o retorno

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Caminhava até a cerca, o sol já estava começando a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Meus passos eram lentos e pesados, minha mente ainda presa nos acontecimentos recentes. Quando me aproximei, vi Lizzie e Mika perto da cerca, observando os zumbis do outro lado. Havia algo estranho na maneira como Lizzie olhava para eles, como se estivesse vendo algo que eu não conseguia.

Cheguei mais perto, tentando entender o que estava acontecendo. Foi quando ouvi Lizzie sussurrando para Mika.

— Eles estão vivos, só estão diferentes. — Ela dizia, seus olhos fixos nos zumbis. — Eles falam comigo.

— Lizzie, isso é loucura. — Eu disse, minha voz cheia de uma mistura de preocupação e frustração. — Eles estão mortos. Você precisa parar com isso.

Lizzie se virou para mim, seus olhos cheios de determinação e um toque de desespero.

— Não, você não entende! — Ela respondeu com veemência. — Eles estão vivos. Só estão diferentes agora!

Minha paciência estava se esgotando. O perigo que ela estava criando com essa crença absurda era real e imediato. Sem pensar duas vezes, agarrei Lizzie pelo braço e a empurrei contra a grade, segurando seu rosto contra as barras de metal.

Os zumbis imediatamente se animaram, suas mãos esqueléticas tentando agarrar a garota. Lizzie gritou, o pânico tomando conta dela.

— Se eles estão vivos, por que o medo? — Perguntei, minha voz fria e firme. — Deixa de ser louca.

Lizzie continuava gritando, pedindo socorro, seus olhos arregalados de terror. Finalmente, soltei ela, dando um passo para trás enquanto ela caía no chão, chorando.

— Eles estão mortos, Lizzie. Aceita isso. — Disse, tentando manter minha voz controlada, mas com um toque de raiva.

Mika olhava para a cena, seus olhos grandes e assustados, sem saber o que fazer. Dei as costas para as duas e comecei a me afastar, o peso da realidade pesando sobre meus ombros. As palavras de Lizzie ecoavam em minha mente, e eu sabia que, se ela continuasse com essa ilusão, seria um perigo para todos nós.

— Você precisa parar de assustar as crianças. — Carl diz assim que passo por ele.

— Claro, senhor idoso. — Respondo em deboche, e ele revira os olhos.

— Você tem que entender que eu e você passamos por muitas coisas e reagimos de formas diferentes. Elas devem ter uns treze anos e você tem quase dezessete. Tenta ser amável. — Ele me repreendeu, e eu cruzei os braços, olhando para ele.

— Quando você acordar e a prisão estiver lotada de zumbis porque ela deixou os amigos entrarem, a gente volta a conversar sobre as minhas atitudes. — Respondi, saindo de perto.

Carl não sabia o que era viver com a constante incerteza de quem ao seu redor poderia ser uma ameaça. Ele cresceu neste mundo sombrio, sim, mas sua inocência ainda não estava completamente destruída.

Enquanto me afastava, podia sentir o peso do olhar de Carl nas minhas costas. Ele queria que eu fosse mais gentil, mais compreensiva, mas como ser compreensiva com alguém que acreditava que os mortos estavam vivos?

Passei pelo corredor que levava à minha cela, tentando acalmar meus nervos. A prisão estava em um estado de constante alerta, sempre esperando a próxima ameaça, seja de zumbis ou de outros humanos. Precisávamos ser fortes, não podíamos nos dar ao luxo de sermos complacentes.

As palavras de Carl ecoavam na minha mente enquanto eu caminhava. Ele queria que eu fosse amável, mas a amabilidade não tinha lugar neste mundo cruel. Tentei pensar no que Maggie diria. Ela sempre tinha uma perspectiva mais equilibrada sobre essas coisas. Talvez Carl estivesse certo, pelo menos em parte. Mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de pensar na segurança de todos nós. Eu não podia perder mais.

Acordei sobressaltada com o som de vozes e passos apressados ecoando pelos corredores da prisão. Meu coração acelerou enquanto tentava decifrar a fonte da movimentação. Uma voz familiar se destacou no meio do burburinho, e meu coração deu um salto de esperança. Era Glenn. Ele havia voltado.

Sem hesitar, me levantei e corri em direção ao som. Meu coração batia descompassado, uma mistura de alívio e ansiedade. Quando avistei Glenn à distância, meu corpo se moveu mais rápido do que minha mente podia processar. Me lancei nos braços dele, sentindo a segurança e o conforto de seu abraço. Ele me apertou com força, e por um momento, acreditei que tudo ia ficar bem.

— Glenn! — Murmurei contra o peito dele, minha voz embargada de emoção.

— Isabella, estamos de volta. — Ele respondeu, sua voz carregada de cansaço e alívio.

Foi então que percebi o estado em que estavam. Michonne estava muito machucada, seus ferimentos evidentes e dolorosos. Rick estava sem uma das mãos, o que me fez prender a respiração de horror. A cena era devastadora, e ninguém ali parecia saber exatamente o que havia acontecido.

As pessoas se reuniram ao redor, ansiosas por respostas. Glenn, ainda segurando minha mão, começou a explicar, sua voz firme apesar do cansaço evidente.

— Encontramos uma cidade... — Ele começou, respirando fundo antes de continuar. — O líder se intitula governador. Ele é cruel e sádico. Tentou nos capturar, mas conseguimos fugir. Não sem perdas.

Meus olhos se arregalaram ao ouvir suas palavras. A ideia de outro líder tirano, ainda mais perigoso do que os perigos comuns do apocalipse, era aterrorizante.

— Ele cortou a mão do Rick. — Continuou Glenn, sua voz carregada de raiva e dor. — E quase matou Michonne. Mas conseguimos escapar. Estamos aqui agora. Estamos a salvo. Pelo menos por enquanto.

Olhei para Rick, que estava sendo amparado por outros membros do grupo, e para Michonne, que estava tentando manter a compostura apesar da dor evidente.

Olhei ao redor, vendo a expressão de choque e preocupação nos rostos de todos. Sabíamos que o perigo não estava apenas do lado de fora, mas também nas pessoas que encontramos pelo caminho.

Essa noite seria longa, cheia de cuidados e curativos, de planejamento e estratégias. Mas, mais do que tudo, seria uma noite de esperança, pois apesar de tudo, estávamos juntos, enfrentando o desconhecido lado a lado.

Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇsOnde histórias criam vida. Descubra agora