- Capítulo 46

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_ Soraya pov

Sentada sobre a cama amarrotada, me perco em pensamentos olhando para o teto, o peso da noite se acumulando em meu peito como uma pedra. O silêncio ao meu redor é ensurdecedor, e ainda assim, dentro de mim, há um caos constante. Cada segundo parece um fardo, um lembrete do quanto falhei.

Vejo Simone entrar no quarto com Aurora nos braços, e meu coração se aperta de um jeito que não consigo explicar. A dor não faz sentido, mas está ali, me rasgando por dentro. Ela tenta falar comigo, pergunta se estou bem, mas... como eu posso responder a isso? Não estou bem. Não tenho estado bem há dias.

Quando Aurora chora, sinto meu corpo inteiro enrijecer. Não é um choro de fome ou desconforto — é o som da minha própria falha ecoando no quarto. Eu deveria ser a mãe dela, eu deveria amá-la, mas em vez disso, sinto medo. Medo de machucá-la. Medo de ser a pior coisa que já aconteceu na vida dela.

Simone fala comigo, e tudo o que eu quero é que ela fique longe, com Aurora. Não quero que chegue perto, porque a proximidade só intensifica esse sentimento esmagador de inadequação, de fracasso. Quando ela insiste, eu me levanto de repente, e sem querer a empurro. O horror do que acabei de fazer me paralisa, mas, ao mesmo tempo, há algo dentro de mim que grita que eu estava certa — eu sou um perigo.

As lágrimas começam a descer antes que eu perceba. Tento falar, tento dizer a Simone que não posso fazer isso, que não sou forte o suficiente. As palavras saem entrecortadas, mas carregadas de uma certeza devastadora: eu não sou capaz de ser mãe.

Ela me olha, chocada, tentando entender, tentando me alcançar. Simone sempre foi minha fortaleza, mas agora, até mesmo ela parece distante, como se estivéssemos em lados opostos de um abismo. Vejo a dor em seus olhos, mas isso só aumenta o meu desespero. Eu a estou decepcionando também, e isso me destrói.

Eu sei que Simone quer me ajudar, mas suas palavras não conseguem penetrar a escuridão dentro de mim. "Depressão", ela disse. "Ajuda". Como se uma palavra pudesse dar conta do peso que carrego, desse sentimento esmagador que me faz querer fugir de tudo — de Simone, de Aurora, de mim mesma.

Quando ela fala de procurar ajuda, eu balanço a cabeça, sem saber o que responder. Eu deveria querer melhorar, deveria lutar por isso... mas a verdade é que estou cansada. Cansada de lutar contra algo que não sei como vencer, cansada de fingir que sei o que estou fazendo.

E se eu não melhorar?

Esse pensamento me consome. A possibilidade de que isso seja permanente, que eu nunca consiga ser a mãe que Aurora precisa, que Simone merece. O medo me paralisa de novo.

Eu quero ser a mãe que Aurora merece, mas não consigo nem olhar para ela sem sentir que vou falhar.

O peso da escuridão é sufocante, meu corpo treme, e as lágrimas silenciosas que caem parecem infinitas. Estou tão cansada, tão perdida. Tudo o que quero é desaparecer, me esconder dessa dor que parece não ter fim.

É nesse momento que sinto uma presença ao meu lado. Sem dizer uma palavra, Simone se aproxima de mim com passos suaves. Ela se ajoelha, e antes que eu perceba, seus braços envolvem meu corpo com um abraço firme, quente, e seguro.

Ela me abraça de um jeito que eu não sentia há tanto tempo, como se quisesse me proteger de tudo, até de mim mesma. Sua mão encontra minhas costas, e sinto o calor de sua pele através da fina camada de tecido da minha camisola azul. Tento resistir, tento me afastar, mas não tenho forças. Minhas mãos ainda estão trêmulas, quase incontroláveis, mas Simone não me solta. Ela só aperta mais, formando uma concha protetora ao meu redor.

Fazenda Monte Azul (Simone & Soraya)Onde histórias criam vida. Descubra agora