Fazenda Monte Azul (Simone & Soraya)

- Capítulo 44

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O som ao meu redor era abafado pelos meus pensamentos. Eu segurava o lenço de meu pai nas mãos, com o peito cheio de emoção. Não conseguia compreender aquela sensação, uma mistura de antecipação e intensidade, como se algo inexplicável estivesse prestes a acontecer. Com os braços apoiados na estaca de madeira, mexia inquieta nos cabelos, presa naquele estado de espírito. Nem percebi que minha hora de entrar na arena se aproximava.

O locutor animava a plateia, que gritava com energia contagiante. Meu nome ecoava por todo o local, aumentando a pulsação do meu coração. Ao passar pela pequena passarela, fogos de artifício explodiram ao meu redor, os gritos se tornaram ainda mais altos. Parei no final da passarela, erguendo meu chapéu preto com um sorriso confiante.

Por um instante, todo aquele alvoroço se calou quando meus olhos encontraram os de Soraya. Ela sorria em minha direção, fazendo um sinal de tchau com a mão direita. Para mim, aquela cena parecia acontecer em câmera lenta. Sua barriga grande marcava o vestido florido, e seus cabelos loiros esvoaçavam como raios de sol.

Coloquei o chapéu sobre meu peito e inclinei o corpo para frente em uma saudação. Muitos pensaram que era para a plateia, mas meu amor sabia exatamente para quem era. O microfone foi entregue em minhas mãos, enchi meu peito de ar e então me pus a falar...

- Alô povo de Mato Grosso Sulllll! - Fui respondida por gritos, mulheres gritavam " Eu te amo Simone!!!" Loucamente... Soraya deve estar morrendo de ciúmes... pensei.

- Venho agradecer todo o carinho que vocês tem por mim. Nesses anos todo de vaquejada, derrubando touro bravo ao longo de minha caminhada. Agradeço minha mãe Aparecida por estar sempre a me proteger, sei que meu pai está lá em cima, torcendo a me ver! Sou uma vaqueira honrada, mas por uma loira fui laçada, aquela mulher ali sentada na arquibancada! Te amo Soraya! Essa é pra você e nossa pequena Aurora!

Todos gritaram e me aplaudiram, Soraya estava toda tímida com as bochechas coradinhas...

Enquanto a saudação se encerrava, montei no meu cavalo, sentindo a adrenalina começar a correr nas veias. O som dos cascos contra a areia e a vibração do público me envolviam, criando uma sinfonia de expectativa e emoção. O locutor anunciava minha entrada na pista, descrevendo minha trajetória.Ao entrar na arena, senti o peso da responsabilidade e a esperança de todos que acreditavam em mim. Fixei o olhar no boi que seria meu desafio. Ele também parecia sentir a tensão do momento, movendo-se inquieto, pronto para a corrida.

Com um estalo, o portão se abriu e meu cavalo disparou, impulsionado pela energia acumulada. Senti o vento no rosto e o ritmo cadenciado dos movimentos do animal sob mim. Cada comando meu era uma extensão de nossa conexão, construída com tanto treino e confiança.

O boi corria à frente, desviando e tentando escapar. Eu e meu cavalo seguimos firmes, fechando cada espaço, conduzindo-o com precisão. A plateia gritava, acompanhando cada movimento com olhos atentos. Em um momento crucial, conseguimos posicionar o boi de maneira perfeita, e eu laçei pelo chifre para derrubá-lo com uma força e habilidade que vinham de anos de dedicação.

O boi tombou, e a arena explodiu em aplausos e gritos de alegria. Senti o peso da vitória e da superação. Desci do cavalo e, com o chapéu ainda sobre o peito, procurei Soraya na multidão. Seu sorriso radiante me encheu de orgulho e amor. Caminhei até ela, que me recebeu com um abraço apertado, transmitindo toda a sua energia e felicidade.
Dentro da arena, os gritos da multidão ecoavam ao nosso redor. Soraya estava em meus braços, e aquela sensação de que algo estava para acontecer se intensificava no meu coração. De repente, senti Soraya ficar tensa. Ela apertou minha mão com força, e quando olhei para ela, seus olhos estavam arregalados de surpresa e medo.