Após aquele momento em família que ficará guardado em minha memória pelo resto da vida, descemos com Aurora nos braços até a cozinha. O ar estava leve, cheio de um silêncio que só quem está em paz conhece. Aurora, em seu estado de serenidade, parecia absorver toda essa energia, aninhada em nossos braços, tão indefesa e, ao mesmo tempo, tão cheia de vida. Era como se o mundo lá fora desaparecesse, e restássemos apenas nós três, envoltas em uma bolha.Mas logo o sossego foi rompido pelo som da campainha, ecoando pela casa, anunciando a chegada das madrinhas babonas de Aurora, Janja e Leila. Soraya sorriu de canto, sabendo muito bem o que estava por vir. Tadinha da nossa pequena, mal teria paz durante o resto da tarde. Assim que abri a porta, as duas entraram como um furacão, com sorrisos largos e braços abertos, prontas para uma tarde de adoração à nossa bebê.
Aurora foi passando de colo em colo, suas bochechas recebendo um mar de beijos, seus olhos curiosos tentando entender a explosão de carinho que a cercava. Soraya, sempre observadora, acompanhava tudo com um misto de ternura e leveza. Havia algo de sagrado naquela cena; o amor, mesmo em sua forma mais barulhenta e exagerada, tinha sua beleza própria. Acho que Soraya não contou para suas melhores amigas o que tem acontecido... achei um pouco estranho, até por que elas a conhecem a mais tempo que eu, e sem falar na intimidade que ambas tem, o que me causava até ciúmes quando começamos a nos relacionar. Eu não iria de forma alguma trazer esse assunto à tona, Soraya está melhorando respectivamente, não tem o porque de eu estragar esse momento.
Enquanto as madrinhas se divertiam com cada movimento da bebê, eu me permiti um momento de reflexão. Pensei em como a vida, em sua imperfeição, ainda nos presenteava com instantes de pura perfeição. Ali, entre risos, mãos estendidas e olhares brilhantes, eu sentia a força da maternidade, da sororidade, da conexão que transcende o tempo e o espaço. Em um tempo atrás, essa realidade nem se passava pela minha cabeça quando estava ao lado do Eduardo, por mais que papai implorava por um netinho, foi só ao lado de Soraya que me permiti ser mãe. Será que ele estaria orgulhoso de mim? Será que papai por mais conservador que fosse, iria ficar ao meu lado? Infelizmente, essas indagações nunca serão respondidas...
Em certo momento, Soraya, como quem quisesse escapar do alvoroço, se aproximou de mim e pousou a mão suavemente no meu ombro.
- Vamos lá fora? - ela sugeriu, sua voz um convite para um breve instante de paz em meio àquele turbilhão de afeto, Janja e Leila costumam ser bem elétricas. Acenei em resposta, e saímos juntas, deixando Aurora nas mãos cuidadosas de suas madrinhas.Lá fora, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Ficamos em silêncio por alguns minutos, absorvendo a quietude do ambiente. Eu sabia que Soraya também estava refletindo. Ela sempre fazia isso — se perdia nos próprios pensamentos, tentando entender os ciclos da vida.
- Às vezes parece um sonho, não é?- ela murmurou, virando-se para mim, os olhos brilhando com uma profundidade que só ela possuía.
- Tudo isso... nós... Aurora. Como se estivéssemos vivendo dentro de uma história que escrevemos, e agora estamos lendo as palavras em voz alta.Eu sorri, apertando sua mão.
— Sim, e que história linda estamos escrevendo... daria um belo filme. Já passamos por tantas aventuras, fugimos de um psicopata, enfrentamos ladrões, eu fui baleada, você atropelada... Mas agora, finalmente, vivemos em paz, construindo nossa família.
Soraya sorriu daquele jeito que só ela sabia, aquele sorriso que cria ruguinhas em seu nariz e no cantinho dos olhos, que ficam pequenininhos. O brilho nos olhos dela refletia o entardecer, como se o céu e seus pensamentos estivessem sincronizados.
- Nunca imaginei que a paz pudesse ser tão... poderosa. - Ela falou em voz baixa, quase um sussurro, como se estivesse revelando um segredo.
- Depois de tudo, da dor, das fugas... eu achei que nunca conseguiria relaxar de verdade. Mas, ao olhar para Aurora, sinto que tudo foi necessário, como se estivéssemos sendo preparadas para esse momento. - Ela virou o olhar para mim, seu rosto sereno, mas com uma profundidade que eu reconhecia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fazenda Monte Azul (Simone & Soraya)
FanficSimone Tebet é uma bela fazendeira que reside com sua mãe em uma extensa propriedade. Ao longo da narrativa, desvendaremos a história dessa jovem senhora, marcada por um passado misterioso. Pouco se conhece sobre essa fase anterior de sua vida, mas...