14 - "Now here's a little pill, here's the truth"

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Para sua primeira refeição da noite, Dazai decidiu fazer um chá. Folhas torradas e água. O suficiente para manter um corpo ativo.

Saiu do calor da cama para o frio da cozinha sombria. O robe preto deslizando por um dos ombros e arrastando no assoalho do apartamento.

Mexendo languidamente o chá, numa xícara velha e lascada que encontrou no fundo do armário, Dazai inspirou fundo o aroma que veio com o vapor. Ainda estava meio sonolento.

Foi interrompido no meio de um bocejo quando sua porta foi aberta com um chute. O silêncio da noite sendo perturbado pela entrada dramática de um vampiro baixinho e irritante.

"Que odor horrendo é esse?" — Nakahara exclamou, atravessando o apartamento como se fosse o dono do lugar — "Cheguei a pensar que lhe encontraria morto e esse seria o fedor do seu corpo decompondo."

"Você tem uma mente muito sombria para alguém com o cérebro tão pequeno." — Dazai comentou e gesticulou a xícara — "É chá. Algumas pessoas chamam de um abraço numa xícara."

"E essas pessoas não possuem narizes?"

Dazai deu uma boa risada. Esfregou a mão enfaixada no cabelo bagunçado do travesseiro, os olhos piscando pesados.

Dazai deu a volta na mesa da cozinha e encurtou a distância entre eles. Inclinou o rosto para Nakahara, perto o suficiente mas sem tocar.

"Estivemos separados por tanto tempo." — ele provocou, um sorriso preguiçoso se abrindo nos lábios. Os olhos dos dois se encontraram e permaneceram ali. Incapazes de se afastar.

"Nada mais que dois dias." — Nakahara debochou e, no entanto, não se afastou. O queixo erguido.

"Não sentiu minha falta? Estou devastado."

"Cale-se." — quando os olhos dele desviaram dos seus não foram longe. Iris azuis deslizaram por toda a extensão do hematoma no rosto de Dazai. O arroxeado e o esverdeado de uma briga recente. Dazai notou seus dedos contraírem mas ele os escondeu no bolso ao invés de ceder ao desejo de tocar seu rosto — "Quero ver a coleção de crânios que você alega ter."

Chuuya Nakahara não era um homem de pedir, ele dava ordens.

Com um som de concordância rouco e sonolento, Dazai se enfiou no quarto e resgatou a caixa de baixo da cama.

Certa vez, Oda comentou que guardar os crânios num caixote de madeira lascada que encontrou no lixo de um restaurante, era desrespeitoso com os donos dos crânios. Dazai argumentou que eles não se importavam. Afinal, estavam mortos.

Ele colocou o caixote ao lado das outras tralhas já ocupando a mesa e se jogou em uma cadeira, não se importando com o robe aberto revelando sua camisola de linho fino.

O interesse de Nakahara era real. Detia de um cuidado profissional ao pegar um crânio e erguê-lo na altura do rosto, examinando cada curva do osso.

Ignorante ao fato de que seu toque despertou um fantasma. O dono do crânio surgiu no canto da cozinha, a forma tremeluzindo como giz borrado nas bordas. Dazai fez um aceno discreto com a mão, dispensando-o. O fantasma foi embora.

"Então, — Dazai enrolou ambas as mãos na xícara quente — que novidades você me traz, mon petit vampiro?"

Enquanto inspecionava cada um dos crânios da coleção, Nakahara narrou em perfeitos detalhes seu encontro com Ace e a visita ao clube Crime & Castigo.

Teve que pausar algumas vezes. A fúria arrancando sua capacidade de se expressar. Sendo bem sincero, usar mundanos como garrafas vivas de bebida era típico de Dostoevsky.

What The Dead WhisperOnde histórias criam vida. Descubra agora