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A Catedral era uma daquelas construções tão antigas e veneráveis que causava espanto toda vez que se botava os olhos nela. Assombrosamente bonita. Com torres tão altas e afiadas quanto presságios encontrados em pesadelos.
De costas para o púlpito e sob o olhar severo de dezenas de estátuas de anjos, Dazai assoviava uma melodia antiga e suave no silêncio.
Havia um único espectro na última fileira, usando túnica branca e rezando baixinho. Fantasmas eram perfeitamente capazes de flutuar no piso sagrado sem explodirem em chamas mas a maioria não se sentia confortável assombrando igrejas.
A porta maciça e dupla já estava aberta em toda sua glória quando Nathaniel Hawthorne e John Steinbeck surgiram nos degraus.
"Vocês demoraram." — Dazai comentou alegremente — "A carruagem estragou no caminho?"
"Senhor Dazai, mal posso expressar meu descontentamento em vê-lo." — Steinbeck parou ao alcançar a primeira fileira de bancos, tomando a decisão segura de se manter mais perto da saída do que de Dazai.
"Igualmente."
Nathaniel Hawthorne, que não usava batina naquela noite e sim um terno cinzento, falou:
"Aviso já que qualquer plano que julgue cheio de esperteza, não funcionará." — ele apanhou um pergaminho dobrado do bolso e girou entre os dedos ossudos — "No momento em que esta carta apareceu em minha porta eu soube que se tratava da obra do Diabo."
A neve soprou através da porta, puxando o cabelo acinzentado e a capa de Hawthorne para trás, como em aviso. Mas o Padre nem notou. Afundado demais em sua arrogância para perceber o perigo que corria.
O sorriso de Dazai se tornou ferino.
"Me considera o Diabo, Padre Hawthorne? Estou lisonjeado. Como descobriu, me pergunto? Foi a caligrafia?"
"Nenhum dos trabalhadores responsáveis pela reforma sabem ler ou escrever."
A mão apoiada nas costas de Dazai contraiu-se.
"Deveria cuidar melhor do povo, Padre." — Dazai avisou.
Hawthorne crispou os lábios, irresignado. Seus óculos refletiam o fogo trêmulo das velas, como se enxergasse as próprias chamas infernais.
"Lamento se causamos a impressão errada." — Steinbeck interveio — "Somos soldados do Senhor, não cordeiros. E se você continuar se metendo em assuntos que não lhe dizem respeito, nós o removeremos do caminho."
"Ouço muito esse aviso." — Dazai respondeu com uma pitada de tédio.
Hawthorne inclinou a cabeça, medindo-o de cima a baixo.
"Por que se importa tanto com os vampiros, filho da Morte?"
"Não me importo. Nem um pouco, na verdade." — Dazai sorriu — "Exceto por um vampiro."
A mão apoiada em suas costas se contraiu com mais força.
"Mas já basta de conversação." — Dazai bateu palma uma vez, o som eclodindo no teto abobadado da catedral — "Estou excitado em presenciar o desfecho desta noite. Steinbeck, perdoe minha ousadia, mas parte do acordo que fiz, é entregar Hawthorne sozinho."
A postura de Steinbeck ficou tensa.
"O que isso quer dizer?" — demandou.
"Chuuya." — Dazai sussurrou.
Escondido atrás de Dazai, usando a baixa estatura como vantagem, Chuuya apareceu. A velocidade vampírica o vinha com muito mais facilidade. Sem perguntas, sem hesitação. Chuuya correu direto para Steinbeck.
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What The Dead Whisper
FanfictionNa Era Vitoriana, Osamu Dazai é um assassino de aluguel. Quando seu mais novo trabalho o leva de volta à sua cidade natal, ele conhece Chuuya Nakahara, um vampiro novato que busca vingança contra o tão famoso Vampiro Demônio. Em uma história de mist...