2 - "Maybe I'm the best mistake you ever made"

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Dazai voltou à pé para o apartamento 3B. Por sorte, por causa do horário, ninguém incomodou os dois.

O céu de inverno caía rápido do azul escuro para o preto sem estrelas, quando Dazai passou pelo hall de entrada e cumprimentou o senhorio.

"Seu amigo não devia beber tanto." — o homem comentou em tom preocupado, fungando com o cheiro de gim.

"É o que vivo dizendo pra ele." — Dazai concordou alegremente.

Ele subiu os lances de escada com certa dificuldade. Kenji, brincando com o carrinho, viu os dois passarem e correu atrás, curioso.

"O que aconteceu com seu amigo, senhor Dazai?" — ele perguntou. Dazai não questionou como ele sabia seu nome, fantasmas tinham uma forma misteriosa de descobrirem tudo.

"Sedentarismo é um perigo mortal, Kenji." — Dazai falou em meio a arfadas e o braço direito dormente com o peso do vampiro.

A chave girou e a maçaneta baixou, abrindo caminho para Dazai jogar a criatura no seu sofá. O vampiro nem mesmo fez menção de acordar.

Kenji seguia cada passo de Dazai conforme ele ia do banheiro para a porta da frente e das janelas para a cozinha. Se tivesse um corpo sólido, Dazai teria tropeçado nele umas mil vezes.

Tudo pronto, Dazai desabou na poltrona de encosto alto, que tinha o mesmo tom chumbo do sofá.

Minutos se passaram. Quase uma hora depois, Dazai folheava o jornal, satisfeito por ter encontrado pelo menos alguns casos de "ataque animal" que poderiam ser pistas do seu caso. Dazai soltou o ar pelo nariz, humorado pelo fato de mundanos atribuírem tudo que não entendiam à ataques de animais.

Um grunhido dolorido foi ouvido. Dazai levantou apenas os olhos castanhos do jornal para ver o vampiro girando no sofá.

O cabelo ruivo arrastou e bagunçou na almofada, o corpo se moveu ligeiramente e tremeu em dor. As pálpebras apertaram com força antes de se abrirem.

Kenji se apoiou no braço da poltrona, encarando.

"Kenji, nos dê um momento. E garanta que teremos privacidade." — Dazai mandou. Não teve a oportunidade de ver Kenji disparando para fora, porque ao som de sua voz o vampiro sentou de supetão.

Apesar da posição de ataque, suas presas não apareceram. Ainda carregava o instinto de atacar como um mundano, e não como um vampiro.

"Aproveitou seu cochilo?" — Dazai falou, dobrando o jornal.

O vampiro não usou palavras. Ele saltou do sofá e disparou em direção a Dazai, pronto para atacar. Ou pelo menos, Dazai imaginou que essa era sua intenção. Apesar da velocidade, ele evidentemente ainda não sabia controlá-la. Era como assistir um filhote de cachorro aprendendo a andar. Bateu o ombro na parede. Tombou sobre a outra poltrona. Derrubou um abajur e como um todo, não chegou perto de arranhar Dazai.

"Precisa de ajuda?" — Dazai ofereceu.

"Maldição!" — o vampiro berrou. Ele caiu sentado contra a parede da janela — "O que quer comigo?"

"Meu nome é Osamu Dazai-"

"Eu tô pouco me fodendo pra quem você é! O que quer comigo?" — repetiu.

Dazai foi depositar o jornal na mesinha, mas ela já tinha sido atacada rudemente por um filhote de vampiro feroz e os restos mortais do abajur se espalhavam pelo assoalho. Dazai deu um suspiro.

"Quero fazer três perguntas." — falou, direto e cru — "Depois, você estará livre para ir embora."

Nuvens ralas passavam vagarosamente em frente a lua, tornando sua luz prateada trêmula e sinistra, pintando o interior do apartamento como um lago congelado cheio de sombras.

What The Dead WhisperOnde histórias criam vida. Descubra agora