23 - "No grave can hold my body down"

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Dazai sentia falta de quando sua vida era calma.

Planejar assassinatos, batalhar contra fantasmas de garras afiadas, barganhar com um ninho de vampiros hostis, nunca causaram em si tamanha agonia. Um sentimento engraçado de... medo. Dazai não sentia medo há anos.

Ver Chuuya Nakahara estirado numa poça de sangue, imóvel e flácido tal qual um cadáver comum, mexeu com o âmago da alma de Dazai. Da pior forma possível. De um jeito que jamais gostaria de sentir novamente.

"Chuuya, — Dazai atrapalhou-se para amparar a bochecha dele, erguendo sua cabeça do chão — consegue me ouvir? Está machucado?"

Era tanto sangue. Logicamente Dazai sabia que vampiros não se machucavam como mundanos, mas lógica parecia escapar de sua mente.

Ajoelhado no beco, ignorando o tecido da calça absorvendo o sangue e grudando em suas pernas, Dazai tirou a mão do rosto gelado de Chuuya e estava prestes a verificar a pele por baixo da camisa ensopada, quando as pálpebras de Chuuya se abriram e ele sentou-se de supetão.

"Não vá!" — Chuuya choramingou, as mãos se agarrando no pulso de Dazai e puxando-o de volta para tocar sua bochecha.

"Sshh." — Dazai se inclinou até apoiar a testa na dele — "Não vou a lugar algum. Prometo."

Dazai escorregou o polegar, acariciando a bochecha de Chuuya. E semelhante a um gato manhoso, ele se acalmou, se aninhando ao toque.

Os lábios de Chuuya estavam pintados pelo vermelho do sangue. Sangue esse que escorria pelo queixo e pingava como a mais bela cachoeira no chão.

"Tem um gosto tão doce." — sussurrou — "Mas não consigo me lembrar a quem pertencia."

"Está tudo bem." — Dazai usou a mão livre para retirar um lenço do bolso e tentou limpar o excesso. O lenço ficou arruinado mas as sardas reapareceram — "Você pode descansar agora, Chuuya."

Ele assentiu, as pálpebras pesando toneladas. A cabeça pendeu para frente, escorregando pelo rosto de Dazai até apoiar-se em seu ombro.

Dazai ajustou-o de modo que ficasse encostado nele mais confortavelmente. Com um braço sob os ombros e outro atrás dos joelhos, levantou-se com ele no colo.

Ficou parado ali, com o peso de Chuuya em seus braços, de repente sendo assaltado por lembranças.

Duas pessoas lutando em um beco. O som seco de ossos se partindo. O primeiro vislumbre de cabelos laranjado-lava.

Era o mesmo beco. O mesmo lampião lançando luz e sombras nos contornos dos corpos deles. O lugar continuava o mesmo, intocado pelo tempo e alheio ao elo criado entre dois homens.

Chuuya esfregou o rosto contra seu paletó, os dedos agarrados no tecido, mesmo em sonho, temendo que Dazai desaparecesse.

Em sua forma mais corrupta, Dazai não podia deixar de pensar o quão lindo ele era.

"Kenji, — chamou — pegue meu casaco, sim?"

O menino materializou-se ao seu lado, provido pelo comando foi capaz de retirar o casaco dos ombros de Dazai e extendê-lo sobre o corpo de Chuuya, escondendo o sangue de olhares curiosos e deixando apenas o cabelo de fora.

"Obrigado." — Dazai falou e Kenji o acompanhou no trajeto de volta à pensão.

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Os fantasmas caíram em silêncio quando Dazai levou Chuuya para dentro.

Depois da sala com papel de parede descascando e depois da cozinha com a janelinha com vista para a fachada de tijolos do prédio ao lado, o banheiro era um recinto estreito e desinteressante.

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