1 - "Nothing's certain but death and taxes"

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Certa vez, alguém disse para Dazai que cometer assassinato enquanto o dia ainda está claro, é puro amadorismo.

Dazai então matou essa pessoa sob o sol do meio-dia. Afinal, se você se apoia no manto da noite para trabalhar, isso significa que não é muito bom no que faz.

"Estou entediado." — disse Dazai em voz alta. Ele soltou um profundo suspiro, atraindo atenção das outras mesas — "Vocês estão entediados?" — perguntou a um dos senhores, que assentiu hesitante — "Então me deixem contar uma história."

Dazai pulou do assento.

A casa de chá era bonita de se ver. Toda pitoresca. Mesinhas redondas cobertas por toalhas de renda. Conjuntos de xícaras de chá de porcelana, pintadas à mão. Pires com biscoitos em formato de gatinhos.

Dazai saltitou até o pequeno palco, recebendo olhares de todos os fregueses. Era um estabelecimento pequeno e exclusivo. Naquela tarde, recebiam um grupo seletivo, um clube da alta sociedade.

"Era uma vez..." — Dazai começou. Ele checou seu relógio de bolso e de canto de olho notou a dona da casa de chá trancar as portas, assim como tinham combinado — "...uma família de xícaras. Eles viviam felizes no armário. Mas um dia, — Dazai rodopiou no palco, fazendo gestos dramáticos com as mãos  — um monstro horrendo, com dez dedos gordurosos e uma boca enorme, sequestrou o mais novo das xícaras."

O grupo o assistia com desinteresse humorado. Eles trocavam olhares entre si e bebericavam seus chás.

"O pobre xícarazinha foi torturado com água quente e um terrível, terrível gosto em chá." — Dazai balançou a cabeça em desapontamento — "A família de xícaras decidiu se vingar. Toda noite, eles se banhavam em veneno e todo fim de tarde na festa do chá, um grupo de desavisados bebia deles. Então eles todos morreram. Fim."

Dazai sorriu.

Um silêncio se estendeu.

"O que vocês acharam?" — Dazai instigou — "O final pareceu um pouco apressado. Não sou um contador de histórias," — ele riu consigo mesmo, balançando os ombros — "foi por isso que escolhi Mercenário como minha profissão."

Algumas testas franziram e cochichos começaram. As pessoas sentadas as mesas da frente, olharam ao redor, não sabendo se se tratava de uma piada. Eles tinham pago por um chá da tarde com entretenimento ao vivo. E Dazai não entretia o suficiente.

"De qualquer forma, — Dazai conferiu o relógio de bolso mais uma vez — não importa se vocês gostaram. Estarão todos mortos em alguns minutos."

Ele ergueu os olhos castanhos, a expressão animada evaporando como um sopro. O primeiro dos senhores, provavelmente o líder daquele grupo, ficou em pé num rompante. Ele bateu o punho na mesa e estava prestes a começar uma sequência de insultos, porém, quando abriu a boca, o único som que saiu foi seu engasgo com a própria saliva.

Ele tentou puxar o ar, mas seus olhos reviraram e seu corpo enorme e rico despencou para o chão como uma fruta podre que a árvore não quer mais.

A partir daí, uma sucessão de quedas aconteceu. Tombaram das cadeiras, se agarraram na toalha de mesa e puxaram toda a louça para o chão. Alguém caiu de cara na tortinha de limão.

Dazai cantarolou baixinho, checando os segundos. Se demorassem mais do que lhe foi prometido, ele poderia pedir seu dinheiro de volta. Mas duvidava que encontraria com facilidade o sujeito que lhe vendeu o veneno.

Dazai se esticou para espiar pela porta de vidro que levava à cozinha da casa de chá. Nem sinal da dona. Ela cumpriu seu lado do acordo e desapareceu. Dazai respeitava isso.

What The Dead WhisperOnde histórias criam vida. Descubra agora