Capítulo 11 - Hermes

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Em pé, bem ao lado dela, havia um cara de short de corrida de náilon e camiseta da Maratona de Nova York. Era magro, estava em boa forma, com cabelo grisalho e um sorriso zombeteiro.

— Oi Hermes — ela disse.

— Posso acompanhá-lá? — perguntou ele. — Há eras que eu não me sento.

— Ta fazendo o que aqui? — ela disse ríspida.

— Seu pai me mandou — informou o deus.

— Que?

— Ele disse que seria divertido ver você brava comigo — comentou.

— Hum.

— Ah, e Coca-Cola! Posso?

Ele se sentou na outra ponta da toalha, abriu um refrigerante e deu um gole. Ela apenas revirou os olhos e ficou quieta.

— Ah!... é exatamente o de que eu precisava. Paz e sossego em...

Um telefone celular tocou no bolso dele. Hermes suspirou. Puxou o telefone e seus olhos se arregalaram, porque aquilo brilhava com uma luz azulada. Quando ele puxou a antena, duas criaturas começaram a se contorcer em volta dela — cobras verdes, não maiores do que minhocas.

— Vou ter de atender. Só um segundo...

E, então, ao telefone: "Alô?"

Ele escutou. As minicobras se contorciam para cima e para baixo na antena
bem ao lado do ouvido dele
.
"Sim", disse. "Escute... eu sei, mas... Não me importa se ele está acorrentado a uma rocha com abutres bicando seu fígado, se ele não tem um número de protocolo, não podemos localizar seu pacote... Um presente para a humanidade, grande... Tem ideia de quantos desses nós entregamos... Ah, deixe para lá! Escute, mande-o falar com Éris, no atendimento ao cliente. Preciso desligar."

Ele desligou.

— Desculpe-me. O negócio de expresso noturno está em alta. Mas como eu ia dizendo...

— George e Martha? — Meddy perguntou.

— O quê? Ah! Digam olá, George e Martha.

— Olá, George e Martha — disse uma voz masculina estridente.

— Não seja sarcástico — disse uma voz feminina.

Por que não? — perguntou George — Sou eu que faço todo o trabalho de verdade.

— Ora, não vamos começar com isso outra vez! —Hermes enfiou o telefone de volta no bolso e Meddy riu — Agora, onde estávamos... Ah, sim!
Paz e sossego.

Ele cruzou os pés e olhou para as estrelas.

— Você tem uma constelação favorita, Meddy?

— Ahn, eu gosto de Hércules.

— Por quê?

— Bem... porque ele tinha um azar desgraçado. Pior ainda que o meu. Faz eu me sentir melhor.

— Não é porque ele era forte, famoso e tudo isso?

— Não.

— Você é uma garota muito esperta.

— Então, e agora, o que meu pai queria? — Meddy perguntou.

Antes que pudesse responder, a voz abafada de Martha, a cobra, veio do bolso
dele:

Estou com Deméter na linha dois.

— Agora não — disse — Diga a ela para deixar uma mensagem.

(1) Daughter of the Sea Onde histórias criam vida. Descubra agora