A igreja de Padre Gabriel não era um lugar espaçoso, mas era o que tínhamos no momento. As paredes de pedra ofereciam uma sensação de segurança que, mesmo que ilusória, nos permitia descansar um pouco. As noites eram mais tranquilas ali, e todos nós aproveitávamos esse breve alívio antes de continuar a busca por um novo lar.Naquela manhã, decidimos ir até a cidade próxima procurar por suprimentos. O plano era simples: nos dividiríamos em grupos menores para cobrir mais terreno. Carl e eu fomos encarregados de procurar suprimentos para Judith e remédios em uma farmácia local, enquanto os outros procuravam por comida.
Entramos na farmácia, e a atmosfera fria e silenciosa me fez arrepiar. As prateleiras estavam reviradas, mas ainda havia algumas coisas úteis. Começamos a vasculhar rapidamente, pegando fraldas, leite em pó, medicamentos e qualquer outra coisa que pudesse ser útil.
Enquanto eu procurava por antibióticos, Carl se aproximou, carregando uma caixa de fórmulas infantis.
— Encontrou alguma coisa? — Carl perguntou, colocando a caixa no chão e se aproximando mais.
— Sim, algumas coisas boas. — Respondi, tentando manter a voz estável enquanto meu coração batia mais rápido. — E você?
— Só isso por enquanto. — Ele disse, sorrindo de leve. — Mas ainda precisamos de mais remédios.
Continuamos procurando, o silêncio entre nós carregado de uma tensão estranha e nova. Às vezes, nossos olhares se cruzavam e a sensação de que algo estava mudando entre nós se tornava mais evidente. Estávamos crescendo, não apenas em idade, mas nas experiências e sentimentos que compartilhávamos.
Enquanto eu me esticava para alcançar uma prateleira alta, perdi o equilíbrio e quase caí, derrubando algumas caixas.
O som de caixas caindo chamou a atenção dos zumbis na rua, que começaram a se dirigir para a farmácia. O pânico se instalou em mim enquanto os mortos-vivos se aproximavam. Carl e eu trocamos um olhar rápido e urgente, e ele imediatamente me puxou para um canto da loja, onde prateleiras caídas formavam uma barricada improvisada.
— O que a gente vai fazer? — perguntei, minha voz tremendo de nervosismo. Carl levou a mão até a boca, fazendo sinal para que eu ficasse em silêncio.
Os zumbis invadiram a farmácia, grunhindo e derrubando tudo no caminho. Eles passaram por nós, suas presenças sinistras criando uma tensão quase insuportável. Ficamos imóveis, mal respirando, esperando que eles não nos notassem.
De repente, um barulho ainda mais alto do lado de fora chamou a atenção dos zumbis, que começaram a se mover em direção à origem do som. Carl e eu permanecemos escondidos, observando enquanto eles saíam da farmácia.
Quando o último zumbi finalmente desapareceu, soltei um suspiro de alívio. Olhei para Carl, a distância entre nós quase inexistente. Nossos olhos se encontraram, e a intensidade do momento fez meu coração bater mais rápido. Sua respiração ofegante espelhava a minha, e a proximidade criou um momento de tensão carregada.
Por um instante, todo o caos ao nosso redor desapareceu, e tudo o que importava era ele, tão próximo, tão real. Era como se o mundo tivesse parado, nos dando um breve respiro em meio ao inferno que vivíamos.
— Isabella... — Carl sussurrou, sua voz baixa e cheia de emoções que ele ainda não conseguia expressar.
Não consegui responder. Tudo o que podia fazer era olhar para ele, sentindo uma conexão profunda que nos unia naquele momento. Finalmente, me permiti relaxar um pouco, a adrenalina começando a diminuir.
— Precisamos sair daqui — ele disse, quebrando o silêncio, mas ainda mantendo os olhos nos meus. Eu assenti, sabendo que ele estava certo mas um pouco frustrada.
Com cuidado, levantamos e começamos a nos mover para fora do nosso esconderijo, prontos para voltar para a igreja e compartilhar o que havíamos encontrado.
Estamos em uma pequena sala que parece ser o gabinete do padre, revirando gavetas e prateleiras em busca de qualquer coisa doce. Faz tanto tempo que não vemos doces que até uma barrinha derretida seria um tesouro.
