Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇs

Novas pessoas

Os dias na prisão pareciam se estender em uma rotina monótona e cansativa, mas ao mesmo tempo, ofereciam um vislumbre de normalidade em um mundo despedaçado pela tragédia. Enquanto nos adaptávamos aos corredores sombrios e às grades frias que agora chamávamos de lar, os prisioneiros ocupavam um bloco de celas distante de nós, mantendo uma distância cautelosa entre nossos grupos.

No entanto, alguns dos prisioneiros se mostraram dispostos a colaborar, ajudando Hershel com as plantações que em breve começaríamos. Era uma aliança improvável, mas uma necessidade mútua nos forçava a deixar de lado nossas diferenças em prol da sobrevivência.

Eu estava sentada perto das grades com Carl, nossas vozes suaves se misturando aos grunhidos dos zumbis que envolviam o ambiente. Conversávamos sobre a prisão, trocando observações sobre como era bom finalmente ter comida suficiente e um lugar para nos abrigar.

Foi então que uma movimentação estranha do lado de fora capturou nossa atenção. Olhei através das grades, meu coração acelerando ao ver uma pequena família se aproximando: um homem, uma mulher, dois adolescentes e duas crianças até mais novas do que nós. A incerteza pairava no ar enquanto observávamos a cena, e Carl, instintivamente, correu para chamar Rick.

Rick, Daryl e Glenn se aproximam da entrada, cautelosos com a presença desconhecida do outro lado das grades. O homem que pede ajuda parece tenso, mas sua voz transmite calma quando ele se apresenta como Tyreese, acompanhado por Michonne e os outros membros de sua família.

— Nós encontramos ela no caminho e ela se juntou a nós — Tyreese explica, mantendo um tom pacífico apesar das armas apontadas para ele. — Essa é minha filha Julie, seu namorado Chris, e as gêmeas Susie e Rachel. Não queremos causar problemas, só estamos buscando abrigo.

Rick troca um olhar rápido com Daryl e Glenn, avaliando a situação. Depois de um momento de silêncio tenso, ele baixa sua arma, indicando que é seguro para Tyreese e sua família entrarem.

— Vocês podem entrar, mas se mantenham próximos e sigam as regras. Não toleramos violência aqui — diz Rick, sua voz firme e autoritária. Ele está determinado a garantir a segurança de todos nós, mesmo diante da incerteza que a chegada desse novo grupo traz consigo.

Com um aceno de cabeça, Tyreese agradece a oportunidade e conduz sua família para dentro da prisão.

Observo de longe enquanto Rick, Lori e Carl conversam animadamente, envoltos em sua bolha de felicidade familiar. Eles parecem tão unidos, tão completos, e uma pontada de inveja se insinua em meu peito enquanto me sinto como um espectador solitário de uma cena que nunca poderei ter novamente.

Sento no chão frio, envolvendo meus braços em volta dos joelhos enquanto observo a cena com um nó na garganta. A ausência de minha própria família parece ainda mais palpável agora, e a raiva por Lori floresce mais uma vez em meu coração, como uma chama ardente que se recusa a se extinguir.

Mas então, Maggie e Glenn se aproximam de mim, interrompendo meus pensamentos sombrios. Eles têm sorrisos gentis nos rostos, e isso me faz sentir um pouco melhor, mesmo que apenas por um momento.

— Temos uma surpresa para você, Isabella — diz Maggie, com um brilho travesso nos olhos.

Confusa, levanto do chão e os sigo enquanto eles me conduzem até uma quadra próxima. Glenn aponta ao redor, explicando que era provavelmente onde os presos praticavam esportes.

— Nós limpamos tudo com Tyreese e os outros, e... — ele diz, deixando sua frase no ar enquanto um sorriso misterioso se espalha por seu rosto.

Maggie segura uma bola nas mãos, e seu gesto me deixa curiosa sobre o que eles estão planejando.

— Eu achei isso aqui — ela diz, me oferecendo a bola com um sorriso encorajador. — Que tal se divertir um pouco?

