Não aceito

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Carl Grimes

Eu andava de um lado para o outro na sala de Hilltop, sentindo a tensão se acumular em cada fibra do meu corpo. Maggie já estava melhor, apesar do trauma e do nervosismo que passou. Ela estava deitada em uma cama próxima, ainda fraca, mas recuperando-se. Glenn estava sentado no sofá, as pernas tremendo enquanto esperava por notícias de Isabella.

A espera parecia interminável. Cada segundo que passava aumentava a minha ansiedade. Finalmente, a porta da sala se abriu, e o médico entrou. Parei abruptamente, meus olhos fixos nele. O médico respirou fundo antes de falar.

— Olha, os ferimentos dela foram leves, tirando a perna, que infelizmente está quebrada — ele começou, olhando para Glenn e depois para mim. — É algo que na idade de vocês se resolve rápido, mas na situação dela, temo que demore muito para recuperar.

— Situação dela? — perguntei, sentindo a confusão e a preocupação crescendo dentro de mim.

O médico franziu a testa, parecendo surpreso. — Ela não falou com vocês ainda? — ele perguntou, olhando de mim para Glenn.

Troquei um olhar preocupado com Glenn. Nenhum de nós entendia aonde o médico queria chegar.

— A Isabella tem leucemia — ele disse finalmente, sua voz pesada com a gravidade da revelação.

O mundo pareceu parar por um momento. Senti como se tivesse levado um soco no estômago. Olhei para Glenn, que parecia igualmente atordoado.

— Como assim? — murmurei, tentando processar a informação. — Como... como isso é possível?

— Ela não queria que vocês soubessem — o médico explicou, seu tom suave. — A Isabella foi diagnosticada há algum tempo. Ela tem lutado contra a doença, mas não quis preocupar ninguém.

Glenn balançou a cabeça, os olhos cheios de lágrimas. — Minha menina... — ele sussurrou, a voz quebrada pela emoção.

Me sentei, a força deixando minhas pernas. Tentei lembrar de algum sinal, alguma indicação de que Isabella estava doente, mas nada vinha à mente.

— E agora? O que fazemos agora? — perguntei, a desesperança evidente em minha voz.

— Vamos cuidar dela o melhor que pudermos — o médico disse, colocando uma mão reconfortante no meu ombro. — Ela é forte, e não está em um nível avançado, se tivéssemos o tratamento certo, aposto que ela conseguiria mas mesmo assim, ela está tomando remédios.

Assenti, embora a preocupação ainda me consumisse. Levantei determinado a ficar ao lado de Isabella, não importa o que acontecesse. Ao entrar na sala onde ela estava, vi Isabella deitada, pálida, mas consciente. Quando ela me viu, um sorriso fraco apareceu em seus lábios.

— Ei — ela disse suavemente, sua voz fraca, mas cheia de carinho.

Me aproximei segurando sua mão. — Por que não me contou? — perguntei, a dor evidente e ela desviou o olhar.

— Eu não queria ser a coitada.—  Ela respondeu, cheia de orgulho, sempre esse orgulho. — Eu não queria morrer sendo tratada como inválida.

—A gente podia procurar recursos, procurar aqueles aparelhos de quimioterapia, tudo.— Eu não queria perder a esperança, sabia que tinham muitos lugares que ainda tinham energia como hospitais abandonados.

— Eu não quero, Carl. Eu quero aproveitar você, meus pais e morrer em paz. — A raiva me consumiu, eu me levantei largando a mão dela.

— Como você pode ser tão egoísta? — soltei, sem conseguir me conter.

— Egoísta? — Isabella retrucou, sua voz se elevando um pouco, apesar da fraqueza. — Eu estou tentando proteger vocês. Não quero que gastem recursos e arrisquem suas vidas por algo que pode nem funcionar!

— Proteger a gente? — repeti, incrédulo. — E se dar por vencida é a sua maneira de proteger? Você não entende que a gente te ama, que precisa de você?

— E você acha que eu não sei disso? — ela gritou de volta, lágrimas nos olhos. — Eu sei, Carl. Mas eu também sei que estou morrendo. Prefiro passar o tempo que me resta com vocês, em vez de lutar uma batalha que já perdi.

As palavras dela me atingiram como um soco no estômago. Eu queria argumentar, mas a dor e a frustração eram esmagadoras. Sem saber mais o que dizer, saí da sala, batendo a porta atrás de mim.

Caminhei para fora, o ar fresco da noite fazendo pouco para acalmar a tempestade dentro de mim. Me senti impotente, incapaz de ajudar a pessoa que mais amo. E, acima de tudo, me senti traído pelo destino cruel que nos havia dado tão pouco tempo juntos.

O caos dentro de mim transbordava, e a única coisa que eu sabia era que precisava fazer algo. Peguei minhas armas e coloquei meu chapéu na cabeça, como se aquilo pudesse me dar a coragem e a força que precisava. Saí de Hilltop decidido, ignorando os olhares preocupados de Maggie e Glenn. Peguei um dos carros de Alexandria estacionados na frente do local e dirigi sem rumo, uma busca suicida em mente.

Horas passaram enquanto eu dirigia, o peso da minha missão me empurrando para frente. Finalmente, encontrei um hospital abandonado. Vasculhei cada canto, cada sala, determinado a encontrar algo que pudesse ajudar Isabella. A sorte, irônica e cruel, me fez encontrar remédios para quimioterapia via oral e soro para intravenosa. Recolhi tudo, colocando os frascos em um balde com gelo, torcendo para que o líquido não estragasse.

Ao sair do hospital, percebi o quanto estava longe. O sol começava a se pôr novamente, e eu sabia que precisava voltar rápido. Dirigi até Alexandria, o coração pesado, mas com uma centelha de esperança. Ao entrar, fui confrontado com uma cena que congelou meu sangue.

Negan e seus salvadores estavam lá, coletando seus "impostos". Ele me viu e sorriu, aquele sorriso cruel que eu conhecia tão bem.

— Vai ter que me matar pra pegar o que trago comigo. — Desafiei, minha voz carregada de raiva e determinação.

Negan arqueou uma sobrancelha, intrigado, e fez um sinal para seus homens me segurarem enquanto ele olhava o conteúdo do balde. Seu sorriso desapareceu assim que viu o que era.

— Pra quem é isso? — Sua voz tinha um tom diferente, quase humano, que me pegou de surpresa.

— Pra Isabella, lembra dela? Da garota que você quase matou de tanta porrada? — Respondi com raiva, minha voz tremendo.

Negan ficou em silêncio por um momento, a expressão em seu rosto mudando para algo que eu nunca tinha visto antes. Havia uma mistura de surpresa, talvez até arrependimento.

— Merda... — Ele murmurou, passando a mão pelo rosto. — Não sabia que ela estava doente.

A raiva borbulhava dentro de mim, mas havia também um vislumbre de curiosidade. Por que Negan, de todos, mostraria algum tipo de remorso?

— E isso muda alguma coisa? — Perguntei, desafiador.

Negan olhou para mim, seus olhos endurecendo novamente. — Leve isso pra ela. E diga que... — Ele hesitou, procurando as palavras certas. — boa sorte, garoto.

Fiquei ali, atônito, enquanto ele dava ordens para seus homens me soltarem. Peguei o balde com gelo e as medicações, sentindo uma mistura de alívio e confusão.

Uma batalha contra os pensamentos que giravam em minha mente. Negan, o homem que eu odiava mais que qualquer um, havia mostrado uma fração de humanidade. E agora, tudo o que eu podia fazer era esperar que Isabella aceitasse se tratar.

Runners •ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇsOnde histórias criam vida. Descubra agora