Carl abre uma gaveta e solta uma risada.
— Roubar doce de padre na igreja. Deve ser um pecado extra, né? — diz, me fazendo rir.
Finalmente, com um pouco de sorte, encontramos uma barrinha de chocolate com caramelo, completamente derretida, mas ainda assim irresistível. Nós sentamos no sofá, dividindo a barra entre nós, cada pedaço saboreado como se fosse ouro.
— Se tá bom agora, imagina se tivesse na validade — digo, lambendo os dedos sujos de chocolate.
— Ah, para. Depois de três anos, não tá tão estragado assim — responde Carl, me fazendo rir novamente. — Cagou seu rosto todo — ele acrescenta, levando a mão até o meu rosto para limpar uma mancha de chocolate. Seu toque roça a cicatriz que Thomas me deixou um ano atrás.
Sinto meu corpo arrepiar com o toque de Carl, como se fosse algo que eu esperava há muito tempo, como se seu toque pudesse restaurar minhas energias.
— Carl? — chamo, meus olhos fixos nos dele. — Lembra de quando você me beijou na prisão?
— O beijo que você quase me bateu por causa dele? — questiona, e eu rio. — O que tem ele?
Não respondo, apenas me inclino e o beijo.
A princípio, Carl parece surpreso, mas logo sinto sua resposta, calorosa e intensa, como se estivéssemos recuperando algo perdido há muito tempo. No meio daquele gabinete, com o gosto de chocolate e caramelo ainda nos lábios, nos encontramos novamente, em um momento que parece suspenso no tempo.
O beijo foi ficando mais intenso e eu podia sentir minha pele queimar. Meus dedos puxavam levemente o cabelo de Carl para trás e ele me puxava cada vez mais para ele. De repente, ele me puxou, me fazendo sentar em seu colo.
O beijo continuou e eu sentia meu pulmão implorar por ar, mas não conseguia parar. As mãos de Carl desceram para minha cintura, me puxando e empurrando, para frente e para trás. Soltei um gemido abafado no beijo. Nos afastamos minimamente para respirar, nossos olhos fixos um no outro, e então suas mãos entraram na minha blusa.
O barulho da porta se abrindo nos fez pular de susto.
— O que? — Glenn disse, parado e assustado ao ver a cena. — Sai daí, garota.
Glenn parecia um pai ciumento enquanto Maggie, ao seu lado, gargalhava da situação.
— Não acredito que vocês dois... aqui? — Maggie disse, rindo tanto que quase chorava.
Eu e Carl nos ajeitamos rapidamente, ainda ofegantes e um pouco envergonhados, mas também com um sorriso no rosto. Olhar para Carl naquele momento, com Glenn reclamando e Maggie rindo, fez tudo parecer um pouco mais normal e um pouco mais certo.
Naquela noite, dormimos todos amontoados, cercados pelas paredes da igreja. Era apertado e desconfortável, mas por um breve momento, me senti segura. A presença de todos ao meu redor me dava força para continuar.
Na manhã seguinte, acordamos cedo. A luz do sol começava a entrar pelas janelas da igreja, iluminando os rostos cansados, mas determinados, de nosso grupo. Tomamos um café da manhã rápido, dividindo o pouco que tínhamos entre nós.
Enquanto nos preparávamos para sair novamente, Carl e eu tivemos um momento a sós.
— Isabella, sobre ontem... — Carl começou, mas eu o interrompi.
— Eu sei, Carl. Não precisamos falar sobre isso agora. — Eu disse e em seguida olhei para Glenn que se aproximava de nós dois.
— Olha só, eu sou um pai legal, com filha adolescente e tudo mais mas se vocês estiverem namorando...— Glenn começou e eu cortei antes que ele terminasse.
— Não estamos namorando.— Falei e Carl concordou.— Pai, não faz isso.— Disse entre dentes caminhando com as bolsas para fora da igreja.
O sol estava alto e a caminhada seria longa, não tínhamos destino mas infelizmente não dava para viver naquela igreja para sempre.
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Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇs
FanficIsabella sempre soube que sua vida não seria fácil, mas o apocalipse zumbi trouxe desafios inimagináveis. Filha de Shane, um homem cujas decisões controversas moldaram o início do novo mundo caótico, Isabella se vê ignorada e desprezada por Rick apó...