Olho para a bola em suas mãos, e um pequeno sorriso surge em meus lábios. Talvez seja hora de deixar um pouco de leveza entrar em minha vida, mesmo que apenas por um momento. Com um aceno hesitante, aceito a bola, sentindo um frágil raio de esperança se acender em meu coração.

À medida que as risadas de Maggie, Glenn e eu ecoam pelo local, o som atrai a atenção de outros membros do grupo. Logo, Carl se junta a nós, seu rosto iluminado por um sorriso contagioso. E não demora muito para que Susie e Rachel, as gêmeas, também se aproximem, curiosas para ver o que está acontecendo.

A atmosfera ao nosso redor parece mais leve, mais animada, à medida que a brincadeira se desenrola. Os sons de risos e vozes preenchem o ar, dissipando um pouco da tensão que pairava sobre nós. Por um momento, esquecemos as preocupações do mundo lá fora e nos entregamos à alegria simples de compartilhar um momento de diversão juntos.

— Ganhamos! — O riso de Glenn se mistura ao meu quando eu pulo em seu colo, compartilhando a alegria do momento. Ele estende a mão, e eu bato nela com entusiasmo, sentindo uma sensação de camaradagem e união que há muito tempo não experimentava.

— O melhor time do mundo, com certeza! — concorda Glenn, seu sorriso brilhando com uma felicidade contagiante.

Maggie e os outros se juntam a nós, rindo e comemorando nossa vitória improvisada na quadra da prisão.

Glenn e Maggie me chamam para conversar depois do jantar. Enquanto nos sentamos juntos, percebo a seriedade em seus olhos, mas também uma ternura que me aquece por dentro.

Glenn começa a falar, sua voz um pouco hesitante, como se estivesse preocupado com minha reação. Ele menciona nossa diferença de idade, sete anos que me deixa confusa, mas então ele diz algo que me deixa atônita.

— Maggie e eu estávamos conversando, e... bem, queremos formalizar algo que já está em nossos corações há muito tempo. Queremos te "adotar", Isabella. Queremos ser sua família de verdade.

Suas palavras ecoam em minha mente, e por um momento, meu coração parece parar. A ideia de ser parte de uma família outra vez é tão surpreendente quanto comovente. Eu nunca pensei que alguém pudesse me oferecer algo assim, especialmente em um mundo como este, principalmente depois de Rick me ignorar por completo enquanto eu esperava que ele cuidasse de mim.

Minha mente está girando enquanto processa o que Glenn acabou de dizer. Eu olho para Maggie, vendo a mesma expressão de ternura e esperança em seu rosto. Ela me olha com os olhos cheios de amor e preocupação, esperando minha resposta.

Não consigo conter a emoção que cresce dentro de mim. Em um impulso, me levanto da cadeira e os abraço com força, deixando que minhas lágrimas de alegria e gratidão fluam livremente.

— Eu... eu não sei o que dizer — murmuro, lutando para encontrar as palavras certas para expressar o que estou sentindo. — Vocês... vocês já são minha família, de uma maneira que nunca imaginei. E se vocês querem me adotar de verdade, eu... eu adoraria. Eu adoraria ser parte dessa família incrível.

Maggie sorri e me envolve em seus braços, e Glenn se junta ao abraço. É um momento de pura felicidade e aceitação, onde as preocupações do mundo exterior desaparecem e só resta o amor que compartilhamos como uma família escolhida.

— Você sempre foi parte de nós, Isabella. Esta é apenas uma formalidade para tornar isso oficial — diz Maggie, seus olhos brilhando com ternura. — Mas queremos ter certeza de que é isso que você quer também. Quer fazer parte da nossa família para sempre?

— Você era tipo uma irmãzinha caçula mas depois da fazenda, eu não podia deixar você só e foi quando fui falar com a Maggie e ela não pensou duas vezes.

Suas palavras tocam meu coração, e eu não hesito em responder.

— Sim. Sim, eu quero fazer parte desta família para sempre.

Com sorrisos radiantes, nos abraçamos mais uma vez, celebrando o vínculo que nos une e a promessa de um futuro juntos, não importa o que o destino nos reserve.