6 - "I am creation, both haunted and holy"

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ℭ𝔥𝔲𝔲𝔶𝔞

O cenário diante de Chuuya era digno de uma pintura.

Nuvens se acumulavam no céu. Cinzentas e pesadas. A neve parara de cair há horas e a chuva chegava de mansinho. Espreitando. O cheiro da tempestade permeava a rua luxuosa que Chuuya se encontrava.

Portões altos de ferro preto torcido. A mansão era tão grande que mais parecia um palacete. O jardim magnífico de se ver. Uma imensidão de árvores de bordo japonês e espinheiros. O chão salpicado por folhas e pétalas, todas de um tom profundo de vermelho.

O palacete estava imóvel, como é de se esperar de construções, e ainda assim Chuuya se sentia observado. As janelas carregavam grades. E a porta de entrada era dupla, as duas abas pintadas de escarlate.

Então havia uma razão pela qual o cartão dizia que o nome do lugar era Instituto Escarlate.

Chuuya olhou para a caligrafia caprichada de Kouyou no cartão. Tinham trazido os corpos dos homens para este endereço mas Chuuya não ficou para ajudar a enterrá-los.

Sabia que essa era uma pista valorosa. Sabia que precisava falar com eles quando ressuscitassem. Chuuya oscilou um pouco. Parado no meio da rua. Encarando o portão aberto.

Podia se acostumar com o gosto do sangue. Podia focar na vingança contra a pessoa que o transformou. Mas no segundo em que era presenteado com a perspectiva de um instituto cheio de vampiros, se tornava mais real. Mais assustador.

No passado, esse seria o momento de respirar fundo para acalmar os nervos. Só que Chuuya não respirava mais. Carregava os pulmões no corpo, como um cadáver bem preservado, e no entanto, eram inúteis.

Com passadas largas, Chuuya atravessou o jardim e se pôs na varanda do Instituto. Raspou o punho na porta, duas vezes.

Apenas mais tarde perceberia como foi imbecil, afinal era um ambiente infestado de vampiros. Ouviram-no chegar há tempos atrás. Bater na porta era uma atitude obsoleta.

A porta da frente do Instituto Escarlate foi aberta. E um garoto estava parado à soleira.

Cabelo vivo como a mais madura laranja caía bagunçado ao redor dos olhos.

"Minhas desculpa- ah, quero dizer, geralmente as boas vindas aos novatos não são assim tão informais. Peço que perdõe a bagunça, senhor Nakahara." — um sorriso embaraçado brincava na boca dele e se afastou para abrir espaço a porta — "Entre, por favor."

O cheiro pesado de sangue se tornou cotidiano na vida de Chuuya mas ao entrar no Instituto, o aroma se forçou em suas narinas como nada antes. Havia um decantador fragmentado em mil cacos, por todos os cantos do chão. E sangue, denso e de um vermelho intenso, escorria pelo assoalho.

"Má hora?" — Chuuya se afastou para não sujar a bota de sangue.

O rapaz tropeçou, recolhendo o vidro com os dedos nus, a pele rasgando em meio à agitação.

"Pois é... é... um acidente infeliz." — se ajoelhou no chão mesmo, ensopando a calça de vermelho. Ao afastar o cabelo do rosto, deixou uma mancha de sangue no caminho da pele — "Estou um desastre hoje."

A simplicidade do foyer não escondia o requinte do lugar. Todas as paredes eram pretas, mas ao invés de tornarem o aposento sombrio, chamavam atenção para os azulejos preto e branco.

Um armário para pendurar casacos, com puxadores de ouro. O lustre imitando uma árvore morta, era de um deslumbre chocante. Uma pequena mesa carregava um vaso pintado à mão, parecendo tão caro que Chuuya nem sabia de que parte do mundo viera.

What The Dead WhisperOnde histórias criam vida. Descubra agora