Capítulo 15 - Missão

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O sótão estava atulhado de sucata de heróis gregos: suportes de armaduras cobertos de teias de aranha; escudos outrora brilhantes cheios de adesivos dizendo ÍTACA, ILHA DE CIRCE e TERRA DAS AMAZONAS.

Sobre uma mesa comprida estavam amontoados potes de vidro cheios de coisas em conserva — garras peludas decepadas, enormes olhos amarelos e diversas outras partes de monstros.

Um troféu empoeirado na parede parecia uma cabeça de serpente gigante, mas com chifres e uma arcada completa de dentes de tubarão. Uma placa dizia: CABEÇA N. 1 DA HIDRA, WOODSTOCK, N.Y., 1969.

Junto à janela, sentado em uma banqueta de madeira com três pernas, estava o suvenir mais pavoroso de todos: uma múmia. Não do tipo enfaixada em panos, mas um corpo humano feminino, ressecado até ficar só a casca. Usava um vestido de verão estampado em batique, com uma porção de colares de contas e uma bandana por cima de longos cabelos pretos. A pele do rosto era fina e parecia couro por cima do crânio, e os olhos eram fendas brancas vítreas, como se os olhos de verdade tivessem sido substituídos por bolas de gude; devia estar morta fazia muito, muito tempo.

— Oi, eu sou o Percy, prazer em te conhecer — ele disse olhando para à múmia — me disseram que uma missão não é uma missão até você dizer que é — ele continuou — o que é estranho, já que você é uma decoração de Halloween.

Olhar para ela deu arrepios nas costas dele. E isso foi antes de ela se endireitar na banqueta e abrir a boca.

— Ai, caramba! Eu tô atrapalhando, depois eu volto — disse com medo.

Uma névoa verde jorrou da garganta da múmia, serpenteando pelo chão em anéis grossos, sibilando como vinte mil cobras.

A múmia não estava viva. Era algum tipo de receptáculo horripilante para outra coisa, o poder que girava em espiral na névoa verde. Mas sua presença não parecia maligna. Era mais como as Três Parcas, tricotando o fio de lã ao lado da banca de frutas da rodovia: antiga, poderosa e, sem dúvida, não humana.

A névoa rodopiou, mais densa, juntando-se bem na frente dele e em volta da
mesa com os potes que continham partes de monstros em conserva. De repente, havia quatro homens sentados à volta da mesa, jogando cartas. Os rostos ficaram mais nítidos. Era Gabe Cheiroso e seus cupinchas.

— Ah, não!

Meus punhos se contraíram, embora eu soubesse que aquele jogo de pôquer não podia ser real. Era uma ilusão, feita de névoa.

— Ta brincando? É serio? — ele disse olhando para a figura de seu padrasto.

Gabe voltou-se para ele e falou na voz rouca do Oráculo:

— Você irá para o oeste e irá enfrentar o deus que foi desleal. Você irá encontrar o que foi roubado e vai trazer de volta em segurança.

As figuras começaram a se dissolver. De início Percy estava atordoado demais para dizer alguma coisa, mas quando a névoa recuou, enrolando-se como uma enorme serpente verde e deslizando de volta para dentro da boca da múmia, ele gritou:

— Espere! O que quer dizer?

A cauda da serpente de névoa desapareceu na boca da múmia. Ela se reclinou de volta contra a parede. A boca fechou-se bem apertada, como se não tivesse sido aberta em cem anos. O sótão ficou silencioso de novo, abandonado, nada além de uma sala cheia de suvenires.

Ele teve a sensação de que poderia ficar lá parado até juntar teias de aranha também, e não ficaria sabendo mais nada.

Sua audiência com o Oráculo estava encerrada.

— Percy? — Meddy disse enquanto jogava pôquer com Dionisio.

— Como foi? Assustador? — Dionisio disse prestando atenção no jogo.

(1) Daughter of the Sea Onde histórias criam vida. Descubra agora