sofrimentos.

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Horas se arrastaram como se fossem dias, cada momento se estendendo em uma eternidade de ansiedade e medo. Beth me levou para dentro da casa e me ofereceu algo para comer e mesmo com toda a agonia dentro de mim, eu comi, eu estava com tanta fome.

Meu pai havia saído há horas com Otis, em busca de suprimentos para realizar uma operação de emergência em Carl. Eu tentava me distrair, tentava pensar em qualquer coisa que não fosse a dor dilacerante que Carl estava enfrentando. Mas cada pensamento era interrompido pelo som dos gritos de dor dele, seguido pelo silêncio opressivo que se seguia.

Eu estava com medo. Medo do que poderia acontecer a Carl, medo de perder alguém que amava, medo do futuro incerto que nos aguardava.

— Vem cá, querida — Carol disse suavemente, pegando-me pela mão e me levando para fora da casa, onde os outros estavam reunidos. Eu me sentei ao lado de T-Dog e Glenn, buscando conforto na presença deles.

— Tá doendo muito? — perguntei, apontando para o ferimento de T-Dog.

Ele sorriu, tentando parecer corajoso apesar da dor.

— Agora nem tanto — respondeu, me abraçando de lado. — Seu pai já deve estar voltando — tentou me consolar, suas palavras trazendo um raio de esperança em meio à escuridão que nos cercava.

Eu queria acreditar nele, queria acreditar que meu pai e Otis encontrariam o que precisavam e voltariam em segurança. Mas, naquele momento, tudo o que eu podia fazer era me agarrar à esperança frágil que ainda brilhava dentro de mim, rezando para que ela nos guiasse através da tempestade que nos assolava.

Shane finalmente chegou com os suprimentos médicos tão necessários, mas a ausência de Otis trouxe um peso de tristeza sobre todos nós. Ele alegou que Otis se sacrificou para salvar Carl, e uma onda de pesar se abateu sobre o grupo, não conhecíamos Otis mas ele parecia um bom homem e pela reação das pessoas da fazenda, era mesmo.

Enquanto Hershel começava a operação, eu me afastei um pouco do grupo e fui para perto do meu pai, que estava do lado de fora. Ele me viu se aproximar e se abaixou, abrindo os braços para me envolver em um abraço reconfortante. Eu me juntei a ele, me permitindo ser envolvida pelo calor de seu afeto. Nós nos abraçamos com força, como se pudéssemos nos proteger um ao outro de tudo o que nos ameaçava. 

Sentei-me ao lado da cama de Carl e seus olhos se voltaram para mim. Ele estava pálido e claramente fraco, mas parecia melhor do que antes.

— Você tá feio demais. — Brinquei, tentando aliviar um pouco a tensão no ar. Carl riu, mas logo parou, mostrando sinais de dor.

— Obrigado, acho. — Ele respondeu, com um leve sorriso se formando em seus lábios, mesmo que seus olhos ainda denotassem certo desconforto.

— Que bom que você está bem agora. Ia ser chato ser a única criança por aqui. — Adicionei, tentando manter o clima leve apesar das circunstâncias.

— E a Sophia? — Ele perguntou e eu o olhei triste. 

Carl olha para mim com uma expressão de preocupação enquanto me pergunta sobre Sophia. Eu me sinto desconfortável por não ter uma resposta clara para ele.

— Ah, Carl... — começo, tentando encontrar as palavras certas. — Pela manhã, saíram para procurar Sophia de novo.

Ele me encara com um olhar confuso e menciona que Rick disse que ela já havia sido encontrada. Engulo em seco, me sentindo culpada por não estar atualizada sobre a situação.

— Bem... — murmuro, buscando uma desculpa. — Talvez você tenha entendido errado, Carl. Você estava meio dopado e confuso, sabe? Às vezes as coisas podem parecer um pouco diferentes quando estamos assim...

Tento amenizar a situação, mas sei que minhas palavras não são muito convincentes. Para desviar o foco do desconforto, pego o chapéu de Rick que Carl está usando e brinco com ele.

— Olha só, cowboy, esse chapéu fica bem em você. Talvez devêssemos arrumar um cavalo para você e sair por aí como um verdadeiro caubói. O que acha? — Tentando trazer um pouco de leveza à conversa, espero que minha tentativa de mudar de assunto ajude a dissipar a tensão entre nós.

