Ela vai voltar

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Carl Grimes

Eu esperei, esperei e continuei esperando, mas parecia que as horas não passavam. O relógio na parede parecia estar congelado, cada segundo se arrastando, me torturando com sua lentidão. As paredes brancas da sala de espera, o som distante das vozes de Glenn, Maggie e meu pai deixavam tudo mais agonizante.

Me disseram que a cirurgia seria rápida, que logo ela estaria acordada e tudo estaria bem. Mas as horas passaram, e nada. A Isabella ainda não havia voltado. Eu tentei me manter firme, manter a calma como sempre faço, mas a preocupação estava me consumindo.

Minhas mãos estavam suadas, e eu as esfregava nas calças, tentando controlar a ansiedade. Cada vez que alguém passava pela porta, eu me levantava, esperando que fosse o médico, que viesse com boas notícias. Mas não era. E a espera continuava.

Eu fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos negativos, mas eles vinham de qualquer jeito, como uma maré que eu não podia conter. O que aconteceria se ela não acordasse? Como eu viveria num mundo sem ela? Essas perguntas giravam na minha mente, e a impotência me esmagava.

Eu tinha passado por muita coisa na minha vida, perdido pessoas que eu amava, lutado contra inimigos inimagináveis. Mas nada disso me preparou para o medo de perder Isabella. Ela era meu ponto de equilíbrio, a pessoa que me fazia acreditar que, apesar de tudo, ainda havia algo pelo qual valia a pena lutar.

Olhei para o relógio mais uma vez, mas ele ainda parecia estar no mesmo lugar. Me levantei e comecei a andar pela sala, tentando liberar a tensão no corpo. Mas nada funcionava. Eu queria estar lá dentro, segurando a mão dela, dizendo que tudo ficaria bem, mas tudo o que eu podia fazer era esperar.

E se a energia do gerador acabasse? Eles já usam isso a anos, e se os zumbis invadirem e não ter como ela correr? Minha mente se enchia de ideias.

E então, finalmente, a porta se abriu. Eu parei, meu coração batendo descontrolado. O médico entrou, tirando a máscara cirúrgica e me olhando com uma expressão que eu não consegui decifrar de imediato.

— Olha...— Ele começou, e eu senti todo meu corpo gelar. — A Isabella estava muito frágil, provavelmente sentindo muita dor e não contou pra gente. O que era para ser simples se tornou complicado, e ela ficou um tempo sem oxigênio.

— O que você está querendo dizer? — Meu pai foi o único que teve coragem de perguntar. O médico suspirou e olhou para Glenn e Maggie, o peso da notícia refletido em seus olhos.

— Eu não sei se a filha de vocês vai acordar.

Aquelas palavras caíram como uma bomba na sala, o ar parecia ter sido sugado de dentro de mim.

Senti o mundo ao meu redor se desintegrar, as vozes se tornando ruídos distantes.

Minha visão ficou turva, e tudo que eu conseguia pensar era que não podia ser verdade. Não podia perder Isabella, não depois de tudo.

Ela tinha que acordar, tinha que abrir os olhos e me dizer que tudo ficaria bem. Mas agora, a única coisa que me restava era esperar. Maggie quase desmaiou, foi segurada pelo meu pai, já que Glenn parecia nem existir dentro de si enquanto eu parecia existir demais.

"Estava escorado na parede, os braços cruzados, tentando parecer desinteressado, mas meus olhos não saíam de Isabella. Ela estava a alguns metros de mim, conversando com Glenn e Maggie, a voz dela cheia de entusiasmo. A luz do final da tarde dourava seus cabelos castanhos, que balançavam levemente enquanto ela falava e gesticulava com energia. Eu não conseguia tirar os olhos dela, como se estivesse hipnotizado.

De repente, ela se virou, como se tivesse sentido meu olhar. Nossos olhos se encontraram, e por um momento, o mundo ao redor desapareceu. Os olhos dela, de um azul tão profundo quanto o oceano, pareciam vasculhar cada parte da minha alma. Meu coração começou a bater tão forte que eu tive certeza de que todos ao redor podiam ouvir. O que estava acontecendo comigo?

