Deixara de ser uma de nós

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A noite estava fria, e a luz da lua filtrava por entre as árvores, lançando sombras sobre o chão. Daryl e eu estávamos no quintal da cabana, uma pá em suas mãos, jogando terra sobre o corpo sem vida de Mika. Seu rosto estava sério, perdido em seus pensamentos, enquanto o som da terra caindo parecia ser a única coisa que preenchia o silêncio angustiante entre nós.

Eu fiquei ali, observando, minha mente rodando em mil direções diferentes. Era difícil acreditar que chegamos a esse ponto, mas a realidade estava bem diante dos meus olhos. Mika estava morta, e Lizzie... Lizzie era um perigo para todos nós.

— Eu não vou fazer isso — Daryl finalmente disse, a voz rouca quebrando o silêncio. Ele parou de cavar, sua mão apertando a pá com força, o olhar fixo no solo como se buscasse respostas que não estavam ali.

Geralmente, eu diria algo para irritar ele, para provocar uma reação, mas dessa vez não. Dessa vez, eu estava tão perdida quanto ele. O peso do que precisávamos fazer pairava sobre nós, pesado e sufocante.

— Eu faço — falei, minha voz firme apesar do nó na minha garganta. Ele olhou para mim, surpresa e dor em seus olhos. — Não dá pra continuar assim, é perigoso.

Daryl abaixou a cabeça, respirando fundo, claramente lutando contra a maré de emoções que ameaçava transbordar.

— Isabella, eu... não sei se consigo. — Sua voz era quase um sussurro, e por um momento, ele parecia tão vulnerável quanto eu me sentia.

Caminhei até ele, colocando uma mão em seu ombro, tentando transmitir a força que mal conseguia encontrar em mim mesma.

— Eu sei que é difícil. — Minha voz tremeu, mas continuei. — Mas Lizzie está fora de controle. Ela pode machucar mais alguém. Não podemos arriscar.

Ele balançou a cabeça, os olhos fechados, e por um momento, pensei que ele fosse desmoronar ali mesmo. Mas Daryl era forte, e apesar da dor, ele sabia que eu estava certa.

— A gente não pode deixar ela viver desse jeito — continuei, tentando manter minha voz firme. — Se não fizermos algo agora, mais pessoas vão morrer. Você, eu, a Judith, não é mais uma opção.

Daryl abriu os olhos, encontrando os meus, e por um segundo, vi a determinação retornar. Ele assentiu lentamente, entendendo a gravidade da situação.

— Tá... — disse ele, a voz mais firme agora. — Mas você não vai fazer isso sozinha.

— A gente faz juntos, então — respondi, sentindo um alívio amargo ao saber que ele estava ao meu lado nessa decisão terrível.

Terminei de cobrir o corpo de Mika, e juntos, voltamos para a cabana. Lizzie estava sentada no canto, abraçando os joelhos, murmurando para si mesma. O contraste entre a imagem inocente dela e a realidade brutal que tínhamos que enfrentar era quase insuportável.

— Lizzie — chamei, tentando manter a voz suave. — Preciso que venha comigo, tá?

Ela levantou os olhos, confusa, mas não resistiu. Peguei sua mão, sentindo o frio e a fragilidade dos finos dedos, e a levei para fora, com Daryl nos seguindo de perto.

O frio da madrugada cortava a pele, e o silêncio da floresta era interrompido apenas pelo som de nossos passos sobre as folhas secas. Caminhávamos em direção a um ponto afastado, longe da cabana, longe da segurança que havíamos construído precariamente. Lizzie nos seguia, seus olhos confusos, mas ela não dizia nada.

Finalmente, paramos em uma pequena clareira. O céu começava a clarear, anunciando o amanhecer. Peguei a mochila e a joguei aos pés de Lizzie, meu coração apertado de angústia.

Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇsOnde histórias criam vida. Descubra agora