— Isso é um chapéu de xerife. — Responde revirando os olhos e eu dou de ombros. 

—O Woody era um cawboy e era um xerife. — Respondi falando sobre ToyStory. e ele sorriu para mim. 

Deixei Carl descansar um pouco e saí para o lado de fora junto com o resto do grupo, que estava pegando água de um poço próximo. T-Dog estava prestes a beber a água que retirara do poço, mas Dale o impediu abruptamente ao descobrir algo perturbador: a água estava contaminada com um zumbi que estava no fundo do poço artesiano.

— Que nojo — murmurei, fazendo uma careta de repulsa. — Esse é o zumbi mais feio que eu já vi.

Os outros se reuniram na beira do poço, tentando descobrir como remover o zumbi de lá. Eles decidiram lançar um pedaço de presunto seguro amarrado a uma corda, na esperança de que o zumbi agarrasse a carne e pudesse ser puxado para fora do poço. Infelizmente, o plano não deu certo, pois o presunto não se movia, provavelmente devido à decomposição do zumbi.

Então, eles decidiram recorrer a uma isca humana: Glenn.

— Por que sempre tem que ser eu? — Glenn perguntou, claramente desconfortável, enquanto eles amarravam a corda em sua cintura.

— E quem mais seria? A Isabella? — Dale falou de forma irônica e eu dei alguns passos para trás, fingindo indignação, o que criou uma onda de riso ao meu redor.

Tenho percebido que meu pai está diferente ultimamente. Ele parece mais distante, como se estivesse mergulhado em seus próprios pensamentos, e isso me deixa preocupada e confusa. Não sei ao certo o que fazer para ajudar, então decido apenas observar em silêncio, tentando entender o que está acontecendo.

Sentada embaixo de uma árvore, estou perdida em meus próprios pensamentos quando avisto Daryl não muito longe dali. Decidida a encontrar uma distração, levanto e me aproximo dele.

— O que você está fazendo? — pergunto, fazendo Daryl se virar para mim, ele provavelmente estava indo pegar algum cavalo.

— Não te interessa — ele responde rudemente, seu olhar sério fixo em mim.

— Mas aposto que interessa ao Hershel... — retruco, tentando manter minha compostura diante da hostilidade de Daryl.

— Isabella, você é a criança mais insuportável do mundo — ele diz, sua voz carregada de frustração e irritação, ele não era meu maior fã e nem eu a maior fã dele.

— Oque você vai fazer? 

— Pegar um cavalo para procurar a Sophia e se você falar isso para alguém, ela não vai ser a única criança perdida na floresta. — Revirei os olhos e voltei para onde estava.

Alguns eventos turbulentos ocorreram nos últimos dias. Uma situação particularmente tensa aconteceu quando Andrea quase acertou um tiro em Daryl, achando que ele era um zumbi. 

Durante o jantar, percebi Glenn e Maggie trocando bilhetes em segredo, como se fossem um casal de crianças trocando bilhetinhos na escola.

Certo dia, enquanto estava com Lori e Carl, que já estava totalmente recuperado de seu ferimento, alimentando as galinhas, avistei Glenn sozinho à distância. Quando me aproximei, notei que ele estava observando algo com binóculos. Antes que pudesse ir falar com ele, Maggie apareceu.

— Você precisa guardar segredo, por favor — ela sussurrou, com uma urgência palpável em sua voz.

As palavras dela me deixaram intrigada, e minha curiosidade só aumentou quando ouvi a resposta de Glenn.

— Tem zumbis naquele celeiro, você sabe o quanto isso é loucura? — Glenn respondeu, sua voz carregada de preocupação e incredulidade.

Meu coração acelerou ao ouvir aquelas palavras. Zumbis no celeiro? A ideia parecia absurda, mas a seriedade na expressão de Glenn e a urgência na voz de Maggie me fizeram perceber que havia algo muito sério acontecendo. Instintivamente, me escondi ainda mais para que eles não notassem minha presença, chocada com a revelação e tentando processar o que acabara de descobrir.

Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇsOnde histórias criam vida. Descubra agora