Na minha mente.

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Levantei da cama com dificuldade, sentindo cada músculo protestar contra o movimento. A dor era uma constante em minha vida agora, mas a sensação de ficar parada, presa naquela cama, era ainda pior. Com esforço, caminhei até o banheiro, decidida a me livrar do gesso.

A água quente do chuveiro caía sobre mim, levando embora a sujeira e o desconforto acumulados. Finalmente, retirei o gesso, sentindo um alívio imediato. Não suportava mais aquela sensação de incapacidade. Com meu tempo de vida tão limitado, passar meus dias presa não fazia sentido algum.

Me vesti com cuidado, sentindo o peso da decisão que tinha tomado. As pernas ainda doíam, e cada passo era um lembrete da minha fragilidade, mas eu daria um jeito de superar isso.

Desci as escadas devagar, uma mão segurando o corrimão com força. Cada degrau era uma pequena vitória. Chegando ao final da escada, me senti um pouco mais confiante, apesar do desconforto.

Enquanto caminhava pela casa, ouvi uma voz suave, quase um sussurro, que fez minha pele se arrepiar.

— Isabella?

Meu coração acelerou, e me virei rapidamente para olhar, mas não havia ninguém ali. A casa estava em silêncio, como se tivesse sido um produto da minha imaginação. Balancei a cabeça, tentando afastar o desconforto.

Continuei andando pela casa, tentando afastar a sensação de que alguém estava me observando. Fui até a cozinha e joguei uma água em meu rosto, mas quando levantei a cabeça, pelo reflexo da janela, atrás de mim, eu pude ver ele; Shane.

Me virei rapidamente e novamente, nada, era certo, eu estava ficando louca, meu tinha morrido a anos, eu vi ele morrer.

—Respira.— Falei comigo mesma, fechei os olhos com força e respirei fundo.

— Essas coisas de surtar, é de família.— Abri meus olhos vendo o homem ali, parado na minha frente.

—Eu tô louca ou tô morrendo?— Questionei e ele riu, céus, como eu sentia falta do sorriso dele.

— Talvez um pouco dos dois. — Shane respondeu, seu sorriso familiar preenchendo o ambiente de uma nostalgia dolorosa. — Eu sei que isso parece insano, mas estou aqui para você, Bells.

— Eu... eu sinto tanto a sua falta. — Minha voz saiu trêmula, e eu tentei segurar as lágrimas.

— Eu sei. — Shane deu um passo à frente, como se pudesse realmente me alcançar. — Mas você é forte. Sempre foi.

Eu balancei a cabeça, lutando contra a maré de emoções que sua presença desencadeava.

— Como posso ser forte quando tudo está desmoronando? — Minhas palavras saíram como um sussurro desesperado.

— Você não vai se dar por vencida, vai? Tem gente lutando pra você ficar viva, mas não vai adiantar de merda nenhuma, se você não quiser.

Eu o encarei, sentindo a verdade em suas palavras. Ele tinha razão. Carl, Rick, Maggie, todos estavam fazendo o possível para me ajudar, mas eu precisava querer lutar também.

— Eu só... não sei se consigo. — Minha voz quebrou, e lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

— Eu sou seu pai, eu sei que você consegue. — Shane se aproximou mais, sua presença quase tangível. — E filha... eu sinto muito por tudo, eu amo você. 

Aquelas palavras, simples mas tão poderosas, me tocaram profundamente. Meus ombros relaxaram um pouco, e a dor em meu peito parecia um pouco mais suportável.

— Eu também te amo, pai. — As palavras saíram quase como um sussurro.

E com isso, ele desapareceu, a porta da frente se abriu e eu caminhei até lá, Glenn entrou conversando com Maggie tão distraídos que mal notaram minha presença.

Peguei eles de surpresa, os abraçando com força. Eles se assustaram por um momento, mas logo retribuíram o abraço, me envolvendo em um caloroso laço de amor e apoio.

— Eu não quero morrer.— Eu disse segurando as lágrimas, mas quando Maggie chorou, eu não consegui me conter.

Eu estava sentada na cozinha, observando Carl ler atentamente um livro. Era raro vê-lo tão concentrado em algo que não envolvesse algum tipo de ação.

— Eu nem sabia que você sabia ler. — Debochei, e ele riu, sem tirar os olhos das páginas.

Negan entrou na casa acompanhado de um homem que eu não conhecia. Eu ainda não tinha me acostumado com a presença de Negan ali, e meu corpo se retesou instintivamente. Olhei para ele, esperando que dissesse algo.

— Esse é o John, ele é um puta médico cirurgião. Bom, ele era. — Negan explicou, e eu continuei sem entender.

— Eu não preciso de cirurgia, então não tem porque ele estar aqui. — Respondi séria, tentando controlar minha irritação.

— Sua mãe tá grávida, não tá? — O médico começou a falar, sua voz calma e paciente. — No seu caso, o transplante de medula óssea pode te curar.

— Isso seria ótimo. — Disse, olhando para minhas mãos e depois para ele. — Mas eu não sou filha biológica da minha mãe e nem do meu pai.

— Você não tem nenhum irmão? Nenhum filho nem mesmo de só um dos seus pais biológicos? — Perguntou o médico, sua expressão ainda serena.

Olhei para Carl e depois para um ponto fixo na parede. Eu tinha a Judith, mas não podia falar sobre isso. Seria demais para ela, uma criança, saber que era fruto de uma traição.

— Não, não tenho. — Respondi, sentindo o olhar sério de Glenn sobre mim. Ele sabia a verdade, e Negan me olhou com desconfiança.

Carl, percebendo a tensão no ar, fechou o livro e olhou para mim com uma expressão preocupada.

— Isabella... — começou Carl, mas eu levantei a mão, pedindo para ele parar.

— Está tudo bem, Carl. — Disse, tentando soar convincente. — Vamos encontrar outra solução.

Negan, no entanto, não parecia convencido.

— Tem certeza de que não está escondendo nada de nós? — Ele perguntou, sua voz cheia de suspeita.

Eu olhei diretamente nos olhos dele, tentando não deixar transparecer minha ansiedade.

— Tenho certeza. — Respondi firme. — Não tenho ninguém que possa me ajudar com isso.

Negan ainda parecia cético, mas não pressionou mais. John, o médico, apenas assentiu, respeitando minha resposta.

Enquanto todos se dispersavam, Carl se aproximou e segurou minha mão.

— Vamos dar um jeito nisso, Isa. — Ele disse com determinação. — Não vamos desistir de você.

Eu apertei a mão dele de volta, agradecida pelo apoio, mas o peso do segredo que guardava ainda pressionava meu coração. Podia ser minha única opção.

Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇsOnde histórias criam vida. Descubra agora