Ela me olhou por um instante, o rosto confuso. Então, franziu as sobrancelhas e, do nada, ergueu o dedo do meio para mim, um gesto cheio daquela implicância que sempre tivemos um com o outro. Antes que eu pudesse reagir, ela deu uma risada e correu para dentro da prisão, me deixando ali, com o coração batendo feito um tambor descontrolado.

Eu nem sabia o que era isso que estava sentindo, mas naquele momento, aos treze anos, percebi que estava apaixonado por Isabella."

Fui para o quarto onde ela estava, seu rosto mais pálido que o normal, demonstrando pela primeira vez o quão fraca ela estava. Nem um sinal, nada, nem um pequeno resquício de que ela acordaria em breve.

Eu passei horas ali, Maggie e Glenn fizeram o mesmo, Maggie mesmo incomodada com a barriga que já estava quase explodindo por ser o último mês da gestação mesmo assim, ela se recusava a sair.

Eu saí do quarto da Isabella de repente, a irritação fervendo dentro de mim. Meus pés batiam forte no chão, cada passo carregando a raiva que eu não conseguia mais segurar. O quarto estava ficando sufocante, o silêncio opressor demais, o silêncio gritando, como lembrete constante de que a vida dela estava por um fio. Eu precisava sair de lá antes que perdesse o controle de vez.

Passei pela porta do hospital, sentindo o ar frio da noite atingir meu rosto, mas nem isso conseguia aliviar o desespero que estava consumindo cada parte do meu ser. Minhas mãos se moveram automaticamente, esfregando o rosto, como se isso pudesse me ajudar a pensar, a organizar o caos na minha mente. Mas não ajudou.

Gritei, o som saindo mais alto e mais feroz do que eu esperava, ecoando pelo estacionamento vazio. Não sabia se estava gritando para Deus, para o universo ou para mim mesmo. Tudo o que sabia era que a injustiça de tudo isso estava me destruindo por dentro.

— Por que você deixa isso acontecer?! — eu berrei, as palavras se soltando de mim com uma força que me deixou tremendo. — Por que você deixa todas essas merdas acontecerem? Por que ela? Por que a Isabella? — A raiva misturada com desespero transbordava, e eu me sentia impotente, um sentimento que eu odiava com todas as minhas forças. — Eu não mereço isso! Ela não merece nada disso!

Eu estava falando com qualquer coisa que pudesse me ouvir. Porque, naquele momento, eu não tinha ninguém mais a quem culpar. Eu queria respostas, queria entender por que parecia que o mundo estava contra nós, contra mim, sempre levando embora as pessoas que eu mais amava. Primeiro minha mãe, depois tantos outros... e agora a Isabella. Era demais para suportar.

Minhas pernas cederam, e eu caí no chão, abraçando meus joelhos como se isso pudesse impedir meu corpo de se despedaçar de vez. As lágrimas finalmente romperam a barreira que eu estava tentando manter erguida, e comecei a chorar, soluçando descontroladamente, o corpo sacudindo com a força das minhas emoções.

Tirei o chapéu da cabeça, o velho chapéu que era do meu pai, e o segurei nas mãos, o encarando como se ele fosse a única coisa que ainda me ligava a alguma espécie de sanidade. Olhei para o céu, as estrelas parecendo tão distantes, tão indiferentes ao meu sofrimento.

— Se você existe mesmo, acorda ela. — Minha voz saiu fraca, rouca, quase um sussurro. — Por favor, acorda a Isabella. Eu não posso perder ela. Não depois de tudo.

O céu continuava em silêncio, as estrelas brilhando lá em cima, como sempre fizeram, como se não dessem a mínima para as minhas súplicas. Eu não sabia se Deus estava ouvindo, se ele existia de verdade, mas naquele momento, eu precisava acreditar que sim, porque essa era a única coisa que me restava. A única esperança que eu ainda tinha.

Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇsOnde histórias criam vida. Descubra agora