Órfã

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Um ano se passou desde o acontecimento no celeiro, mas as feridas ainda estavam longe de cicatrizar. A tensão entre nós e Hershel aumentava a cada dia, sua insistência em nos expulsar da fazenda era um constante lembrete de que não éramos bem-vindos ali. No entanto, nós recusávamos a sair, determinados a lutar pelo nosso lugar e pela nossa sobrevivência.

Meu pai, Shane, estava cada vez mais distante. Sua mente parecia estar em outro lugar, e eu podia sentir a frustração e a confusão que o consumiam. Lori, por sua vez, agia de maneiras que deixavam a mente de Shane ainda mais confusa.

Algumas semanas atrás, eu os peguei em uma situação íntima, uma cena que mudou tudo. Descobrir que Lori e Rick estavam afastados me deixou tensa, a ideia de que Rick poderia expulsar meu pai do grupo ao descobrir do caso dele com Lori. A tensão entre eles era enorme, carregada de segredos e ressentimentos que ameaçavam estourar a qualquer momento e tudo piorou quando Lori engravidou.

Por mais que Rick tivesse assumido aquele filho que viria como filho dele, eu sabia que não era, aquela criança seria minha irmã ou irmão mas eu preferia deixar tudo como estava ou pelo menos evitar qualquer confusão que nós deixasse sem lar.

A atmosfera na fazenda estava carregada de tensão e desespero. A decisão de Hershell de nos expulsar apenas exacerbou as tensões já existentes entre nós. Meu pai, Shane, estava se tornando cada vez mais distante e instável. Sua frustração e raiva transbordavam para todos ao seu redor, incluindo eu. Era difícil reconhecer o homem que costumava ser meu pai, agora perdido em um turbilhão de emoções conflitantes.

Enquanto isso, Rick também estava diferente. Sua postura anteriormente firme e confiante havia sido substituída por uma aura de hesitação e dúvida. A pressão do grupo e a responsabilidade de liderança pesavam sobre ele, deixando ele vulnerável às manipulações e influências externas.

Em uma noite particularmente sombria, quando saí para respirar um pouco de ar fresco, acabei ouvindo uma conversa entre Rick e Lori na cabana deles. As palavras de Lori cortaram o silêncio da noite, carregadas de manipulação e urgência.

— Você fez isso porque queria proteger nossa família? — perguntou Lori, sua voz carregada de ansiedade. — O Shane acha que eu sou dele. Ele acha que o bebê é dele. Ele é perigoso, Rick. Ele não vai parar

Ouvir aquelas palavras me deixou com um nó na garganta. Era evidente que Lori estava manipulando Rick, jogando com seus medos e incertezas para alcançar seus próprios objetivos. A ideia de que ela estivesse usando Rick como uma peça em seu jogo de poder era perturbadora.

Enquanto eu me afastava da cabana, incapaz de intervir ou fazer qualquer coisa para mudar a situação, senti um peso crescente em meu peito. A divisão dentro do grupo estava se tornando cada vez mais evidente, e eu me perguntava se algum dia seríamos capazes de superar essas tensões e encontrar a unidade que tanto precisávamos para sobreviver neste mundo implacável.

A situação era delicada e tensa. Rick havia salvado um garoto de um grupo inimigo, um ato de compaixão que gerou uma série de complicações. O fato de o garoto conhecer Maggie e, portanto, poder revelar nossa localização aos inimigos, colocava todos nós em risco iminente.

Shane estava determinado a resolver o problema da maneira mais direta e brutal possível: matando o garoto para evitar qualquer possibilidade de vazamento de informações. Sua abordagem era movida pela urgência e pelo desejo de proteger o grupo a todo custo, mesmo que isso significasse sacrificar vidas inocentes.

Por outro lado, Rick resistia à ideia de matar o garoto, se apegando a seus princípios de humanidade e compaixão, mesmo em tempos tão sombrios. Ele via uma oportunidade de redenção e reconciliação, uma chance de mostrar que a bondade ainda podia prevalecer mesmo no meio do caos.

A discordância entre Shane e Rick criou uma tensão palpável dentro do grupo, alimentando conflitos e dividindo opiniões. Cada lado defendia sua posição com fervor, sem ceder um centímetro sequer.

A movimentação no acampamento era intensa enquanto nos preparávamos para enfrentar o rigor do inverno. Seguíamos as instruções meticulosas de Rick, organizando suprimentos, reforçando abrigos e garantindo que tivéssemos tudo o que precisávamos para sobreviver aos meses que se aproximavam.

Em meio aos preparativos, encontrei Carl, e aproveitei o momento para conversar com ele sobre a morte de Dale. Segurei suas mãos e olhei nos olhos dele com sinceridade.

— Carl, não é culpa sua — disse, tentando transmitir conforto e compreensão. Ele me abraçou com força, buscando consolo em meio à dor e à confusão.

Enquanto a noite caía sobre nós, um novo desafio surgiu quando Shane apareceu com notícias preocupantes: Randall, o garoto que estava sob nossa custódia, havia escapado. Antes que meu pai pudesse se levantar para procurar ele, Shane se abaixou diante de mim e depositou um beijo suave em minha testa, um gesto de afeto que me surpreendeu.

— Eu te amo, você sabe, não sabe? — disse ele, seu olhar cheio de ternura.

Fiquei momentaneamente sem palavras diante daquela demonstração de carinho inesperada.

— Eu também te amo, pai. Está tudo bem? — perguntei, preocupada com a expressão séria em seu rosto. Ele sorriu, me tranquilizando com sua resposta, antes de se levantar e se afastar.

Carl e eu ficamos juntos, observando a cena à distância. Decidimos dar uma volta para clarear a mente, mas nosso momento de tranquilidade foi interrompido quando avistamos Shane e Rick em uma discussão acalorada. Meu pai parecia fora de si, e o clima tenso no ar indicava que algo grave estava prestes a acontecer.

— Pai?— Eu chamei assim que vi o corpo de Shane cair sobre o chão.

—Eu... não é o que vocês estão pensando.— Rick levantou assustado olhando para nós dois.

Eu caminhei até o corpo do meu pai e ajoelhei ao lado dele, sentindo as lágrimas caírem sobre o meu rosto, abracei ele com força enquanto sussurrava pedindo pra ele voltar.

— A gente vai embora, a gente acha uma casa e vive por lá, não me deixa sem você, a gente esquece tudo e vamos ser felizes, eu e você. — Sussurrei, as lágrimas rolando pelo meu rosto enquanto me agarrava ao meu pai. Foi quando ouvi um som estranho vindo dele. Levantei meu olhar com um sorriso esperançoso, acreditando que ele fosse ficar bem. Mas então, ele me puxou e percebi que estava zumbificado, tentando me morder.

Rick tentou me tirar dos braços de Shane, e eu me agarrei a ele com força, buscando segurança em meio ao caos. Foi quando um som de tiro ecoou pelo local, cortando o ar com uma intensidade assustadora. Olhei na direção do som e vi Carl, firme e determinado, encerrando de vez aquele pesadelo com um único disparo.

Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇsOnde histórias criam vida. Descubra agora