ℭ𝔥𝔲𝔲𝔶𝔞
Chuuya quebrou o cadeado do portão.
O terreno estava bem cuidado. Não havia lama ou buracos grotescos. Neve derretia na grama bem aparada. Sem flores. Sem balanços. Sem brinquedos à vista.
Uma única árvore. Tão alta que seus galhos secos criavam uma espécie de cúpula para as plantas ali embaixo.
Fora aquela árvore mesmo que Chuuya tentou escalar uma vez. Uma criança aventureira. Encorajando os amigos a se divertirem entre as tarefas do dia.
Um escorregão e Chuuya despencou. Ficou deitado lá, sem fôlego. A visão entrando e saindo de foco. Sentiu algo molhado atrás da cabeça e pensou ter caído numa poça d'água. Era sangue. E quando tentou se levantar, soltou um grito de dor.
Seu braço estava quebrado. O osso cutucando a carne, tentando sair. Dor lacinante rastejava do braço para o restante do corpo e Chuuya desmaiou.
Nenhum dos cuidadores do Orfanato Arahabaki veio em seu socorro. Lhe deram um sermão pela atitude desordeira e então viraram as costas.
Foram as crianças que ajudaram a enrolar um lençol velho no braço de Chuuya, para que o osso não se deslocasse. E no dia seguinte, foi punido por não conseguir fazer suas tarefas corretamente com apenas um braço.
Chuuya estremeceu com as lembranças.
Ao seu lado, era a primeira vez desde que se conheceram, que Dazai estava em completo silêncio.
Gotas de acônito manchavam o assoalho da varanda. O cheiro reconhecível para qualquer vampiro.
A porta estava trancada. A fechadura enferrujada por centenas de mãos usando-a dia após dia.
"Tenho um arame." — Dazai já foi enfiando as mãos nos bolsos, procurando.
Mas Chuuya não esperou. Ele deu um chute, arrancando a porta das dobradiças e a maçaneta rolou para longe com um clangor metálico.
"Ou podemos anunciar nossa chegada para o mundo inteiro." — Dazai resmungou.
Um grito apavorado atravessou a propriedade.
Chuuya se impulsionou para correr até a origem do som.
"Espere!" — Dazai gritou tarde demais.
Chuuya colidiu contra uma parede invisível. Nem mesmo um fio de cabelo se botando para dentro do orfanato. A força do baque o jogou tão violentamente para trás que Chuuya bateu a cabeça numa das colunas góticas que circundavam a varanda.
Certo, mais uma regra estúpida que vinha com o vampirismo.
"Eu os jogo pela janela para você." — Dazai alertou, e entrou correndo, desviando dos restos da porta.
Infelizmente, não foi longe.
Chuuya se pôs de pé com um pulo ao ver Dazai voltar com as mãos para o alto. Andando bem devagar, de costas para Chuuya. Os olhos na pistola apontada para seu peito.
Chuuya foi acometido por uma imobilidade entorpecida.
Seus ouvidos não ouviam e seus braços não respondiam a comandos. Seus olhos eram os únicos vivos. Fixos.
Obrigados a registrarem a imagem que era um homem surgir do corredor lateral da mansão, um braço firme segurando a arma.
"Você chegou ao destino final de sua jornada." — disse N. O mesmo terno cinza. A mesma postura tranquila — "Mais um passo e eu atiro."
Chuuya engoliu o terror. Forçou-o garganta abaixo como uma bola de aço incendiada.
"Acredita mesmo que essa coisa vai funcionar comigo?"
VOCÊ ESTÁ LENDO
What The Dead Whisper
FanfictionNa Era Vitoriana, Osamu Dazai é um assassino de aluguel. Quando seu mais novo trabalho o leva de volta à sua cidade natal, ele conhece Chuuya Nakahara, um vampiro novato que busca vingança contra o tão famoso Vampiro Demônio. Em uma história de mist...