Capítulo 8

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Vinte dias antes, Sasuke desligou seu telefone e a mão que sustentava o aparelho tremia. Era como se nunca houvesse mexido. Colocou-o sobre o tampo para não quebrá-lo e começou a andar, dando voltas ao redor da mesa, porque não acreditava no que acabou de dizer. Sakura lhe contou que Naruto precisava devolver algo muito importante para si e queria fazer pessoalmente, dada a importância do item, porém não queria chegar ali de repente e nem ser inconveniente. E Sasuke disse de maneira tranquila "claro, avise que dia XX estarei disponível à tarde".

Precisou aferir sua pressão para ter certeza que não estava prestes a infartar, pois não sabia o que sentia naquele momento. Felicidade, medo, raiva, paixão, desejo, agitação, nervosismo, angústia; mal entendia seu corpo depois da separação, o que dirá da sua cabeça. Veria Naruto de novo. Tinha que se planejar muito bem para não perder o controle e cometer erros dos quais iria se arrepender.

Deus do céu, Naruto virá até si sem que ele tenha chamado - é muito para a sua cabeça lidar sozinho. Nem dormiu naquele dia, apenas pensando nas incontáveis possibilidades do que pode acontecer quando os dois se verem. A dor de cabeça causada pela noite mal dormida e pelo excesso de pensamentos não o incomodou em nenhum momento enquanto trabalhava, seguia com seus hobbies e compromissos particulares. Durante os dias que antecederam a visita, todos notaram que Sasuke parecia mais leve, ainda que mantivesse a expressão séria.

-Antônio do céu, o que é que eu faço para o lanche da tarde? - perguntou com as mãos na cabeça, encarando o cacto na janela da cozinha. - Oh Rosa, diz alguma coisa! - a suculenta estava sobre a cafeteira. - O favorito dele? O meu favorito? Um meio termo? Algo simples? - cobriu o rosto e resmungou tantos palavrões quanto conseguia lembrar porque nunca se sentiu tão indeciso. - Tem razão, Antônio , o que eu quero com essa visita? Preciso decidir isso antes.

Fitou a suculenta ao se encostar na mesa e tamborilar os dedos, ficando de olhos fechados para pensar com clareza e calma. Ter uma conversa normal com ele, descobrir por que ele pediu o divórcio de repente, quem sabe esclarecer algumas coisas, acalmar a ansiedade que se transformou numa gastrite nervosa e... Seria hipocrisia da sua parte querer contato? É doloroso manter-se distante assim da sua alma gêmea, afastados pela agressividade e pelo sofrimento.

Pela babaquice e o orgulho também, acrescentou ao buscar seu caderno de receitas.

-Então, Antônio, acho que vou fazer... - apontou para a receita ao entortar a boca enquanto cutucava a página. - Que é, Rosa? - encarou a planta. - Claro que não vou colocar pimenta. Naruto odeia pimenta. Coitado surtava de raiva quando eu preparava comida mexicana. - riu, anotou as receitas que usaria em post-its que ficaram presos na geladeira, fez um chá para acalmar seus nervos e continuou conversando suas plantas sobre Naruto, o que teria acontecido naqueles três anos.

E depois de tanto trabalhar e pensar na visita, enfim dormiu uma noite inteira sem pesadelos e nem insônia. O dia começou com Sasuke tomando chá de novo e fazendo uma boa refeição porque aquele dia será agitado. Compromissos e contabilidade pela manhã, Naruto à tarde, Deus-sabe-lá o que acontecerá de noite. Nem tem roupa para uma ocasião como essa. Até parece o dia em que teve seu primeiro encontro com Naruto e estava deplorável de nervoso, mas quando entrou nos eixos da sua rotina, aquela energia foi sendo gasta - até passou quase duas horas dançando ao invés dos exercícios habituais, por garantia.

A hora do almoço passou e suas companhias notaram o quanto ele estava agitado, embora não soubessem como expressar aquela percepção. Às duas da tarde, Sasuke começou a preparar os lanches e a organizar a sala onde receberia Naruto caso ele quisesse entrar. Havia a possibilidade de ele simplesmente empurrar o que quer que tenha trazido nas suas mãos e ir embora sem dizer nada. Tem que estar pronto para tudo e para nada também, porque seu ex-marido é imprevisível apesar de tudo.

Olá Confusão, minha velha amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora