22 - "There's rotten things left in me"

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Nota da Autora: Esse capítulo não tem uma narrativa linear. Eu tentei deixar o mais confuso possível p ilustrar o estado feroz do Chuuya

༄✦༄

ℭ𝔥𝔲𝔲𝔶𝔞

Pela primeira vez em muito tempo estava frio.

Não os lindos flocos de neve dançando suavemente. Não o aconchego do nariz ficando vermelho e as mãos aquecidas pelas luvas.

Não.

Doía. Como agulhas. Agulhas envenenadas. Envenenadas com acônito. O frio se agarrava nas roupas molhadas, penetrava na pele, se enroscava nos ossos e se recusava a sumir.

A cidade que o viu crescer já não era um lar. Um labirinto. Ruas demais. Luzes demais. A noite se derramava como tinta do céu, trazendo consigo estrelas difusas, ofuscantes.

Os olhos de Chuuya berravam de agonia. Tentando fugir de seu devido lugar e deixar concavidades ocas para trás.

Chuuya não tinha pés. Parecia não ter. Os passos mais leves que pluma. Dormentes dos joelhos para baixo.

Seguindo em frente. Sempre em frente. Sem nunca olhar para frente.

"Olhem, rapazes, o cavalheiro parece estar perdido." — vozes desconhecidas e indesejadas. Surgiam das ruas desertas. Da neve impiedosa.

As mãos de Chuuya voaram para os ouvidos. Por que eles gritavam?

Um erro. Um erro grave.

Esbarrou em um corpo morno. Um coração batendo com vida. Foi empurrado para trás, cambaleando até esbarrar as costas em outro alguém. Será o mesmo? Eram muitos corações. Muita vida espreitando sua morte.

"Esvazie os bolsos e ninguém se machuca." — outra voz ordenou. Alto demais. Ensurdecedor.

Um erro. Um erro grave.

"Ele quer bancar o herói." — mais vultos se materializavam. Cercando-o.

"Você sempre foi desobediente."

Chuuya apertou os olhos até as estrelas do céu caírem. Quando abriu-os novamente a imagem diante de si o fez vacilar.

Uma figura. Um homem. O mesmo terno cinza. A mesma postura tranquila.

"Instigador de motim." — N sibilou — "Um monstro em pele de criança. Devia ter morrido nas ruas."

Chuuya baixou as pálpebras. E a besta escalou por sua garganta.

Mordendo e rasgando tudo em seu caminho. Dilacerando o que tentavam esconder de si.

Caiu em um rio. A água morna e densa. Se afogou na correnteza escarlate. Lutou por fôlego que não precisava mais. Pulmões secos e silenciosos.

Garras cravaram no solo, obrigando a terra a sangrar. Botando-o de volta em pé.

E era bom. Era doce. Era um banquete insuficiente.

Chuuya estava ajoelhado na neve. Abraçando uma cabeça desconhecida. Choramingando. Frustrado por não provar o que realmente queria. O que ansiava no âmago.

Dazai. Dazai. Dazai.

Sangue. O sangue de Dazai. Apenas um gostinho e Chuuya foi arruinado. Despertou a fera dentro dele. Fez a sede de sangue o devorar por dentro como um animal selvagem lutando para sair.

Era delicioso. Era doloroso. Era tudo o que Chuuya imploraria para ter.

Chuuya era um pecador rastejando pelas escadas da salvação e Dazai era o Demônio que o encantou.

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