16 - "What about all the broken happy ever afters?"

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"Qual foi a primeira coisa que vocês comeram, quando acordaram da transformação?" — Jun'ichirō perguntou.

Aproveitando a calmaria da patrulha noturna, Chuuya, juntamente com Jun'ichirō e Kyōka, visitaram o Mercado Oculto. E dois deles saíram com sanduíches sangrentos da barraca dos Orcs.

Chuuya ainda sentia náuseas só de olhar para qualquer prato que aparentasse mundano, e teve que se desculpar com um Orc ofendido por negar sua comida.

Agora eles retornavam às rondas. Não estava nevando. Mas a julgar pela camada finíssima de gelo cristalino nos corrimãos, janelas e calçadas, o frio alcançara um extremo novamente.

"Um cervo." — Chuuya respondeu.

Durante sua vida toda, Chuuya esteve acostumado a nunca ficar de barriga realmente cheia.

No orfanato, a comida era distribuída de acordo com o quanto você trabalhou no dia. Limpando banheiros e arrancando ervas do jardim. E na rua, Chuuya comia o que encontrava por sorte. E sempre dividia com Shirase e os outros, garantindo que todos ganhassem, pelo menos, uma mordida.

Era extraordinário de pensar que virar uma criatura meio-morta tenha solucionado a fome de Chuuya.

"Algumas culturas dizem que cervos simbolizam renovação cíclica." — Kyōka falou. O vento soprou seus longos cabelos, negros como a asa de um corvo — "Na minha época, Stoker ainda não tinha o banco de sangue, então Madame Kouyou me levou para uma pequena vila. Ela queria que eu aprendesse o modo adequado de caçar, desde o primeiro dia. Bebi de um homem bêbado."

O vazio de pedestres fazia tudo parecer uma cidade fantasma. O barulho dos passos na estrada assustou um morcego que voou do alto de um prédio. O primeiro movimento vivo.

"No entanto, — Kyōka prosseguiu — Madame Kouyou não foi capaz de me afastar dele. Eu matei o homem."

Ela se calou, perdida em pensamentos.

"Um vampiro faminto é uma criatura muito perigosa." — Kyōka sussurrou.

Houve um minuto de contemplação. O inverno sussurrava em suas orelhas e fugia ao não ser capaz de afetar os três vultos solitários na rua de pedra.

"E quanto a você, Jun'ichirō?" — Chuuya perguntou.

Jun'ichirō dera a última mordida no sanduíche.

"Mordi um casal de conhecidos." — deu de ombros, usando um lenço para limpar a boca — "Também não parei a tempo."

"Sinto muito."

"Não sinta. Eles não eram mundanos bons."

Passaram diante de uma loja antiquada de espelhos emoldurados em prata e Chuuya viu ali dezenas de reflexos dos olhos avelã de Jun'ichirō, banhados em um brilho de fúria súbita. Era uma expressão chocante de se ver em um rosto tão jovem e delicado.

De repente, Jun'ichirō estancou no lugar.

"Ouço um Oculto na ponte." — sussurrou, em alerta — "Acham que pode ser a Vampira Demônio esperando uma vítima?"

Chuuya também parou para ouvir.

Uma pedrinha atingindo a água. Um suspiro vivo e morno. Uma bandagem desenroscando do pulso e roçando no casaco longo. Dedos ajeitando-a no devido lugar. Um coração viçoso, batendo numa harmonia nunca quebrada.

"É só o Dazai." — Chuuya falou, relaxando os músculos que tensionaram em expectativa de uma briga.

"Como pode saber à essa distância?" — Jun'ichirō perguntou, surpreso — "Pensei que Madame Kouyou estava ajudando-o em sua dificuldade com a audição."

What The Dead WhisperOnde histórias criam vida. Descubra agora