo que quase me toma de surpresa.
Simone suspira ao meu lado, sua mão encontrando a minha, nossos dedos entrelaçados em silêncio. Eu me viro para ela, e no momento em que nossos olhares se encontram, sei que ela também está emocionada. O sorriso dela cresce, um brilho de orgulho enche seus olhos, e antes que eu possa dizer qualquer coisa, ela se inclina para mim. Seus lábios tocam os meus com uma suavidade que carrega todo o amor que temos, todas as promessas que fizemos uma à outra. É um beijo terno, mas cheio de significado. Não precisamos de palavras. O beijo nos une naquele instante como uma só, como a família que sempre sonhamos ser.
Quando nossos lábios se separam, Simone sorri, os olhos marejados de emoção. Ela afasta uma mecha de cabelo do meu rosto, seus dedos suaves contra minha pele.
- Ainda bem que resolvi puxar assunto quando te vi pela primeira vez em frente àquela porteira... Ela murmura, sua voz suave, carregada de afeto e memórias.
Eu sorrio, lembrando daquele dia. Um momento que parecia tão simples, mas que mudou tudo. Quem diria que aquela conversa despretensiosa nos levaria até aqui, a este momento? Aurora se alimenta calmamente, e sinto que, pela primeira vez desde que tudo começou, estou no lugar certo, na hora certa, fazendo o que preciso fazer.
- Eu também, Sisa... Ainda bem que você puxou assunto, como sempre engraçadinha... - respondo com a voz baixa, um riso contido escapando entre as lágrimas.
Simone encosta a testa na minha, nossos olhares se cruzando de novo, e por um momento, tudo está perfeito.
Foram poucos dias que fiquei sem alimentar Aurora diretamente em meus seios, mas diante desse momento, parecia a primeira vez... eu sentia uma leve dorzinha, mas nada insuportável, o importante era que finalmente voltei a ver Aurora como a Minha Filha....
